São Paulo, 24 de novembro de 1999


Trânsito extermina força de trabalho

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Ele é homem, está no auge de sua idade produtiva, é solteiro, estudou só até o ensino fundamental (antigo 1º grau) e mora na periferia. Morreu no hospital, após ter sido atropelado em alguma via de grande tráfego em São Paulo.
Esse é o perfil do paulistano vítima de acidente de trânsito, segundo dados do Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade da Prefeitura de São Paulo (Pro-Aim) e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Em outras palavras, além do drama pessoal que gera nas famílias das vítimas, o trânsito reduz a esperança de vida dos jovens adultos paulistanos e da mutila a principal força de trabalho da cidade. Mas isso já foi pior.
A violência no trânsito diminuiu principalmente a partir de 1998, com a implantação do novo código nacional. E tem se mantido nos novos patamares este ano.
Se essa tendência persistir até o réveillon, as vidas de mais 564 paulistanos terão sido poupadas em 1999 _em comparação à média de mortos no trânsito entre 1991 e 1997. Do começo da década até o ano passado a taxa de mortos em acidentes com veículos e atropelamentos caiu de 21,2 por 100 mil habitantes para 12/100 mil, segundo o Pro-Aim. Assim, de 1991 para 1998 o trânsito caiu de 5º para o 13º lugar entre as causas de morte do paulistano.
Mesmo assim o coeficiente de mortalidade do trânsito da capital paulista é alto se comparado ao de metrópoles do mesmo porte. Em Nova York, por exemplo, a taxa foi, em 1996, de 6,7 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes _a metade da de São Paulo.
Os dados para 1999 mostram que, até agosto, a média mensal era de 97 mortos no trânsito, quase igual à de 1998 (99 mortos/ mês). Isso mostra que se consolidaram os ganhos em relação ao passado (média de 146 mortes/ mês de 1991 a 1997), mas está difícil evitar novas mortes e chegar ao nível de países desenvolvidos.
O grande problema continua sendo o atropelamento. Do total de paulistanos mortos no trânsito em 1998, pelo menos 59,5% foram atropelados. No dia-a-dia esse percentual é maior, diz o médico Marcos Drumond, um dos coordenadores do Pro-Aim.
É que muitos dos atestados de óbito de vítimas do trânsito não informam a causa exata da morte. Pela experiência do médico, a maioria dessas mortos com causa indefinida não é de motoristas ou passageiros, mas de pedestres.
Apesar de serem mais raros do que as colisões, os atropelamentos são mais fatais. E suas vítimas, mais indefesas: é mais frequente entre crianças, idosos e mulheres.
Os adolescentes de 10 a 19 anos, por exemplo, são vítimas de apenas 3% do total de mortes na cidade. Mas esse percentual se multiplica e chega a 11% quando são considerados só os óbitos ocorridos no trânsito. Na faixa de 5 a 14 anos esses acidentes são a primeira causa de morte.
O conhecimento do perfil das vítimas vai além da curiosidade estatística. Como adverte o Pro-Aim, ele é útil para a prevenção e o estabelecimento de prioridades.
Em seu mais recente boletim, dedicado ao tema, o Pro-Aim recomenda medidas preventivas: a melhoria do estado de conservação das vias públicas, a intensificação da fiscalização do tráfego e dos veículos, a proteção das áreas de lazer, campanhas de conscientização sobre segurança no trânsito e o uso de redutores de velocidade nas áreas críticas.

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