|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOÃO PAULO 2º
REVISÃO HISTÓRICA
Pedidos de perdão curaram feridas
João Paulo 2º adotou o arrependimento como um dos
temas-chave, lamentou erros da Igreja Católica e foi o
primeiro líder católico a entrar numa mesquita
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em iniciativas sem precedentes, João Paulo
2º pediu perdão a
Deus por erros da
Igreja Católica, em especial pelo tratamento dispensado aos judeus e pelas
violações de direitos de grupos étnicos e religiosos, incluindo ciganos e imigrantes. Adotou o arrependimento como um dos temas-chave do ano do Jubileu -e de
seu papado também.
A missa do Dia do Perdão, celebrada na basílica de São Pedro em
março de 2000, fez parte de uma
campanha por um exame de
consciência no início do terceiro
milênio da Igreja Católica. Na cerimônia, cinco cardeais e dois bispos faziam uma confissão dos erros da igreja e o papa respondia.
Depois de cada pedido de perdão,
acendia uma lâmpada diante de
um crucifixo. No total, foram sete.
"Pai de todos os homens, por
meio de Teu Filho nos pediste para amar os inimigos, fazer bem
aos que nos odeiam e orar pelos
que nos perseguem. Muitas vezes,
no entanto, os cristãos desmentiram o Evangelho e, cedendo à lógica da força, violaram os direitos
de etnias e povos, depreciando
suas culturas e tradições religiosas", disse o papa no "mea culpa".
Abusos da Inquisição
No documento "Memória e Reconciliação: A Igreja e os Erros do
Passado", o papa também descreveu como erros divisões internas
no cristianismo, conversões forçadas e o uso da violência. O texto
faz alusão à tortura e à queima dos
hereges nas fogueiras, apesar de
dizer que "em diversas ocasiões
no último milênio métodos duvidosos foram utilizados para obter
resultados justos". Referências a
abusos cometidos nas Cruzadas e
na Inquisição, aliadas a visitas a
países islâmicos, reforçaram uma
aproximação com o islã.
João Paulo 2º foi o primeiro líder católico a entrar em uma sinagoga, em 1986, em Roma, e publicou um documento sobre o Holocausto em 1998. Na ocasião, o papa expressou arrependimento pelo fato de católicos terem deixado
de ajudar judeus a escapar da tragédia. O documento foi além de
qualquer outro comunicado prévio do Vaticano, mas desapontou
líderes judeus que queriam que
ele reconhecesse a suposta responsabilidade de autoridades da
igreja -em particular de Pio 12,
papa que é tema de divergência
entre o Vaticano e organizações
judaicas no que concerne sua
atuação durante o nazismo.
Em maio de 2001, João Paulo 2º
também se tornou o primeiro líder católico a entrar em uma mesquita, na Síria, onde exortou cristãos e muçulmanos a pedir perdão mutuamente por erros cometidos no passado.
O papa também pediu perdão
"pelas divisões entre os cristãos",
em referência principalmente às
desavenças com os protestantes e
com os cristãos ortodoxos, que se
separaram da Igreja Católica no
Grande Cisma do Oriente, em
1054, quando os bispos de Roma e
de Constantinopla se excomungaram mutuamente.
Nas campanhas de reaproximação ecumênica, buscou a reconciliação com protestantes, especialmente luteranos. Desencadeada
pelo teólogo alemão Martinho
Lutero (1483-1546), a Reforma
Protestante marcou o rompimento de um grupo de cristãos com a
Igreja Católica. Lutero publicou
95 teses em que condenava a venda de indulgências. Os protestantes não reconhecem a autoridade
papal e rejeitam o culto a Maria e
aos santos.
Em outubro de 1999, católicos e
luteranos puseram fim a diversas
desavenças doutrinárias em um
documento descrito pelo papa como "um marco no complexo caminho para reconstruir a plena
unidade entre os cristãos".
Alguns católicos expressaram
reservas em relação aos pedidos
de perdão por vê-los como uma
concessão "àqueles que são hostis" à igreja. Para o papa, o ato não
foi um julgamento sobre a "responsabilidade subjetiva dos cristãos que nos precederam, mas um
sincero reconhecimento das culpas cometidas pelos filhos da igreja no passado". O documento de
perdão diz que muitos atos passados não podem ser julgados tendo em mente apenas os padrões
morais contemporâneos.
(PAULO DANIEL FARAH)
Texto Anterior: Teatro incentivou formação humanista Próximo Texto: Papa usou internet e engajou Vaticano na mídia moderna Índice
|