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ESTADOS/BAHIA
Eleito, petista impõe derrota ao carlismo
Inesperada virada de Jaques Wagner sobre o governador pefelista Paulo Souto resolve a eleição já no primeiro turno
Triunfo de ex-ministro afasta partido do senador Antonio Carlos Magalhães do governo do Estado pela primeira vez desde 1990
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Em uma das mais surpreendentes viradas eleitorais, o ex-ministro Jaques Wagner (PT),
55, impôs ao senador Antonio
Carlos Magalhães (PFL), 79, a
maior derrota eleitoral do carlismo nos últimos 20 anos.
Até a 1h25 de hoje, com
99,94% das urnas apuradas em
todo o Estado, o candidato petista tinha 52,89% dos votos válidos, contra 43,03% do seu
principal concorrente, o atual
governador, Paulo Souto
(PFL), 62. O resultado representa a vitória em primeiro turno do representante petista.
Em relação aos demais candidatos, Átila Brandão (PSC),
registrava 3,09% dos votos válidos. Os demais concorrentes,
somados, não atingiam 1%.
Desde 1990, quando se recuperou da derrota imposta pelo
ex-ministro Waldir Pires (Defesa), o senador ACM reina absoluto na política estadual -há
16 anos o PFL está à frente do
governo da Bahia. Em 1986, o
ex-senador Josaphat Marinho,
que havia contado com o apoio
de ACM, perdeu as eleições.
Ontem, aplaudido por dezenas de amigos e correligionários, Wagner creditou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
"mais de 50%" de sua vitória.
"A aprovação do governo Lula foi fundamental para que eu
derrotasse o que há de mais
atrasado na política brasileira,
que é o grupo comandado pelo
senador Antonio Carlos Magalhães. Se houver segundo turno
[para presidente], vou arregaçar as mangas e fazer campanha para o Lula." Ontem à noite, foi confirmado que haverá
segundo turno presidencial.
Com a derrota de Paulo Souto, ACM praticamente fica isolado. Há dois anos, o seu grupo
também perdeu a Prefeitura de
Salvador para o PDT. Na ocasião, o senador Rodolpho Tourinho (PFL), que foi apoiado
por ACM, também perdia por
uma grande diferença as eleições para o ex-governador João
Durval Carneiro (PDT).
"A vitória de Wagner significa o fim das oligarquias na Bahia, o fim das manipulações, o
fim dos abusos cometidos pelo
senador Antonio Carlos Magalhães", disse Waldir Pires (PT).
Reviravolta
A virada eleitoral na Bahia
aconteceu nas últimas 48 horas. No dia anterior à votação,
uma pesquisa do Ibope revelava o crescimento de Jaques
Wagner (de 31% para 36%) e
uma queda de Souto (de 48%
para 44%), mas mesmo assim
apontava a possibilidade de vitória do atual governador ainda
no primeiro turno.
"Percebi, nas várias visitas
que fiz às cidades do interior,
que os baianos estavam ansiosos por uma mudança", declarou Wagner na manhã de ontem, após votar.
ACM, também logo após votar, disse que acreditava na reeleição de Paulo Souto. "Temos
o melhor candidato e vamos
vencer novamente", declarou o
senador, lembrando que há
quatro anos o governador também havia derrotado o seu
principal adversário.
À noite, ao reconhecer a derrota, Souto disse que sai "com a
cabeça erguida" do governo e
desejou "boa sorte" a Wagner.
Com o resultado, o ex-ministro do Trabalho vai conquistar
a sua primeira vitória em uma
eleição majoritária -além de
ser derrotado por Souto em
2002, o petista também perdeu
outra disputa, dessa vez para a
Prefeitura de Camaçari.
Com um grande reduto eleitoral na região metropolitana
de Salvador, Wagner privilegiou os pequenos municípios
nesta campanha.
Nas viagens que fez nos últimos quatro meses, o petista
utilizou sempre a mesma estratégia -fazia "base" em um
grande centro e, depois, percorria as pequenas cidades.
Nas duas semanas que antecederam a eleição, Wagner
contou com a popularidade de
Lula para conquistar mais eleitores. Em comícios realizados
em Feira de Santana (108 km
de Salvador) e na capital baiana, Lula criticou duramente o
senador ACM, chamando-o de
"hamster do Nordeste", além
de pedir votos para Wagner.
Em seu programa gratuito na
televisão, Wagner também utilizou muito a imagem de Lula.
"Sempre fui muito vinculado
ao presidente, e nada melhor
do que utilizar o maior cabo
eleitoral do nosso partido durante a campanha", afirmou o
candidato do PT, dois dias antes de os eleitores comparecerem às urnas.
Com a derrota de ACM, Wagner e o prefeito de Salvador,
João Henrique Carneiro
(PDT), saem destas eleições como os grandes vitoriosos na política baiana.
Carneiro apostou todas as
suas fichas em Wagner desde o
começo da campanha, contrariando recomendação da direção nacional do seu partido -a
partir de janeiro, o prefeito deve trocar o PDT pelo PMDB.
Família
O pai do prefeito, o ex-governador João Durval Carneiro
(PDT), foi eleito para uma cadeira no Senado, derrotando o
senador Rodolpho Tourinho
(PFL), que tinha o apoio de Antonio Carlos Magalhães.
Há dois anos, Carneiro também impôs uma grande derrota
a ACM, quando foi eleito para a
Prefeitura de Salvador.
"Os eleitores querem mudanças. Estão insatisfeitos com
a velha política que domina a
Bahia há muitos anos", disse
Carneiro, que também deu
apoio ao presidente Lula em
sua campanha à reeleição.
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