São Paulo, quinta, 1 de maio de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Trabalho faz 74% das crianças da cana repetirem na escola

Um terço dos entrevistados diz que parou de estudar porque precisava trabalhar

da Reportagem Local

Trabalho faz mal para a educação, mostra pesquisa Datafolha feita em São Paulo, na Bahia e em Pernambuco com 460 crianças entre 7 e 14 anos que trabalham.
Na Zona da Mata pernambucana, onde domina a cultura de cana, 74% das crianças já foram reprovadas na escola. Na zona produtora de sisal na Bahia, o índice de reprovação é de 62%. Em São Paulo, o percentual é menor (56%).
O levantamento é inédito no país. A Zona da Mata e a região do sisal foram escolhidas por causa da concentração de trabalho infantil. Na primeira região, a pesquisa foi feita em Palmares (128 km de Recife), Catende e Água Preta. Na Bahia, em Retirolândia (247 km a noroeste de Salvador), Santaluz, Valente e Conceição do Coité.
A idéia era confrontar o efeito do trabalho sobre crianças da zona rural e de uma metrópole.
Em Pernambuco, 71% das crianças estão atrasadas na escola. Na Bahia, esse percentual é de 62%, e, em São Paulo, de 29%.
Em educação, os entrevistados do Nordeste superam os de São Paulo na vontade de estudar. Na Bahia e em Pernambuco, respectivamente, 91% e 83% dos trabalhadores dizem gostar de estudar. Em São Paulo, o percentual é de 63%.
Os professores têm sua parcela de culpa no caso paulistano. 9% dos entrevistados dizem gostar mais ou menos da escola porque têm professores mal-humorados.
Os nordestinos também se mostram mais dispostos a abandonar o trabalho em troca de uma bolsa de R$ 50. O valor é idêntico ao do Vale Cidadania que o governo dá às crianças do Mato Grosso do Sul para deixarem as carvoarias.
Na Bahia e em Pernambuco, 70% das crianças parariam de trabalham se recebessem uma bolsa de R$ 50 do governo. Em São Paulo, 43% fariam a troca.
É em Pernambuco que se encontra o maior percentual de crianças fora da escola entre os entrevistados (10%). Em São Paulo, são 6% e na Bahia, 3%.
Segundo o Datafolha, o número de casos (25 no total) são insuficientes para uma leitura estatística segura. Mesmo assim, é possível identificar que a principal causa de abandono da escola é a necessidade de trabalhar para 32%.
O sonho das crianças é tornar-se profissional liberal. Na Bahia e em Pernambuco, 30% e 14%, respectivamente, querem ser professor. Em São Paulo, 17% sonham ser jogador de futebol, e 13%, médico.
Roupa é o bem mais valioso que os entrevistados nordestinos dizem possuir. Em São Paulo, brinquedos são mais citados.


A pesquisa foi realizada com 460 crianças entre 7 e 14 anos que trabalham. Dos que completaram 14 anos, só foram entrevistados os que começaram a trabalhar antes de atingir essa idade. O levantamento foi feito entre 28 e 30 de março. Em São Paulo foram realizadas 175 entrevistas em 60 locais da periferia. Na Bahia, foram feitas 159 entrevistas em Retirolândia, Santaluz, Valente e Conceição do Coité. Em Pernambuco, as 126 entrevistas foram distribuídas em Palmares, Catende e Água Preta. Os resultados referentes a cada localidade representam a opinião das crianças entrevistadas. Não podem ser generalizados para o total de crianças que trabalham. A pesquisa é uma realização da Gerência de Pesquisas de Opinião do Datafolha.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã