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Inchaço das favelas persiste em Ribeirão

Outros problemas históricos da cidade são a limitação do aeroporto e casas que ainda trazem marcas de inundações

Famílias vítimas de enchentes esperam por indenização; cidade também tem crimes ainda não solucionados

DE RIBEIRÃO PRETO

Décadas atrás, um observador poderia descrever Ribeirão como uma cidade de "poucos" problemas. Dizia-se que o município precisava acabar com as favelas e as enchentes e tornar seu aeroporto menos acanhado.

A cidade cresceu economicamente nesse período, mas a situação nas três áreas só piorou. Mesmo com as melhorias, o Leite Lopes está aquém da demanda, as favelas não param de crescer e casas próximas a córregos ainda carregam as marcas das sucessivas inundações.

A constatação parte de especialistas ouvidos pela Folha, moradores e de quem acompanhou a origem dos problemas com as favelas.

São testemunhas como a irmã Sebastiana Thereza Barros de Andrade, do projeto Vida Laura Vicuña, e de Nice Penna de Barros Cruz, da creche-modelo da Vila Virgínia.

Enquanto Sebastiana viu nascer os primeiros barracos da favela Magid Simon Trad, uma das mais populosas, Nice testemunhou a evolução da favela das Mangueiras.

Nos relatos, a constatação de que o tempo só agravou os problemas: um número cada vez maior de barracos se espreme em espaços exíguos, e crianças brincam com esgoto a céu aberto. "Falta a prefeitura para a limpeza dos córregos, tirar o mato alto", disse irmã Sebastiana.

O desfavelamento, bancado principalmente pelos governos federal e estadual, com contrapartida municipal, tem sido citado pela prefeita Dárcy Vera (PSD), que deve tentar a reeleição, como maior vitrine de sua gestão.

Apesar das remoções de barracos em favelas como as do Jardim Aeroporto, dados da própria prefeitura admitem o inchaço: eram 26 mil moradores de favelas segundo o último balanço, de 2010, ante 18 mil três anos antes.

São, aliás, os barracos no entorno do aeroporto, ainda não completamente removidos, que deixam visível aos passageiros de avião os obstáculos para a expansão do próprio Leite Lopes.

O secretário da Casa Civil, Layr Luchesi, diz que a gestão erradicou nove favelas -6.500 pessoas-, deve eliminar outras cinco e que há fiscalização para coibir a montagem de barracos.

O fotógrafo Aristides Motta, em 1927, capturou em preto e branco uma imagem conhecida ao longo do século pelos ribeirão-pretanos: uma enchente na rua Guatapará.

Inundações como essa marcaram a vida da pensionista Nair Machado, 68, nos últimos 38 anos -tempo em que ela é vizinha do ribeirão Preto, na Vila Virgínia.

Hoje, a obra antienchente parece deixá-la mais tranquila, mas as paredes de sua casa ainda têm marcas de água de enchente. Nair é uma das que esperam na Justiça indenização pelos estragos causados em seu imóvel pelas cheias -eram 93 ações em curso até 2009. "Não vejo a hora de receber esse dinheirinho."

A prefeitura diz que os casos são discutidos na Justiça.

CRIMES 'SEM PUNIÇÃO'

Crimes não resolvidos também marcam a história de Ribeirão, como o caso Pablo Russel, acusado de ter arrastado, em 1998, uma jovem de 22 anos presa ao cinto de segurança de sua Pajero; ela morreu.

A longevidade do caso surpreende até especialistas -preso em 1998, está solto desde 2000. Iria a júri em maio, mas o julgamento foi adiado.

Outro crime que marcou a cidade é o do usineiro Marcelo Cury, acusado de ter matado duas pessoas e ferido uma terceira em 1997. Ele responde em liberdade. O TJ decidiu que deve ir a júri popular. (JULIANA COISSI)

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