|
Diretor usa lábia
para
desarmar homem-bomba
da
Reportagem Local
Música clássica e MPB na entrada e na saída dos alunos,
rock e axé durante os intervalos. O circuito interno propaga o
som por toda a Escola Municipal Mauro Faccio Gonçalves, conhecida
como Zacaria, próxima ao Jardim Ângela (zona sul de SP),
um dos bairros mais violentos da cidade.
Essa é uma das maneiras encontradas pela escola para acalmar
os ânimos e criar um ambiente harmônico. A política
é resolver todos os problemas com diálogos, dar liberdade
com limites aos alunos e evitar elevações do
tom de voz dentro da escola.
Foi com a lábia que o diretor, Roberto Wagner Carbonieri, contornou
uma situação de pânico dentro da instituição.
Em abril, três bombas foram detonadas em dois dias consecutivos
dentro da escola. Depois do susto geral, Carbonieri visitou todas as salas,
conversou com alunos e pediu o auxílio deles para resolver a situação.
No dia seguinte, já havia chegado a seu conhecimento o nome do
responsável pelas bombas.
Em vez de chamar a polícia, fui pessoalmente à casa
do rapaz, disse que não queria prejudicá-lo, mas que precisava
saber suas razões, diz. O rapaz negou, mas as bombas nunca
mais explodiram.
A prefeitura não tem estrutura para manter o policiamento.
A gente tem de trabalhar com a saliva mesmo, conta.
Há um ano, as cadeiras eram arrebentadas, os muros, destruídos.
Hoje, nenhum sinal de vandalismo. A escola parece nova. As salas de aula
têm um vaso de samambaia e um ventilador _conquista dos pais, que
fizeram uma vaquinha para melhorar o ambiente.
Por segurança, os alunos são uniformizados e têm carteira
de identificação. A quadra de esportes é aberta à
comunidade nos fins-de-semana, quando há jogos e cursos de capoeira
e dança. A escola oferece ainda educação sexual para
pais e alunos.
Durante a semana passada, os alunos participaram de oficinas de informática,
artesanato, sucata e bijuteria. Os professores conseguem se envolver
na nossa vida como se fossem da família, diz o aluno Rodrigo
da Silva Cardoso, 14, da 8ª série. Mesmo estando em
um bairro violento, a escola não precisa ser violenta. A escola
comprova isso, diz o aluno.
Segundo o diretor, há um mês um aluno pichou uma parte do
muro durante um final de semana. No dia seguinte, ele veio se entregar
por conta própria. Fornecemos tinta, e ele mesmo pintou o muro,
conta. (PL)
|