São Paulo, 27 de outubro de 1999


Curso profissional transforma favela

RANIER BRAGON
free-lance para a Agência Folha, em Belo Horizonte

Os moradores da favela Pedreira Prado Lopes (região noroeste de Belo Horizonte) decidiram apostar na implantação de uma escola profissionalizante para mudar o cenário de degradação imposto pelo tráfico de drogas.
Organizaram-se e reivindicaram que a unidade de ensino integrasse o orçamento da prefeitura em 95 e 96. Conseguiram ainda um centro cultural e um posto de saúde. Finalizadas em 98, as obras consumiram R$ 550 mil.
“A escola atraiu crianças e adolescentes que agora não têm tempo para ficar na rua fazendo coisa errada”, conta Vicentina da Costa Rocha, 49, que mora na favela com a família. Ela avalia que a violência não acabou, mas a escola foi um passo para isso.
A escola profissionalizante entrou em funcionamento no ano passado. Já se formaram 214 alunos em cursos gratuitos como cabeleireiro afro, DJ e informática.
É possível ainda obter qualificação como babá, camareira, pedreiro, pintor ou em secretariado administrativo e jardinagem/paisagismo. Há aula noturna para quem deseja se alfabetizar.
O prédio da Escola Profissionalizante Raimunda da Silva Soares ocupa um terreno de 558 metros quadrados, com dois andares, oito salas de aula e jardins bem tratados. A arquitetura destoa do alto número de barracos que formam sua vizinhança.
“O índice de violência na nossa comunidade mudou muito. Antes a gente abria o jornal e só via crime e sangue. A polícia vinha aqui todos os dias”, diz Edna Maria Vieira Ferreira, 42, moradora da favela desde que nasceu.
Washington Alves/Light Press
Sala do curso de informática da favela Pedreira
em BH

Edna, uma das filhas e o marido (desempregado há um ano) fazem cursos profissionalizantes. “Agora até pessoas de fora vêm aqui. Antes, elas nem podiam entrar (na favela), pois eram barradas pelos ‘poderosos’”, diz Edna, em alusão a barreira que traficantes faziam na entrada da Pedreira.
Neste mês têm início 18 cursos, e estão matriculados 419 dos cerca de 9.400
moradores da favela. O grosso dos alunos é formado por adolescentes em busca do primeiro emprego, desempregados e mulheres chefes de família.
Segundo levantamento feito pela prefeitura, em maio de 98 quase 60% dos chefes de família da favela eram mulheres.
Os cursos acontecem em três turnos, e os recursos para a manutenção do colégio, neste ano, devem chegar a R$ 300 mil. A prefeitura, que administra a escola, entra com R$ 200 mil. Os outros R$ 100 mil vêm do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

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