São Paulo, 24 de novembro de 1999


Onda de violência populariza
mercado de carro blindado


da Reportagem Local

A onda de sequestros relâmpagos que assusta os paulistanos provocou uma “popularização” de carros blindados. Com medo de se tornar vítima, a classe média busca meios de comprar um blindado, anseio antes inatingível.
O preço continua alto _pelo menos R$ 30 mil. Mas as empresas especializadas começam a lançar planos para atingir um público maior. Nos últimos três meses, foram criados em São Paulo leasing, consórcio e aluguel de blindados. Além disso, há um bom mercado de blindados usados.
A indústria do setor estima que haja em SP hoje 30 empresas de blindagem. A maioria delas apenas instala vidros à prova de balas, e somente três são capazes de blindar o carro inteiro.
De acordo com essas três indústrias, são blindados por mês em São Paulo 200 carros. No início do ano, a marca não atingia uma centena. Devido à procura, hoje há uma fila de 30 dias para o carro entrar na linha de montagem, de onde sairá após quatro semanas. Outra estimativa é que circulem pelo Brasil 6.000 blindados, 4.500 deles na Grande São Paulo.
A violência urbana também está fazendo as indústrias ganharem dinheiro com reposição de peças deterioradas. A cada semana, pelo menos cinco vidros blindados estilhaçados por balas são trocados.
“Felizmente para nós e infelizmente para a sociedade, o sequestro relâmpago fez aumentar muito a procura por carros blindados”, afirma Amauri Belmonte, gerente comercial da O’Gara-Hess & Eisenhardt.
Além de blindar carros, a O’Gara é uma das duas empresas a alugar blindados. Por R$ 900 ao dia, é possível andar por São Paulo a bordo de um Omega protegido. Os dois Omegas da empresa, assim como os três de sua concorrente Guarda Patrimonial, estão constantemente alugados a industriais e políticos estrangeiros em visita a São Paulo.
“Os executivos estrangeiros ouvem falar da violência de São Paulo e se recusam a andar pela cidade sem um carro blindado”, afirma Amauri Belmonte.
Outra indústria de blindagem, a Armor, tenta atrair clientes de classe média com a venda de carros blindados por sistema de leasing. Em associação com um banco, a empresa vende a blindagem de um carro em até 36 vezes.
“O público que busca um carro blindado mudou, por isso é necessária essa adequação. Até o início do ano, apenas executivos e políticos compravam blindados. Hoje, a compra já é feita também por advogados, médicos e empresários”, afirmou José Carlos Carvalho, gerente da Armor.
Essa procura de profissionais liberais por blindados também está desenvolvendo um mercado de carros usados com proteção à prova de balas. A própria Armor intermedeia a negociação de usados de seus clientes. “Além de ser mais barato, o usado blindado é entregue imediatamente”, declara Carvalho, da Armor.
Também é possível perceber o mercado de usados blindados pelos classificados de jornais. A cada domingo, perto de uma dezena de blindados com dois ou três anos de uso são oferecidos no caderno Veículos, da Folha.
Outra opção para a compra de um blindado foi lançada pela indústria Oregon Blindagem e pela Mercedes-Benz. É o consórcio de automóveis Classe A blindados, em até 60 meses. Lançado há um mês, o consórcio já tem um grupo de 72 participantes, em 24 meses. Serão três carros por mês, dois por lance e um por sorteio.
Mas o preço torna difícil a popularização defendida pela empresa. A mensalidade do consórcio é de R$ 3.234. O preço final do carro, após 24 pagamentos, será R$ 77.616. Nada popular.
(OTÁVIO CABRAL)

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