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Trabalho faz 74% das crianças
da cana repetirem na escola
Um terço dos
entrevistados
diz que parou de
estudar porque
precisava trabalhar
da Reportagem Local
Trabalho faz mal para a educação, mostra pesquisa Datafolha
feita em São Paulo, na Bahia e em
Pernambuco com 460 crianças entre 7 e 14 anos que trabalham.
Na Zona da Mata pernambucana, onde domina a cultura de cana,
74% das crianças já foram reprovadas na escola. Na zona produtora de sisal na Bahia, o índice de reprovação é de 62%. Em São Paulo,
o percentual é menor (56%).
O levantamento é inédito no
país. A Zona da Mata e a região do
sisal foram escolhidas por causa da
concentração de trabalho infantil.
Na primeira região, a pesquisa foi
feita em Palmares (128 km de Recife), Catende e Água Preta. Na Bahia, em Retirolândia (247 km a noroeste de Salvador), Santaluz, Valente e Conceição do Coité.
A idéia era confrontar o efeito do
trabalho sobre crianças da zona
rural e de uma metrópole.
Em Pernambuco, 71% das crianças estão atrasadas na escola. Na
Bahia, esse percentual é de 62%, e,
em São Paulo, de 29%.
Em educação, os entrevistados
do Nordeste superam os de São
Paulo na vontade de estudar. Na
Bahia e em Pernambuco, respectivamente, 91% e 83% dos trabalhadores dizem gostar de estudar. Em
São Paulo, o percentual é de 63%.
Os professores têm sua parcela
de culpa no caso paulistano. 9%
dos entrevistados dizem gostar
mais ou menos da escola porque
têm professores mal-humorados.
Os nordestinos também se mostram mais dispostos a abandonar o
trabalho em troca de uma bolsa de
R$ 50. O valor é idêntico ao do Vale
Cidadania que o governo dá às
crianças do Mato Grosso do Sul
para deixarem as carvoarias.
Na Bahia e em Pernambuco, 70%
das crianças parariam de trabalham se recebessem uma bolsa de
R$ 50 do governo. Em São Paulo,
43% fariam a troca.
É em Pernambuco que se encontra o maior percentual de crianças
fora da escola entre os entrevistados (10%). Em São Paulo, são 6% e
na Bahia, 3%.
Segundo o Datafolha, o número
de casos (25 no total) são insuficientes para uma leitura estatística
segura. Mesmo assim, é possível
identificar que a principal causa de
abandono da escola é a necessidade de trabalhar para 32%.
O sonho das crianças é tornar-se
profissional liberal. Na Bahia e em
Pernambuco, 30% e 14%, respectivamente, querem ser professor.
Em São Paulo, 17% sonham ser jogador de futebol, e 13%, médico.
Roupa é o bem mais valioso que
os entrevistados nordestinos dizem possuir. Em São Paulo, brinquedos são mais citados.
A pesquisa foi realizada com 460 crianças entre
7 e 14 anos que trabalham. Dos que completaram 14 anos, só foram entrevistados os que começaram a trabalhar antes de atingir essa idade. O levantamento foi feito entre 28 e 30 de
março. Em São Paulo foram realizadas 175 entrevistas em 60 locais da periferia. Na Bahia, foram feitas 159 entrevistas em Retirolândia, Santaluz, Valente e Conceição do Coité. Em Pernambuco, as 126 entrevistas foram distribuídas em
Palmares, Catende e Água Preta. Os resultados
referentes a cada localidade representam a opinião das crianças entrevistadas. Não podem ser
generalizados para o total de crianças que trabalham. A pesquisa é uma realização da Gerência de Pesquisas de Opinião do Datafolha.
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