São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Delegado assume vazamento das fotos

Edmilson Pereira Bruno, que repassou a jornalistas um CD com fotos, diz ter agido sem motivação política e dentro da lei

Para petistas, exibição de imagem de R$ 1,7 milhão foi tentativa orquestrada pelo PSDB de levar a disputa presidencial para o 2º turno


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O delegado da Polícia Federal Edmilson Pereira Bruno, 43, assumiu ontem a responsabilidade pelo vazamento das polêmicas fotos do R$ 1,7 milhão apreendido há 15 dias com membros da campanha do PT ao governo paulista e à Presidência, que buscavam comprar um dossiê que incriminasse candidatos do PSDB.
"Tudo o que eu fiz foi legal, fiz porque senti que era a verdade", disse ontem o delegado Bruno, que, a contragosto da PF e do Ministério da Justiça, repassou a jornalistas um CD com 23 fotos coloridas do dinheiro apreendido.
A Polícia Federal se recusou a exibir as fotos sob o argumento de que isso poderia atrapalhar a disputa eleitoral, prejudicando a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.
A exibição das imagens, às vésperas da eleição, provocou uma onda de protestos entre os petistas, que afirmaram ser uma tentativa orquestrada pelo PSDB de levar a disputa presidencial para o segundo turno.
O coordenador-geral da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que Bruno agiu para prejudicar o PT e criticou a imprensa, que não divulgou o nome do informante.

Cópias
As fotos do dinheiro foram repassadas em sigilo a jornalistas, às 10h30 de anteontem, perto do prédio da PF paulista. Ao mesmo tempo, Hamilton Lacerda, ex-coordenador de campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista, prestava depoimento.
A reportagem da Folha e outros três jornalistas receberam as fotos sob a condição de não revelar o nome do delegado. Uma hora depois, outros três repórteres também receberam o material perto da PF.
A Folha divulgou as imagens porque elas são de evidente interesse público. Ao não revelar a identidade de Bruno, a reportagem se baseou no artigo 5º da Constituição, que prevê o direito ao sigilo: "É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional".

Sigilo
O delegado Bruno afirmou que não agiu por motivação política e argumentou que as fotos repassadas por ele não estão em segredo de Justiça.
Tecnicamente, as imagens que constam no inquérito que está em sigilo são as que foram feitas no dia da apreensão do dinheiro, no hotel Ibis, em São Paulo, há 15 dias, quando Bruno prendeu o petista Valdebran Padilha e o ex-policial Gedimar Passos negociando o dossiê.
Naquele dia, as notas foram esparramadas sobre uma cama e fotografadas por um agente. O material está com o delegado Diógenes Curado, de Cuiabá, que preside a investigação.
As imagens divulgadas pela imprensa foram feitas pelo próprio delegado Bruno, na quarta-feira, quando os valores passaram por uma perícia. Munido de uma câmera fotográfica, Bruno foi à unidade do Banco Central em São Paulo e à sede da empresa Protege S/A para fazer as fotos dos dólares e dos reais respectivamente.
Ouvidos ontem pela PF, que investiga o vazamento, os peritos disseram que o delegado "mentiu" ao dizer que havia voltado para o caso.
No dia 15, quando o escândalo do dossiê estourou, Bruno apreendeu o dinheiro num final de semana. Três dias depois, foi afastado do caso. Segundo a PF, ele atuou apenas como plantonista.


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