São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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Obra poética aponta para o místico

NELSON ASCHER
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Quando o cardeal Wojtyla foi eleito papa em outubro de 1978, sob o nome de João Paulo 2º, é que se soube pela primeira vez", observa Constantin Jelenski na ótima antologia de poesia polonesa que organizou e ajudou a traduzir para o francês, "que ele havia publicado, de 1950 a 1966, poemas sob o pseudônimo de "Andrzej Jawien" em duas revistas católicas, recusando-se todavia a reuni-los num volume".
Karol Wojtyla, enquanto poeta, inscreve-se numa geração (nascida entre 1910-30) que foi responsável pela renovação vigorosa de uma tradição poética que, entre as eslavas, foi a primeira a se consolidar, pois faz-se grande poesia no país continuamente desde sua própria renascença, que ocorreu em íntimo contato com a matriz italiana. À geração do papa pertencem dois poetas ganhadores do prêmio Nobel, Czeslaw Milosz e Wyslawa Szymborska, bem como dois outros dentre os maiores poetas com que a Polônia contribuiu para a literatura européia do pós-guerra: Zbigniew Herbert e Tadeusz Rozewicz.

Despojamento e mística
Entrevêem-se na obra do papa tanto as trágicas influências históricas que levaram seus colegas de geração a desenvolver um modo conciso e despojado de escrever quanto um certo ressurgimento, principiado entre as duas guerras e encontrando paralelos também nos países vizinhos, principalmente entre os tchecos e os húngaros, de uma poesia mística e religiosa, carregada de ecos que poderiam ser chamados de existencialistas.
Jelenski nota a influência nos escritos de João Paulo 2º do poeta e místico espanhol San Juan de la Cruz, que foi tema de sua tese de doutoramento.
A verdade é que a literatura místico-religiosa de todo o mundo, mesmo no caso de obras tão remotas quanto, digamos, o "Livro da Rota e da Retidão" (Tao Te Tching) dos chineses, vale-se de um repertório mais ou menos comum de recursos estilísticos, reservando um lugar privilegiado para os paradoxos e os oxímoros. É o que se pode verificar num ciclo como "As Margens do Silêncio", de 1944.


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