São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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PRESIDÊNCIA / ESTRATÉGIA PARA O 2º TURNO

Escândalo do dossiê seguirá sangrando Lula, diz analista

Para Cláudio Couto, votação de Afif para o Senado em São Paulo é sinal que "estrago" no PT foi maior que o esperado

Para o professor Carlos Ranulfo, da UFMG, crescerá a influência da TV e Alckmin já terá de lidar com disputa prematura tucana por 2010


FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Decisivo no primeiro-turno, o escândalo do dossiê vai continuar sangrando a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva no embate com Geraldo Alckmin (PSDB) em 29 de outubro. "O estrago vai aumentando ao longo dos dias e o tema não tem data para sair da agenda, porque a investigação está em curso", afirma o cientista político e professor da PUC de São Paulo Claudio Couto.
Um dos índices do alcance da crise, aponta Couto, é a votação expressiva de Guilherme Afif (PFL) para o Senado em São Paulo -43% dos votos válidos até o fechamento desta edição, quando as pesquisas de intenção de voto apontavam pouco mais de 30%, contra 53% de Eduardo Suplicy (PT), que foi eleito com 47% dos votos.
"É surpreendente. O efeito é maior que se podia avaliar", diz o professor da PUC, que enxerga no voto em Afif o aumento da rejeição ao PT.
O favoritismo de Lula, porém, não foi revertido, diz ele."Mas tudo mostra que Alckmin entra no segundo turno com condições de criar muitos problemas para o presidente, principalmente se o crescimento dos últimos dias se confirma uma tendência."
Os cientistas políticos Carlos Ranulfo e Fabiano Santos vêem, nas próximas semanas, poucas alterações do quadro atual. E lamentam: haverá acirramento de ânimos e o dossiê continuará monopolizando os holofotes, sem espaço para discussões programáticas. "Vai ser uma campanha muito pouco produtiva para o país", afirma Santos.
Ranulfo diz que a única chance de Lula recuperar a agenda da campanha é que o caso, que ele considera "um tema da eleição paulista contrabandeado para a campanha nacional", se resolva rápido. "Lula tem mais a ganhar com a resolução rápida do caso do dossiê", diz ele, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O professor acredita que na campanha de segundo turno crescerá a importância dos programas de TV. "Programa na TV e debates vão ser decisivos. É tudo mais concentrado e há muitos Estados sem segundo turno. Tudo isso contribui para que o horário político vai assumir muita importância."
Para Fabiano dos Santos, a estratégia do PT no segundo-turno deve combinar revide aos ataques da oposição com um "esclarecimento cabal do partido" sobre o episódio, que tirou de Lula votos da classe média. "A classe média estava indecisa e com memória não muito positiva [do PT]. Ela se vê como pagadora de impostos e como não recebedora dos benefícios e a questão ética tem um peso muito grande."

Passos tucanos
Se torce para que o PT não estanque a crise, o PSDB também terá de esforçar para mostrar que Alckmin tem um programa de governo consolidado e que "não é tão conservador assim", analisa Couto. "Para se tornar realmente competitivo ele vai ter de atrair um eleitor de centro-esquerda, que pode votar no PT ou no PSDB, desde que o candidato tucano pareça mais confiável [para esse eleitorado]", explica.
"Alckmin explorou, e muito bem, todas as possibilidades do voto tucano. Só ir para o segundo turno já é um feito memorável. Agora, o desafio é conseguir, desesperadamente, os votos dos demais e lutar para tirar votos de Lula", afirma Santos.
É mais provável que o tucano arrebanhe os votos de Cristovam Buarque (PDT) do que de Heloísa Helena (PSOL). "E se o eleitor de Heloísa resolve votar nulo, aí é vantagem para Lula", afirma Claudio Couto.
Outro desafio para o tucano, diz Ranulfo, é administrar os problemas internos do PSDB."Não vejo o PSDB com tanto entusiasmo com a campanha de Alckmin no segundo turno. O partido já tem dois candidatos a presidente em 2010. Se Alckmin ganha, vão ser três", diz, em referência aos "presidenciáveis" José Serra e a Aécio Neves.


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