São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

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ANÁLISE A POSSE DE DILMA

Discursos acenam com o fim da crispação

Estava evidente que se produziria razoável distensão na política

TALVEZ SEJA TAMBÉM APENAS "UMA SAUDAÇÃO À BANDEIRA" A AFIRMAÇÃO DE QUE PREFERE "O BARULHO DA IMPRENSA LIVRE AO SILÊNCIO DAS DITADURAS"

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O discurso de posse de Dilma Rousseff não ofereceu luzes sobre como será exatamente a sua gestão, mas deixa aberta uma ampla avenida para trocar a crispação que foi a grande marca da campanha eleitoral por um ambiente político razoavelmente distendido.
Pode até ser que seja apenas retórica seu "estender a mão" aos partidos de oposição e aos que não estiveram com ela durante a campanha. Mas já estava evidente, nos dias entre a vitória e a posse, que se produzira uma razoável distensão.
Evidência reforçada no discurso no Parlatório do Planalto, em que deu ainda mais ênfase ao congraçamento, repetindo uma e outra vez a palavra "união".
Na mesma linha, talvez seja também apenas "uma saudação à bandeira" a afirmação de que prefere "o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras".
Mas é sempre um sinal positivo, depois de anos em que seu antecessor e padrinho às vezes também dizia preferir o "barulho", ora condenava-o com estridência e vitimismo.
Na economia, não haverá inflexão, o que já se intuía, mas foi reafirmado com vigor no discurso de posse, ao defender "a estabilidade econômica como valor absoluto".
Na política externa é que ficou mais claro o caráter excessivamente genérico do discurso. Disse Dilma: "Seguiremos aprofundando o relacionamento com nossos vizinhos sul-americanos; com nossos irmãos da América Latina e do Caribe; com nossos irmãos africanos e com os povos do Oriente Médio e dos países asiáticos. Preservaremos e aprofundaremos o relacionamento com os Estados Unidos e com a União Europeia".
Ou seja, o mundo é o parceiro prioritário, embora com mais ênfase na imediata vizinhança, especificamente o Mercosul e a Unasul.
No mais, uma agenda que tem sido repetida à exaustão por todos os presidentes do período democrático e nunca foi levada a cabo, a saber: a reforma política e a reforma tributária.
É claro que a ênfase no social não poderia faltar. Chegou a afirmar que, sob a liderança de Lula e do ponto de vista social, "o povo brasileiro fez a travessia para uma outra margem da história".
Menos mal que não citou a empulhação da queda da desigualdade, empulhação que ficou ainda mais clara na antevéspera da posse, quando esta Folha noticiou em manchete que os ganhos em Bolsa, nos oito anos Lula, foram de 295%. Quando se sabe que o poder de compra do salário mínimo, medido em cestas básicas, avançou apenas 58% (um quinto, portanto), fica evidente que a desigualdade entre a remuneração do trabalho e a remuneração do capital continua sendo tão obscena quanto o era quando Lula assumiu.


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