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Sem astros e sem crise

Após quase ser suspenso por irregularidades, evento supera problemas financeiros e recebe obras de 111 artistas

Reinaldo Canato/ Folhapress
Obra de Arthur Bispo do Rosário
Obra de Arthur Bispo do Rosário

FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA

"Acho bobagem fazer uma Bienal pensando que é preciso grandes estrelas para garantir público", diz o curador venezuelano Luis Pérez-

Oramas, responsável pela 30ª Bienal de São Paulo, que é aberta hoje para convidados e na sexta para o público.

Segundo Pérez-Oramas, "o grande privilégio dessa Bienal é que ela tem um público assegurado", o que se torna uma "oportunidade para fazer um trabalho inteligente".

Com 111 artistas, "A Iminência das Poéticas", título da mostra, não traz nomes de fácil reconhecimento nem apela para a monumentalidade das obras. Os mais de 3.000 trabalhos estão organizados, em sua maioria, em pequenas salas.

No entanto é nessa forma de montagem que Pérez-Oramas acredita estar o que é espetacular nessa Bienal.

"A espetacularidade se produz horizontalmente, repetitivamente, modularmente, serialmente, mas não no estilo Vittorio Emanuele", afirma. O monumento a Vittorio Emanuele 2º, em Roma, também chamado Altar da Pátria, é apelidado, pelos excessos, de bolo de noiva.

Com isso, a Bienal apresenta grandes conjuntos de cada artista, como o que reúne 348 peças do brasileiro Arthur Bispo do Rosário, tido pelo curador como um dos "emblemas" da exposição.

"É a primeira vez na história que o portfólio completo do August Sander é exibido", exemplifica Pérez-Oramas, que exibe na Bienal 619 imagens do fotografo alemão. E frisa que, para ele, isso é mais importante que trazer artistas mais conhecidos.

Outra das ideias centrais da Bienal é a organização em "constelações": os artistas estão agrupados em torno de temas e questões. Entre eles estão as poéticas de arquivo, a crítica do espaço público e a construção da imagem.

A Folha definiu, para este caderno, quatro constelações entre as quais dividiu alguns destaques da mostra.

Aqui, os artistas se organizam entre históricos, performáticos, sonoros e novos latinos. Vale lembrar que não há nesses agrupamentos pretensão classificatória: essas são apenas possibilidades de leitura para a mostra concebida por Pérez-Oramas.

Escolhido em fevereiro do ano passado, o curador foi dos poucos na história da Bienal a ter quase dois anos para preparar a exibição. Na edição anterior, Agnaldo Farias e Moacir do Anjos tiveram cerca de um ano.

Contudo, o trabalho do curador quase foi suspenso, quando as contas da Bienal foram bloqueadas pelo Ministério da Cultura no início desse ano, por irregularidades em 13 processos de prestação de contas entre 1999 e 2006.

A Fundação Bienal teria feito mau uso de R$ 32 milhões em verba pública, mas ganhou na Justiça o desbloqueio das contas.

A crise não atrapalhou a captação de recursos. Segundo Heitor Martins, presidente da fundação, estão garantidos R$ 22 milhões do orçamento de R$ 22,4 milhões. Sem estrelas e sem crise, a Bienal abre as portas.

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