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Romantismo prático

Divisão dos gastos com o imóvel deve respeitar a renda de cada um e nem sempre pode ser feita meio a meio

JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foi no Dia dos Namorados do ano passado que Marcos Andrade, 31, resolveu pedir Fabiana Nascimento, 28, como "roommate". "Foi muito legal. Ele colocou uma chave dentro de uma caixinha de aliança e me deu depois do jantar", lembra ela.

A lógica de Marcos é que morar junto é o novo casar: "Entre investir em uma festa de casamento e usar esse dinheiro para montar uma casa mais equipada, preferimos ficar com a casa, que é o que vai contar no dia a dia."

A chave era apenas simbólica -ele não se arriscou a escolher o imóvel sem consultá-la-, mas, dois meses depois, os dois alugaram uma casa na Casa Verde (zona norte).

Casas de vila são populares entre jovens casais, diz a corretora de imóveis Monique Tonini, dona da Casas Bacanas, empresa especializada em compradores entre 25 e 35 anos. "As casas costumam ser lindas, porém pequenas, por isso são mais procuradas por quem ainda não teve filhos."

Entre as preferências dos jovens casais clientes da empresa virtual estão apartamentos em prédios com muitos serviços ou de arquitetura assinada, em regiões de fácil acesso ao transporte público e apartamentos com varandas ou quintais, diz ela.

A escolha do primeiro imóvel merece atenção redobrada. "Indico algo fácil de revender, pois é comum precisar de algo maior depois de alguns anos de casamento."

Já para quem opta pelo aluguel, Tonini recomenda companheirismo. "Escolher um apartamento perto do seu trabalho, mas super fora de mão para o outro, ou perto da casa da sua mãe, mas em um bairro de que a outra pessoa não gosta, é a receita certa para azedar uma relação."

Tão azedo quanto morar ao lado da sogra (ou do sogro) é ter de recorrer a eles na hora de fechar as contas. Para Samy Dana, professor de finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas), um planejamento financeiro realista pode evitar brigas. "O caminho não é olhar apartamentos, encantar-se por um deles e daí pensar se há meios de pagá-lo. O casal precisa decidir quanto pode gastar antes de escolher o bairro onde vai morar", diz.

DIREITOS IGUAIS

Segundo o economista, romantismo de verdade é praticar o socialismo dentro de casa. Para ele, a forma mais justa de administrar o orçamento não é dividindo as contas por dois, e sim abrindo uma conta conjunta em que cada um deposite 50% de seus ganhos.

"É raro encontrar um casal com renda semelhante. Em geral, um dos dois está em uma posição melhor. Para manter o padrão de vida do casal, o lado que ganha menos terá de abdicar de quase todos os seus gastos próprios, o que não é saudável."

Juntos há três anos e meio, a designer Camilla Pires, 22, e o desenvolvedor de sites Renan Altendorf, 23, dividem as contas do apartamento na Vila Leopoldina (zona oeste) de modo proporcional à renda de cada um. "Ele paga a prestação e o condomínio, e eu, a conta de luz e o mercado," conta Camila.

O primeiro passo para quem pensa em comprar em vez de alugar é checar o saldo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), diz o professor da FGV. Na hora de financiar o apartamento, é possível usar o saldo das duas partes do casal, mesmo que não haja contrato de casamento ou de união estável.

"Pode até ser amigo ou irmão, só não vale usar o fundo de garantia de quem não vai morar no imóvel", explica Nédio Rosselli Filho, gerente de construção civil da Caixa Econômica.

Depois de oito anos de namoro, o casal de dentistas Carolina Iegami, 28, e William Korya, 33, resolveu fazer um teste antes do casamento, planejado para 2013. "Vamos dar um passo de cada vez, começando pelo que é mais importante, que é ficarmos juntos", conta Carolina.

Já a designer Carol Gay e o namorado, o fotógrafo Marcos Cimardi, juntaram as economias para comprar e reformar a nova casa. "Ele já tinha um apartamento em Higienópolis, mas era muito pequeno para dois. Quando decidimos morar juntos, ele o vendeu e compramos outro no largo do Arouche", conta. "Conseguimos um imóvel com quase o dobro do tamanho pelo mesmo valor."

SEPARAÇÃO

Por mais delicado e indesejado que seja, a posibilidade de separação não deve ser completamente ignorada pelos "recém-unidos" defende o consultor financeiro Augusto Sabóia -o número de divórcios no país foi recorde em 2010: segundo o IBGE,houve 243 mil separações formais. "Se, junto, o casal ganha R$ 10 mil, por exemplo, quando houver uma separação vai ser difícil manter o mesmo padrão de vida. Claro que a conta não vai fechar."

Para o professor da FGV Samy Dana, conversas sobre a partilha de bens devem ser ao menos ensaiadas antes da união: "É melhor passar por esse incômodo quando tudo está bem do que ganhar uma grande dor de cabeça quando tudo vai mal".

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