São Paulo, 10 de novembro de 1999 |
Ex-traficante troca crime por igreja
da Sucursal do Rio Ex-chefe do tráfico de drogas nas favelas da Metral (Vila Kennedy), Bicão (Santa Cruz), Juriti (Duque de Caxias) e Manguaribe (Campo Grande), João Antônio Gomes de Castro, 26, conhecido como Joãozinho, diz que abandonou o consumo e a venda de drogas há dois anos, após se converter à igreja Assembléia de Deus. Ajudado por comerciantes, que lhe emprestaram dinheiro para comprar uma Kombi e montar uma loja de material de construção, Joãozinho se tornou uma liderança local e hoje é diretor da Associação dos Moradores de Vila Kennedy. Nos finais de semana, ele sai com a Bíblia debaixo do braço e vai para a favela da Metral pregar o Evangelho para os traficantes que chefiou. Casado e com quatro filhos, ele conta que se assumiu a liderança do tráfico na Metral aos 16 anos, em substituição a seu tio que morrera em tiroteio com outros traficantes. Naquele mesmo ano, foi pai pela primeira vez. A partir da Metral, passou a comandar o tráfico nas outras três favelas. Aos 17 anos, matou um policial. Aos 19, em outro tiroteio com a polícia, perdeu o olho direito, vazado por uma bala. Foi preso duas vezes e fugiu nas duas ocasiões. Como nunca foi apanhado com drogas, responde a apenas um processo, por tentativa de homicídio. O policial que me baleou no olho também se tornou crente. Hoje somos amigos e irmãos em Cristo, afirma. Ele conta que entrou para a igreja em 97, quando estava foragido no interior de Minas Gerais: Havia uma igreja bem em frente ao meu esconderijo e eu ficava ouvindo a voz do pastor pelo alto falante. Um dia atravessei a rua e fui lá. Gostei e voltei nos quatro dias seguintes, quando minha mulher falou sobre minha situação ao pastor. Ele me arrumou um advogado que conseguiu autorização para eu responder ao processo em liberdade. O ex-traficante diz que chegava a faturar R$ 15 mil por semana _limpos, na minha mão_, mas lembra que o dinheiro saía mais fácil ainda do que entrava. O que o diabo dá com uma mão, ele tira com a outra, diz, sem explicar como gastou o dinheiro. O padre José Carlos Lino de Souza, pároco da igreja Cristo Operário, de Vila Kennedy, diz que exemplos como o de Joãozinho são muito raros. Segundo ele, dois ex-traficantes foram arrancados da igreja e assassinados pelos ex-parceiros que temiam ser delatados. Joãozinho diz que seu caso foi possível porque ele estava fora do Rio e conseguiu negociar sua saída com o grupo. (EL) |
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