São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2006

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ESTADOS/BAHIA

Eleito, petista impõe derrota ao carlismo

Inesperada virada de Jaques Wagner sobre o governador pefelista Paulo Souto resolve a eleição já no primeiro turno

Triunfo de ex-ministro afasta partido do senador Antonio Carlos Magalhães do governo do Estado pela primeira vez desde 1990

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Em uma das mais surpreendentes viradas eleitorais, o ex-ministro Jaques Wagner (PT), 55, impôs ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), 79, a maior derrota eleitoral do carlismo nos últimos 20 anos.
Até a 1h25 de hoje, com 99,94% das urnas apuradas em todo o Estado, o candidato petista tinha 52,89% dos votos válidos, contra 43,03% do seu principal concorrente, o atual governador, Paulo Souto (PFL), 62. O resultado representa a vitória em primeiro turno do representante petista.
Em relação aos demais candidatos, Átila Brandão (PSC), registrava 3,09% dos votos válidos. Os demais concorrentes, somados, não atingiam 1%.
Desde 1990, quando se recuperou da derrota imposta pelo ex-ministro Waldir Pires (Defesa), o senador ACM reina absoluto na política estadual -há 16 anos o PFL está à frente do governo da Bahia. Em 1986, o ex-senador Josaphat Marinho, que havia contado com o apoio de ACM, perdeu as eleições.
Ontem, aplaudido por dezenas de amigos e correligionários, Wagner creditou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva "mais de 50%" de sua vitória.
"A aprovação do governo Lula foi fundamental para que eu derrotasse o que há de mais atrasado na política brasileira, que é o grupo comandado pelo senador Antonio Carlos Magalhães. Se houver segundo turno [para presidente], vou arregaçar as mangas e fazer campanha para o Lula." Ontem à noite, foi confirmado que haverá segundo turno presidencial.
Com a derrota de Paulo Souto, ACM praticamente fica isolado. Há dois anos, o seu grupo também perdeu a Prefeitura de Salvador para o PDT. Na ocasião, o senador Rodolpho Tourinho (PFL), que foi apoiado por ACM, também perdia por uma grande diferença as eleições para o ex-governador João Durval Carneiro (PDT).
"A vitória de Wagner significa o fim das oligarquias na Bahia, o fim das manipulações, o fim dos abusos cometidos pelo senador Antonio Carlos Magalhães", disse Waldir Pires (PT).

Reviravolta
A virada eleitoral na Bahia aconteceu nas últimas 48 horas. No dia anterior à votação, uma pesquisa do Ibope revelava o crescimento de Jaques Wagner (de 31% para 36%) e uma queda de Souto (de 48% para 44%), mas mesmo assim apontava a possibilidade de vitória do atual governador ainda no primeiro turno.
"Percebi, nas várias visitas que fiz às cidades do interior, que os baianos estavam ansiosos por uma mudança", declarou Wagner na manhã de ontem, após votar.
ACM, também logo após votar, disse que acreditava na reeleição de Paulo Souto. "Temos o melhor candidato e vamos vencer novamente", declarou o senador, lembrando que há quatro anos o governador também havia derrotado o seu principal adversário.
À noite, ao reconhecer a derrota, Souto disse que sai "com a cabeça erguida" do governo e desejou "boa sorte" a Wagner.
Com o resultado, o ex-ministro do Trabalho vai conquistar a sua primeira vitória em uma eleição majoritária -além de ser derrotado por Souto em 2002, o petista também perdeu outra disputa, dessa vez para a Prefeitura de Camaçari.
Com um grande reduto eleitoral na região metropolitana de Salvador, Wagner privilegiou os pequenos municípios nesta campanha.
Nas viagens que fez nos últimos quatro meses, o petista utilizou sempre a mesma estratégia -fazia "base" em um grande centro e, depois, percorria as pequenas cidades.
Nas duas semanas que antecederam a eleição, Wagner contou com a popularidade de Lula para conquistar mais eleitores. Em comícios realizados em Feira de Santana (108 km de Salvador) e na capital baiana, Lula criticou duramente o senador ACM, chamando-o de "hamster do Nordeste", além de pedir votos para Wagner.
Em seu programa gratuito na televisão, Wagner também utilizou muito a imagem de Lula.
"Sempre fui muito vinculado ao presidente, e nada melhor do que utilizar o maior cabo eleitoral do nosso partido durante a campanha", afirmou o candidato do PT, dois dias antes de os eleitores comparecerem às urnas.
Com a derrota de ACM, Wagner e o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PDT), saem destas eleições como os grandes vitoriosos na política baiana.
Carneiro apostou todas as suas fichas em Wagner desde o começo da campanha, contrariando recomendação da direção nacional do seu partido -a partir de janeiro, o prefeito deve trocar o PDT pelo PMDB.

Família
O pai do prefeito, o ex-governador João Durval Carneiro (PDT), foi eleito para uma cadeira no Senado, derrotando o senador Rodolpho Tourinho (PFL), que tinha o apoio de Antonio Carlos Magalhães.
Há dois anos, Carneiro também impôs uma grande derrota a ACM, quando foi eleito para a Prefeitura de Salvador.
"Os eleitores querem mudanças. Estão insatisfeitos com a velha política que domina a Bahia há muitos anos", disse Carneiro, que também deu apoio ao presidente Lula em sua campanha à reeleição.


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