São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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Papa promoveu internacionalização do clero

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

O leque de nacionalidades para o futuro papa está bastante aberto devido à internacionalização do alto clero promovida por João Paulo 2º, cardeal polonês (cujo nome de batismo é Karol Wojtyla) que rompeu o monopólio italiano de mais de 450 anos ao ser eleito em 1978.
No Colégio Cardinalício estão representados mais de 50 países. Apesar dessa diversidade, a distribuição geográfica dos cardeais não corresponde à realidade.
No pontificado que agora se encerra, a Igreja Católica deixou de ter maioria européia. Em 2000, 67% dos católicos já se encontravam na América Latina, na África e na Ásia, mas os cardeais eleitores dessas regiões representam apenas 32% do total.
Desde a última nomeação de cardeais (em 2003), a igreja possui 95 cardeais europeus (com 58 eleitores, o que representa metade do total), 18 de Estados Unidos e Canadá (14 eleitores), 31 da América Latina (21 eleitores), 16 da África (11 eleitores), 18 da Ásia (11 eleitores) e cinco da Oceania (dois eleitores), totalizando 183 cardeais (117 eleitores).
Desta vez, a preferência pode ser da Itália, que lidera o ranking dos países com mais cardeais -são 38 (20 com direito a voto). EUA (13 cardeais -11 dos quais são eleitores), Alemanha (8 cardeais -6 eleitores) e Brasil (8 cardeais -4 eleitores) completam o topo da lista.
Votam os cardeais que têm menos de 80 anos. O mais novo é o húngaro Péter Erdo, nascido em 25 de junho de 1952, e o mais velho é o holandês Johannes Willebrands, nascido em 4 de setembro de 1909.
Entre os candidatos mais cotados à sucessão, está o secretário de Estado do Vaticano, o italiano Angelo Sodano.
Conservador, Sodano presidiu a Conferência dos Bispos Latino-Americanos em Santo Domingo, em 1992. Devido a divergências, trancou-se no quarto do hotel, dizendo-se "horrorizado" com as posições pouco conservadoras dos presentes, e afirmou que só sairia para voltar a Roma. Foi convencido a permanecer por meio de notas passadas por debaixo da porta e certa insistência.
Camillo Ruini (conservador), vigário-geral da diocese de Roma e presidente da conferência episcopal italiana, e Dionigi Tettamanzi, nomeado em 2002 arcebispo de Milão, são outros candidatos italianos. A saúde debilitada de Ruini (que passou por uma cirurgia cardíaca em 2000) o prejudica.
Fazem parte ainda da lista de "papabili" Francis Arinze, filho de um chefe tribal da Nigéria com papel de destaque na expansão católica na África e no diálogo com hindus, muçulmanos e budistas, e Ivan Dias, arcebispo de Mombai (na Índia) que fez carreira no serviço diplomático do Vaticano a partir de 1965 e esteve em diversos países africanos, na Coréia do Sul e na Albânia.

Latino-americanos
Em uma entrevista concedida a uma rádio alemã, o cardeal Karl Lehman (ele próprio um candidato à sucessão) disse que o próximo papa virá da América Latina. Outros cardeais também afirmaram acreditar que o futuro líder católico virá dessa região.
Entre os favoritos à sucessão estão o hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, o cubano Jaime Lucas Ortega y Alamino (que promoveu a igreja em Cuba), os brasileiros Cláudio Hummes e Geraldo Majella Agnelo, o colombiano Dario Castrillón Hoyos e o mexicano Norberto Rivera Carrera.
Arcebispo de São Paulo, d. Cláudio integrou várias comissões de assessoria papal e é considerado o brasileiro com mais chances.
Os cardeais rejeitam tentativas de comentar o assunto. De culturas e pontos de vista diferentes, têm em comum o silêncio.
O cardeal mexicano Juan Sandoval Íñiguez, arcebispo de Guadalajara, resumiu como a Igreja Católica lida com a questão. "Quem sabe quem será o próximo papa? O Espírito Santo."


Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


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