São Paulo, 27 de outubro de 1999



Diretor usa lábia para
desarmar homem-bomba

da Reportagem Local

Música clássica e MPB na entrada e na saída dos alunos, rock e axé durante os intervalos. O circuito interno propaga o som por toda a Escola Municipal Mauro Faccio Gonçalves, conhecida como Zacaria, próxima ao Jardim Ângela (zona sul de SP), um dos bairros mais violentos da cidade.
Essa é uma das maneiras encontradas pela escola para “acalmar os ânimos” e criar um ambiente harmônico. A política é resolver todos os problemas com diálogos, dar liberdade “com limites” aos alunos e evitar elevações do tom de voz dentro da escola.
Foi com a lábia que o diretor, Roberto Wagner Carbonieri, contornou uma situação de pânico dentro da instituição. Em abril, três bombas foram detonadas em dois dias consecutivos dentro da escola. Depois do susto geral, Carbonieri visitou todas as salas, conversou com alunos e pediu o auxílio deles para resolver a situação. No dia seguinte, já havia chegado a seu conhecimento o nome do responsável pelas bombas.
“Em vez de chamar a polícia, fui pessoalmente à casa do rapaz, disse que não queria prejudicá-lo, mas que precisava saber suas razões”, diz. O rapaz negou, mas as bombas nunca mais explodiram.
“A prefeitura não tem estrutura para manter o policiamento. A gente tem de trabalhar com a saliva mesmo”, conta.
Há um ano, as cadeiras eram arrebentadas, os muros, destruídos. Hoje, nenhum sinal de vandalismo. A escola parece nova. As salas de aula têm um vaso de samambaia e um ventilador _conquista dos pais, que fizeram uma “vaquinha” para melhorar o ambiente.
Por segurança, os alunos são uniformizados e têm carteira de identificação. A quadra de esportes é aberta à comunidade nos fins-de-semana, quando há jogos e cursos de capoeira e dança. A escola oferece ainda educação sexual para pais e alunos.
Durante a semana passada, os alunos participaram de oficinas de informática, artesanato, sucata e bijuteria. “Os professores conseguem se envolver na nossa vida como se fossem da família”, diz o aluno Rodrigo da Silva Cardoso, 14, da 8ª série. “Mesmo estando em um bairro violento, a escola não precisa ser violenta. A escola comprova isso”, diz o aluno.
Segundo o diretor, há um mês um aluno pichou uma parte do muro durante um final de semana. “No dia seguinte, ele veio se entregar por conta própria. Fornecemos tinta, e ele mesmo pintou o muro”, conta. (PL)


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