São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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PRESIDÊNCIA / AVALIAÇÃO DO 1º TURNO

Lula atribui revés a dossiê e falta no debate

Para presidente e maior parte dos ministros, passar o segundo turno "sofrendo" pelo caso do dossiê pode causar derrota

Candidato do PT fica calado ao saber do resultado e recebe ligações de Jaques Wagner, Marcelo Déda, Olívio Dutra e Mercadante


KENNEDY ALENCAR
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Avaliando que foi um erro ter faltado ao debate da Rede Globo na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que a Polícia Federal solucione o mais rápido possível a origem do dinheiro do dossiêgate. Ele e os principais ministros avaliaram que passar o segundo turno sangrando com o caso poderá resultar na vitória do candidato da aliança PSDB-PFL, Geraldo Alckmin.
Lula acompanhou o noticiário sobre a apuração com ministros e auxiliares no Palácio da Alvorada. Por volta das 22h de ontem à noite, o jornalista João Santana chegou perto do presidente e disse: "Não vai dar". Lula ficou calado, segundo relato de auxiliares. Os ministros presentes começaram a tentar animá-lo, dizendo que a votação do primeiro turno havia sido expressiva e que ele vencerá na segunda rodada.
O candidato do PDT, Cristóvam Buarque, ligou para Lula para "mandar um abraço", relatou à Folha um dos presentes. Surpresa da eleição, Jaques Wagner, que venceu a disputa baiana, telefonou para o presidente. Lula falou ainda com Marcelo Déda, eleito governador de Sergipe, o ex-ministro Olívio Dutra, que passou ao segundo turno no Rio Grande do Sul, e Aloizio Mercadante, derrotado em São Paulo.
Por volta das 21h15, auxiliares do presidente ainda acreditavam em vitória. Estrategistas da campanha falavam em uma dianteira de um milhão de votos, o que não se confirmou. Uma das mais entusiasmadas torcedoras era a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que repetia "não vai ter segundo turno, não vai ter".
Além de Dilma, os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais), Guido Mantega (Fazenda) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça), entre outros auxiliares, estavam no Alvorada.
Por volta de 23h30 os ministros que acompanhavam a apuração com o presidente começaram a deixar o Palácio e reconhecer que o triunfo esperado no primeiro turno não viria.
Genro se esquivou de apontar uma causa para a queda nos últimos dias. Questionado por que Lula não ganhou no primeiro turno, respondeu: "Não ganhou porque nós não chegamos a 50%". Apesar do evidente desapontamento com mais 30 dias de campanha pela frente, o petista classificou de "extraordinário" o resultado.
O esforço para tratar o resultado como vitória era evidente. O vice-presidente da República, José Alencar, também afirmou que Lula foi o "vitorioso", uma vez que foi o candidato com o maior número de votos.
"Faltaram alguns pontos percentuais, coisa de zero vírgula não sei o quê, para que ele tivesse ganho", disse Alencar, que completou: "Lula só não ganhou no primeiro turno porque isso é bom para o Brasil".
Mesmo com o discurso otimista, Alencar disse que nas últimas duas semanas Lula foi alvo de "maledicências".
"Acho que esta campanha teve um trabalho ligado à maledicência, maledicência contra o Lula, quando ele não tinha nada a ver com nenhuma dessas coisas que aconteceram."
O vice disse que agora Lula vai a debates, mas que foi "voto vencido" no primeiro turno, quando defendeu a ida do presidente às discussões, porque avaliava que ele ganharia. Para Alencar, não há dúvidas sobre o resultado do segundo turno. "Quem gosta do Brasil, gosta do Lula, porque o Lula é o Brasil."
O ministro da Fazenda, Guido Mantega atribuiu o segundo turno à "questão do dossiê, que evidentemente atrapalhou um pouco" e "à questão das fotos do dinheiro, que foram supervalorizadas pela imprensa".


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