São Paulo, 3 de novembro de 1999


DJ baleado vê o pai ser assassinado


da Reportagem Local

O DJ Mário Sérgio Santos de Oliveira, 27, morava em um barraco à beira de um córrego, em Heliópolis (zona sudeste de São Paulo), quando viu o pai e um irmão morrerem com tiros de espingarda calibre 12.
Mário, com um tiro no pescoço e outro na perna, foi internado, mas conseguiu sobreviver. Um amigo de escola, que estava no barraco, também foi ferido com um tiro de raspão.
As outras dez pessoas que moravam no barraco da família escaparam ilesas. “Mas o trauma nos acompanha até hoje”, conta.
Hoje, após oito anos, Mário trabalha em uma rádio comunitária em Heliópolis. Com seu trabalho, tenta tirar os garotos da favela da vida de crime.
Mas ele reconhece ser difícil sua missão. “Viver na favela é fogo, não existe opção.” Leia os principais trechos da entrevista, concedida por Mário na sede da rádio. (OC)

Folha - Como foi o assassinato de seu pai e seu irmão?
Mário Sérgio Santos de Oliveira - Tinha chegado da escola, estava uma noite fria e fiquei sentado em volta de uma fogueira, em frente à minha casa, com meu irmão e um amigo de classe. De repente, passaram três caras com espingardas calibre 12. Com medo, nós corremos para casa. Eles nos seguiram, entraram no barraco e foram atirando. Meu pai e meu irmão morreram na hora. Eu levei um tiro no pescoço e um na perna. Tenho cicatriz até hoje. Os três foram presos e disseram que pensaram que a gente era de uma quadrilha rival.
Folha - Como era a casa em que você morava?
Oliveira - Era um barraco na beira de um córrego, de madeira, numa viela que não entra carro. A gente morava em 13 pessoas. O lugar era bem pesado.
Folha - E depois do crime, sua família continuou no mesmo barraco?
Oliveira - Minha mãe ficou com medo, traumatizada, e nós mudamos para o interior, na casa de parentes. Mas eu não consegui ficar longe de São Paulo, todos meus amigos estavam aqui, e voltei. Aí foi todo mundo voltando. Hoje, eu moro com minha mãe e oito irmãos em uma casa de alvenaria, construída em mutirão.
Folha - A casa atual é mais segura do que o barraco?
Oliveira - Ainda não é boa, mas é bem melhor. Onde existe barraco e área de risco, tem muito mais miséria e violência. Na viela, o traficante domina e a polícia não tem como entrar.
Folha - O que você faz para combater a violência?
Oliveira - Trabalho como DJ em uma rádio comunitária, onde faço campanhas contra a violência. Também faço parte da associação comunitária, que dá cursos para crianças e adolescentes. Tento fazer minha parte para evitar que a molecada entre no tráfico.

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