Folha de S.Paulo

Genoino diz que pena foi derrota da Justiça

DE SÃO PAULO DE BRASÍLIA

Amigos do ex-presidente do PT José Genoino têm duas certezas. Ele recorrerá da sentença do Supremo Tribunal Federal (STF) e retomará o mandato de deputado federal no próximo ano.

Condenado a seis anos e 11 meses de prisão e a pagar multa de R$ 468 mil, Genoino divulgou nota afirmando que a decisão foi uma derrota da Justiça. O texto, assinado por seu advogado, Luiz Fernando Pacheco, foi veiculado no site oficial do PT.

"Vencido foi o réu e vencida foi a própria Justiça! Paciência. Resignação, de parte do acusado, nunca! Paciência e submissão às ordens emanadas da mais elevada corte (...) sim. Subserviência, jamais!", diz a nota.

A defesa diz que não havia provas para a condenação e que Genoino batalhará por sua inocência após a publicação do acórdão, um processo de, no mínimo, seis meses.

Antes de assumir o partido, Genoino era deputado federal, mandato que ainda é válido, segundo advogados.

"É claro que ele vai voltar [ao Congresso]," disse o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP).

"Agora, imagine a situação: vai ao Congresso de dia e, à noite, para a cadeia", diz o advogado Danilo Camargo, amigo e membro do comitê de Ética do PT. "É um contrasenso que será combatido."

Genoino cumprirá a sentença em regime semiaberto, uma previsão legal para penas entre 4 e 8 anos.

Ele recebeu a notícia ao lado da família, que está indignada. Segundo seu irmão, o deputado federal José Guimarães, a mãe, de 88 anos, ficou chocada. Ela acredita na inocência do filho "porque o criou e sabe de sua índole".

Genoino terá de vender a casa para pagar a multa. Na última eleição, ela foi declarada por R$ 120 mil. "Vou entrar na cota [de ajuda] com meu salário de deputado", disse Guimarães. "A única coisa que temos é a nossa honra. Somos de uma família nascida na seca, criada com leite de bode, com muita fibra para enfrentar desafios como esse."

CARO DEMAIS

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares acompanhou a sessão em que foi condenado a oito anos e 11 meses de detenção ao lado da mulher e de poucos amigos.

Ele esperava a prisão, mas, segundo a Folha apurou, indignou-se com a multa aplicada de R$ 325 mil.

A pessoas próximas, Delúbio afirmou que é contraditório o STF tê-lo condenado por avalizar empréstimo do PT com o banco Rural e, ao mesmo tempo, condená-lo a pagar multa sabendo que ele não tem recursos. "Sou sempre o lado pior da coisa", afirmou, segundo interlocutores.

O ex-tesoureiro decidiu entregar amanhã seu passaporte como demonstração de que não quer fugir do país Delúbio afirmou aos mais próximos que a pena "é um preço político caro demais, mas que tem que ser pago"