|
Tráfico faz Ribeirão ser 253%
mais violenta que Uberlândia
Drogas são responsáveis por 90% dos crimes registrados
no município paulista, segundo a polícia; só nos últimos
três anos, 500 quilos de drogas foram apreendidos
LUÍS EBLAK
Editor-assistente da Folha Ribeirão
A chamada "rota
caipira" do tráfico de drogas contrapõe duas cidades
igualmente ricas e com praticamente a mesma população. Apesar
das semelhanças, a violência em Ribeirão Preto é
252,9% maior do que na mineira Uberlândia. Ribeirão teve
180 assassinatos em 97. Uberlândia, 51.
Os dados são das unidades da Polícia Civil das duas cidades.
Se forem considerados os números deste ano até quinta-feira
passada, o parâmetro não muda muito: 169 homicídios
no município paulista, contra 52 no mineiro (diferença de
225%).
Já com os números do Datasus, a diferença entre Ribeirão
e Uberlândia seria ainda maior.
Seriam 175 homicídios na cidade paulista contra apenas 3 no município
mineiro.
Só que a própria Polícia Civil mineira e o Ministério
da Saúde dizem que o número é muito baixo. "O
mais provável é que tenha havido alguma falha na transmissão
de informações para a secretaria municipal", diz Hélio
de Oliveira, um dos responsáveis pelo Centro Nacional de Epidemiologia
em Brasília.
Motivos
Uma das causas para a diferença entre os números é
o tráfico de drogas, mais intenso e organizado em Ribeirão
Preto.
Além de ter gangues rivais que controlam os entorpecentes na cidade
-o que não ocorre em Uberlândia-, Ribeirão também
possui uma posição estratégica na distribuição
de drogas.
Segundo a Polícia Federal, o nordeste paulista tem cerca de mil
pistas clandestinas de pouso, que recebem a droga de avião diretamente
da Bolívia. Só nos últimos três anos, foram
apreendidos 500 quilos de entorpecentes em aeronaves que caíram
na região.
A partir de Ribeirão Preto, a droga é distribuída
via terrestre para o interior de São Paulo, sul de Minas Gerais
e Goiás.
"As brigas de gangues do tráfico em Ribeirão também
intensificam a violência. As drogas são responsáveis
por 90% dos crimes na cidade", afirma o delegado-seccional paulista
Alexandre Jorge Daur, que destaca que o crescimento desordenado também
ajudou a aumentar as mortes.
É o caso de Luciano Biscaro Rodrigues, morto, segundo a polícia,
pela guerra de traficantes em fevereiro de 1997, aos 20 anos.
Segundo sua mãe, Valquíria, ele saiu de casa na noite de
uma quinta-feira, não voltou por dois dias e apareceu morto no
terceiro.
Mais equipados do que a polícia, com armas potentes e automáticas,
os traficantes acabam impondo uma realidade triste e aumentando a criminalidade.
"A polícia está perdendo a guerra contra a violência.
A política de segurança pública precisa ser repensada",
diz o delegado da Polícia Federal de Ribeirão Wilson Alfredo
Perpétuo.
Ex-secretário da Segurança Pública de Alagoas (91-94),
Perpétuo também atribui a alta da violência em Ribeirão
ao mito da "Califórnia Brasileira", criado nos anos 80,
no auge do Proálcool.
Para tentar resolver o problema, o delegado participa do movimento Ribeirão
Pela Paz, lançado no início deste mês.
Futilidades
Uberlândia, por outro lado, está longe de ser considerada
uma cidade tranquila, mas com certeza é muito mais sossegada do
que Ribeirão. No município mineiro, os homicídios
estão ligados a motivos fúteis, como brigas de bar ou crimes
passionais.
Segundo o delegado Ramon Tadeu Carvalho Bucci, o tipo de crime que predomina
em Uberlândia são furtos e roubos contra o patrimônio
(cerca de 40% do total das ocorrências).
"A droga chega, sim, a Uberlândia, mas aqui não ocorrem
crimes de gangues como no Estado de São Paulo. Isso deve ocorrer
em Ribeirão pela proximidade dessa cidade com a capital paulista",
afirma o delegado da Polícia Federal de Uberaba Eriosvaldo Renovato
Dias, responsável pelo Triângulo Mineiro.
"Aqui se mata por besteira", diz Bucci. Num dos casos, Geremias
Martins da Silva Neto, 25, foi morto por ter olhado no rosto de seu assaltante.
"O ladrão disse que o matou porque meu filho o reconheceria
depois", afirma a mãe da vítima, Marina Gonçalves
de Oliveira.
Colaborou
Luciana Cavalini, da Folha Ribeirão
|