São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

LULA DÁ ADEUS AO PALÁCIO-E JÁ ENCARA A GOTEIRA

Na manhã do dia 31 de dezembro, era possível ouvir a voz de Lula do lado de fora do Palácio do Planalto. "Um funcionário me disse: "Presidente, quando o senhor chegou aqui, há oito anos, eu não tinha casa, eu não tinha carro, eu não tinha nem mulher! Agora eu tenho casa, eu tenho carro, eu tive dois filhos e eu tenho mulher. Sabe?", dizia o presidente no discurso para quase mil funcionários (só da área de segurança são quase 600) que trabalharam nas viagens presidenciais no período em que ele comandou o país. Muitos choravam. Outros caíam na risada com as histórias contadas pelo petista.

 


Nos últimos dias de Lula, o Palácio do Planalto se transformou numa festa permanente, com várias despedidas: dos que viajaram com ele, dos que trabalharam no gabinete, dos que trabalharam fora do gabinete, dos 37 ministros e dos assessores dos 37 ministros.

 


No dia 30, o presidente, de camisa vermelha, ficou em pé numa sala e recebeu mais de 500 funcionários, cumprimentando um por um e tirando fotos com eles e seus familiares. Era como o Mickey na Disney: todos queriam ser clicados ao seu lado. E a fila na porta da sala dava a volta no terceiro andar.

 


"Tá brotando gente de todo lado. Cada um traz o filho, o sobrinho, o amigo", dizia uma assessora da primeira-dama, Marisa Letícia. A nora do presidente, Marlene, ajudava a organizar a confusão. "Ele está ótimo, topando tudo", dizia ela.

 


No total, só na despedida dessa tarde, foram feitas mais de 3.000 fotos.

 


No último dia, Lula relutava em sair de vez da sala presidencial. "Vamos, Lula, precisam limpar a sala!", dizia dona Marisa. "É duro de largar, viu?", dizia o presidente, em tom de brincadeira e com os olhos marejados. Ele desceu o elevador pela última vez com mais seis pessoas -entre outros, o assessor e agora secretário-geral Gilberto Carvalho e o ex-deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF). No estacionamento, mais uma despedida: os seguranças tinham amassado centenas de selos de identificação que colam nas roupas das pessoas que visitam o Planalto. Formaram uma bola e deram a Lula de presente. Choraram também.

 


Dona Marisa cuidava de empacotar as últimas caixas da mudança, no Planalto e também no Palácio da Alvorada, residência oficial. Mais de 15 carretas já tinham viajado para São Paulo com móveis e outros percentes da família. Muita coisa foi para um depósito: a cama do casal do Alvorada, por exemplo, era enorme e não caberia no apartamento deles em São Bernardo, onde voltaram a morar.

 


As roupas ficaram por último. Lula tem mais de cem ternos, boa parte deles assinados pelo estilista Ricardo Almeida. Queria doar quase todos e ficar só com dois. Foi aconselhado por assessores a deixar a decisão para depois.

 


É que as roupas de Lula, e também as de dona Marisa, poderão ser expostas no instituto que está sendo instalado em São Paulo para abrigar os arquivos presidenciais. A ideia é fazer exposições temporárias que mostrem, além de objetos, documentos e fotos, também ternos e vestidos usados pelo casal em ocasiões especiais, como a primeira posse.

 


O Memorial JK, em Brasília, por exemplo, exibe ternos, vestidos e até roupões e pijama usados pelo ex-presidente Juscelino e por dona Sarah Kubitscheck. Alguns dos idealizadores do instituto de Lula acreditam que hoje as roupas do casal petista não seriam objeto de tanto interesse -mas, em 50 anos, serviriam como documentos dos usos e costumes do começo do século 21.

 


Dona Marisa terá uma sala no instituto de Lula e deve despachar semanalmente por lá.

 


E o instituto deve ter mesmo uma filial no Rio de Janeiro. A ideia foi do governador Sérgio Cabral, do Rio, que está convencendo o presidente de que seria bom ele ter um escritório para despachar na cidade, num imóvel que poderia também abrigar parte da documentação de seu período de governo.

 


Lula está "de volta às ruas", enfim. E, além das caixas de mudança e da montagem de um novo escritório, começa a enfrentar problemas triviais. Há seis meses, seu apartamento em São Bernardo do Campo, que está em reforma, começou a ter goteiras. Sempre que chove, fica todo molhado. O casal não encontra pedreiro nem encanador que consiga dar jeito no problema.

BANDEIRA BRANCA
Do embaixador da Itália no Brasil, Gherardo la Francesca, para o ministro Marco Aurélio Garcia, na posse de Dilma: "Minha presença aqui é um sinal". A decisão de Lula de manter Cesare Battisti no Brasil abriu uma crise entre os dois governos. O diplomata levantou bandeira branca na festa.

BANDEIRA BRANCA 2
O governo italiano chamou o embaixador de volta a seu país para dar explicações sobre o caso Battisti. Marco Aurélio perguntou quando ele viajaria à Itália. "Eu resisto", disse o embaixador.

LIVROS
Galeno Amorim será o novo presidente da Biblioteca Nacional.

VIP
A ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra foi acomodada no lugar reservado aos grandes empresários na posse de Dilma Rousseff, ontem, no Palácio do Planalto.

 


Sentou-se ao lado de Luiz Trabuco e Lázaro Brandão, do banco Bradesco, de Luiz Nascimento, da construtora Camargo Côrrea, e de Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez.

NOVO TEMPO
A presidente Dilma Rousseff (PT) imprimiu um novo ritmo ao Réveillon da posse: morno, quase frio.

NOVO TEMPO 2
Ao contrário de Lula, que em 2002 foi a três festas de arromba em Brasília (uma organizada por Delúbio Soares no hotel Blue Tree, outra, para mil pessoas, do vice José Alencar, e mais uma no Clube do Congresso), onde cantou, discursou e chorou, a presidente ficou trancada na Granja do Torto com familiares. Com isso, os ministros decidiram fazer jantares íntimos, discretos.

DE LONGE
O ministro Guido Mantega, da Fazenda, recebeu amigos e o colega Fernando Haddad, da Educação, em sua casa. Antonio Palocci, da Casa Civil, nem sequer apareceu em Brasília. Nem o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, que ficou no Paraná.

ALTA RODA
O ministro Alexandre Padilha, da Saúde, e o do Esporte, Orlando Silva, festejaram a entrada de 2011 na casa de amigos. Deram uma passada também na casa do publicitário Wagner Guimarães no Lago Norte, para onde foi Clara Ant, assessora de Lula.

ALTA RODA 2
A festa foi animada por uma roda de samba, na qual Orlando Silva (PSB) se arriscou tocando pandeiro e reco-reco na companhia da mulher, a atriz de teatro Ana Petta, a Tininha.

ÚLTIMO ADEUS
Do outro lado da capital federal, no Lago Sul, o ministro José Eduardo Cardozo (PT), da Justiça, virava o ano na casa do ex-deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), um dos mais próximos amigos do presidente Lula em Brasília, e convidado para descer a rampa do Planalto na despedida do governo.

com DIÓGENES CAMPANHA, de Brasília e LÍGIA MESQUITA



Texto Anterior: Pelo país
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.