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Vamos ter comida para 9 bilhões?

Com a degradação dos recursos naturais não se sabe se o cultivo de alimentos acompanhará o crescimento populacional

BRUNA BORGES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que em 2050 o planeta chegue a 9 bilhões de pessoas e que seja necessário um aumento de 70% na produção de alimentos para suprir a população.

O desafio é ampliar a produtividade sem comprometer ainda mais as fontes de recursos naturais. Com as mudanças climáticas, a degradação dos rios e a disponibilidade de terra limitada, porém, não há segurança de que a meta seja alcançada.

Para o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), o que falta para atingir esse objetivo é a boa gestão dos recursos. Segundo a entidade, a produção do alimento é expressiva, mas parte dela é desperdiçada.

No cálculo da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), 25% dos alimentos produzidos mundialmente são perdidos na cadeia produtiva durante a colheita, o armazenamento e a comercialização. A ineficiência da distribuição, concentrada em regiões mais ricas, também contribui para o desperdício e explica por que ainda existe fome no Brasil, país tido como celeiro do mundo.

"Produzimos mais do que necessitamos e, se mantivermos esse padrão de consumo, não alcançaremos a meta estabelecida pela ONU em 2050", afirma Maurício Lopes, diretor-executivo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

MENOS IMPACTO

A produção está relacionada à disponibilidade e à qualidade da terra. Se as condições de clima, solo e água se degradam, a oferta de alimentos diminui.

Uma das maneiras de evitar a queda de produtividade é resgatar e manter o equilíbrio do ecossistema e aplicar técnicas com menos impactos nocivos ao ambiente.

Essas práticas garantem a melhor fertilização do solo e o aperfeiçoamento da gestão biológica das plantas.

O Brasil é referência mundial em técnicas agrícolas na zona tropical por evitar a degradação do solo e extrair mais produtividade dos recursos disponíveis.

Foi o que aconteceu com a Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), uma propriedade que tinha solo pouco fértil e só dava prejuízo. Com auxilio da Embrapa, técnicas economicamente viáveis e ambientalmente corretas foram aplicadas -hoje a área lucra e é modelo de produtividade no cerrado.

Um método utilizado na agricultura sustentável é integrar floresta, agricultura e pecuária na mesma área e aumentar a produção com a biodiversidade.

O governo estima que seja possível duplicar a produção de grãos e de produtos florestais e triplicar a de pecuária nos próximos 20 anos só com a recuperação de pastagens e a utilização dessa tecnologia.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) prevê mostrar durante a Rio+20 exemplos de recuperação da terra.

"Teremos um túnel virtual para explicar à sociedade a importância de tirar uma fazenda de um solo fraco e maltratado e a melhora de tudo isso por meio de tecnologia e boas práticas", afirma a senadora Kátia Abreu, que comanda a entidade ruralista.

AGROTÓXICOS

Luis Fernando Guedes Pinto, gerente de certificação do Imaflora, ressalta que um dos entraves ao desenvolvimento sustentável no país é a visão atrasada de que agropecuária que desmata e degrada o ambiente produz mais.

Um exemplo disso é o uso indiscriminado de veneno contra as pragas para viabilizar a produção. A agricultura brasileira ainda é bastante dependente de agrotóxicos. Seu uso descuidado pode ser prejudicial à saúde do agricultor e degradar o ambiente, mas, ainda assim, o país é o maior consumidor do mundo desses defensivos.

"Falta investimento e assistência ao produtor. A principal 'escola' dos agricultores são os vendedores de agrotóxicos. Precisa haver mais orientação de cultivo sem o interesse econômico envolvido", afirma Guedes Pinto.

Como alternativa ao uso excessivo de agrotóxicos, há o controle biológico das pragas, como ocorre na Fazenda Nata do Vale, em Serra Negra (SP), onde eles foram substituídos por fungos para evitar a infestação de insetos.

O dono da fazenda, Ricardo Schiavinato, hoje cultiva alimentos orgânicos, mas reclama da falta de incentivos. "Essa produção só se sustenta no médio e longo prazos."

No Brasil, há cerca de 15 mil produtores de orgânicos. Em 2009, o país cultivava 6,18 milhões de hectares de terra com esse tipo de alimento -a Finlândia é o maior produtor (7,4 milhões de hectares).

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70% da água doce consumida no mundo é usada na agricultura, que é responsável ainda por 13% das emissões de gases.

O AVANÇO DOS TRANSGÊNICOS

Em meio à discussão de como produzir mais alimentos, o cultivo de transgênicos cresceu 8% nos 29 países que adotam a tecnologia, segundo o ISAAA (instituto internacional que faz o acompanhamento do setor). O Brasil liderou esse avanço, pelo terceiro ano consecutivo, com uma expansão de 20% em 2011 em relação à produção do ano anterior.

MILAGRE DOS PEIXES

A aquicultura cresceu 260% desde 1992 em todo o mundo. No Brasil, a criação de peixes aumentou 122% entre 2007 e 2011; a pesca de captura subiu 12%.

MAIS CARNE NO PRATO

Em 2050, o consumo de carne deve ser 74% maior do que era em 2000 Ðserão 460 milhões de toneladas ou 50 quilos per capita por ano (hoje são 43 quilos), segundo dados da ONU. No caso de cereais, a expectativa é de um aumento de 43%.

70% da população mundial viverá em grandes centros urbanos em 2050, conforme estimativas das Nações Unidas; atualmente, pouco mais da metade mora em cidades, que já são responsáveis pelo consumo de 75% da energia e por 75% das emissões de carbono.

45% é o quanto aumentou a produção mundial de alimentos desde a Eco-92 -no mesmo período, o crescimento demográfico foi de 26%. A estimativa é que quase 1 bilhão de pessoas ainda passem fome.

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