São Paulo, 17 de novembro de 1999 |
Rio revitaliza área central e afasta violência Recuperação do Paço Imperial em 1985 e fim do mercado de peixe em 1990 mudaram perfil da região, até então abandonada CRISTINA GRILLO da Sucursal do Rio Ruas e calçadas sujas e esburacadas, com pouca iluminação. Prédios históricos abandonados, ocupados pela prostituição e pela venda de drogas. Um mercado de peixe a céu aberto, camelôs e batedores de carteira em todo canto. Quinze anos atrás, esse era o cenário dos arredores da praça 15 de Novembro, no centro histórico do Rio. Foi lá, no Paço Imperial, construção do século 18, que a família real portuguesa se instalou ao chegar ao país, em 1808. Uma série de intervenções urbanas mudou o perfil da região. O primeiro passo foi a recuperação e transformação do paço num centro cultural, aberto em 1985. A reforma do paço representou uma ruptura. A partir daí, a região sofreu uma contaminação positiva, diz o arquiteto Augusto Ivan, subprefeito do centro do Rio. Quatro anos depois foi inaugurado o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), a cerca de 150 m do paço. Hoje a região tem dois outros grandes centros culturais em funcionamento _a Casa França-Brasil e o Centro Cultural dos Correios_, duas galerias de arte, duas universidades e mais de uma dezena de restaurantes. O centro estava desprestigiado. Quando decidimos transformar o prédio onde funcionou nossa primeira agência em um centro cultural, as pessoas se espantaram, conta o diretor-geral do CCBB, Walter Vasconcelos. Hoje o centro recebe cerca de 130 mil visitantes por mês. Vasconcelos diz que pequenas intervenções externas mudaram a redondeza: Cuidamos da pavimentação, da recuperação do calçamento e da iluminação exterior, o que aumentou a segurança. Ivan concorda. Uma cidade organizada em seus espaços é uma cidade mais segura. Um grupo de 160 guardas municipais está sendo treinado para, a partir do próximo mês, policiar a região. Recuperação Começou então o trabalho de recuperação. Os limites da praça 15 foram ampliados para 46.000 metros quadrados, criando uma esplanada para pedestres até o cais de onde saem barcas para Niterói. O trânsito foi desviado para um túnel sob a praça. Uma passarela ligando a praça ao cais, usada como moradia por desabrigados, foi demolida. O prédio onde funcionou o mercado de peixe está sendo comprado pela prefeitura por R$ 8 milhões. Depois, será demolido. Vamos ampliar a visão do mar. O prédio atrapalhava, diz Ivan. A melhoria urbanística trouxe de volta o comércio. No arco do Teles e na rua do Mercado funcionam em torno de dez restaurantes. No térreo do Paço Imperial são quatro lojas _papelaria, CDs, objetos de decoração e livros. No início, tínhamos que caçar comerciantes. Agora há disputa por nossas lojas. As pessoas voltaram a frequentar a região, e a ocupação constante aumenta a segurança, diz Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial. Os comerciantes concordam. Isto aqui era uma podridão no início dos anos 90. Havia vários pontos de prostituição e de venda de tóxicos, diz José Manoel Perez, dono de um restaurante. Dados da Secretaria de Segurança Pública mostram que, em setembro, houve 28 roubos a transeuntes e 5 roubos em ônibus no centro. No Leme e em Copacabana, bairros da zona sul, foram registrados 38 roubos a transeuntes e 17 roubos em ônibus. Nunca vi tanto turista como agora. O que acontece aqui é o inverso do que está acontecendo na avenida Atlântica (em Copacabana), diz Perez, que tem um restaurante no bairro da zona sul. Com o surgimento de turistas, a prefeitura e os comerciantes se mobilizaram para criar novas atrações. Assim surgiu o projeto Fim-de-Semana no Centro. No segundo final de semana de cada mês, há shows nas ruas e visitas guiadas às construções históricas. Outra criação é o Tour Cultural, microônibus que percorre os seis principais centros culturais. Por R¹ 3, o visitante pode usar o ônibus quantas vezes quiser por um dia. A recuperação da região foi exemplar. Não foi nada orquestrado, organizado. Foi acontecendo aos poucos, diz Ivan. |
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