Intercâmbio estudantil
Mão dupla
Destino favorito de bolsistas do Ciência sem Fronteiras, EUA criam programa que incentiva vinda de alunos americanos ao Brasil
Um em cada três alunos brasileiros que arrumaram as malas para estudar fora com uma bolsa do programa federal de intercâmbio Ciência sem Fronteiras teve os EUA como destino. Mas, por enquanto, é difícil encontrar norte-americanos nas universidades do Brasil.
Só 0,22% dos alunos matriculados no país vêm de fora, de acordo com o último censo do ensino superior. Poucos são dos EUA.
Esse cenário deve começar a mudar se um projeto lançado no ano passado pelo presidente Barack Obama der certo. Intitulado "100 Mil Unidos pelas Américas" ("100,000 Strong in the Americas"), é uma versão americana do Ciência sem Fronteiras.
A meta é, em 2020, ter 100 mil norte-americanos estudando em outros países do continente e 100 mil alunos das Américas matriculados nos Estados Unidos.
De acordo com Matthew Clausen, diretor sênior do programa, os recursos para os intercâmbios virão do governo, de empresas e de doações.
Até agora, 490 instituições de 28 países --incluindo Cuba-- já se inscreveram.
"Países como Brasil e México têm iniciativas próprias para promover intercâmbios que complementam o projeto. Isso mostra que todos concordam que a cooperação internacional é importante", diz Clausen à Folha.
ESFORÇOS
Os EUA não precisam de esforços para atrair estudantes. O país tem sete das dez melhores universidades do mundo, de acordo com o ranking Times Higher Education, e concentra 886 mil alunos de fora --que abastecem a economia americana com cerca de R$ 80 bilhões por ano.
Os brasileiros representam cerca de 1% desse total. De acordo com Carlos Nobre, presidente da Capes (uma das agências que gerenciam o Ciência sem Fronteiras) "os EUA continuarão sendo um país de destaque na parceria do programa."
Essa presença de brasileiros nos EUA tem sido um dos incentivos para escolha do Brasil como destino. O norte-americano Anthony Scott, que faz mestrado na Universidade Columbia, em Nova York, por exemplo, diz ter tido apoio de brasileiros quando decidiu estudar por aqui.
Ele está de malas prontas para estudar na FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo, a partir de agosto.
"Os brasileiros aqui nos EUA são muito simpáticos e têm me ajudado muito na preparação para essa viagem", conta, em português.
"A presença de brasileiros nas universidades dos EUA fez com que os americanos tivessem contato com um Brasil que eles não conheciam", explica Eduardo Rubini, 19, que estuda economia na Universidade de Chicago. "Eles viram que não somos uma república das bananas."