São Paulo, domingo, 03 de abril de 2005

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JOÃO PAULO 2º

ATUAÇÃO INTERNACIONAL

Papa influenciou na queda do comunismo

Originário da Polônia, que vivia sob o comunismo, João Paulo 2º utilizou sua força para ajudar a desestabilizar os regimes comunistas europeus, que reprimiam o catolicismo

ESPECIAL PARA A FOLHA

À frente do Vaticano, João Paulo 2º liderou uma vigorosa ação política contra o comunismo. A Polônia, terra natal de Karol Wojtyla, foi a primeira peça do "efeito dominó" que levou abaixo o comunismo no Leste Europeu no final dos anos 80.
A cúpula soviética estremeceu com a visita de João Paulo 2º a Varsóvia (capital polonesa) em 1979, um ano após sua eleição como papa.
Relatório enviado ao Politburo pelo Conselho para Assuntos Religiosos da União Soviética dizia: "Os camaradas poloneses caracterizam João Paulo 2º como mais reacionário em assuntos da igreja e mais perigoso no nível ideológico que seus predecessores. Quando cardeal, distinguiu-se por sua posição anticomunista".

"Marxismo selvagem
Antes mesmo de ser nomeado cardeal, Wojtyla ajudou a instalar clandestinamente cruzes de madeira em campos da Polônia e incentivou a construção de igrejas numa época em que o governo via com péssimos olhos qualquer manifestação religiosa.
Em novembro de 1989, com um "empurrão" do papa, caiu o Muro de Berlim, e, em dezembro do mesmo ano, o líder soviético Mikhail Gorbatchov atravessou a praça de São Pedro para um encontro histórico.
Os pesquisadores Marco Politi e Carl Bernstein falam, no livro "Sua Santidade - João Paulo 2º e a História Oculta de Nosso Tempo", em uma aliança secreta entre a Santa Sé e a CIA (agência de inteligência dos EUA) para combater movimentos políticos considerados pró-marxistas. Líderes comunistas sobretudo do Leste Europeu procuraram evitar a presença do papa.
O papa definiu, porém, o "capitalismo selvagem" como equivalente ao "marxismo selvagem". Estudiosos afirmam que, na opinião do líder católico, a Igreja Ortodoxa teria uma "dívida de gratidão" por sua contribuição para o fim das perseguições típicas da era comunista.

Fracasso da diplomacia
No início de 1998, viajou a Cuba. "Não sou profeta. Quem viver verá", disse o papa quando lhe perguntaram se sua visita significava o "começo do fim" do comunismo na ilha.
João Paulo 2º defendeu o perdão da dívida externa de países em desenvolvimento e visitou o Chile sob comando do ditador Augusto Pinochet (o papa foi criticado por isso). Além disso, ajudou a evitar uma guerra entre o Chile e a Argentina pelo controle de três ilhas na entrada do canal de Beagle.
Enviou representantes do Vaticano para que servissem de árbitros na disputa e no compromisso de uma solução pacífica. Em janeiro de 1984, esses países firmaram um Tratado de Paz e Amizade. A cerimônia aconteceu no Vaticano em homenagem ao papa.
O papa buscou impedir a guerra contra o Iraque, exortou fiéis de todas as religiões a jejuarem em favor da paz e descreveu a ofensiva militar como "imoral e injusta". Poucas horas depois do início da guerra, em 20 de março de 2003, o Vaticano expressou uma "dor profunda" com a situação e criticou as partes envolvidas no conflito pelo fracasso da diplomacia. "Quando uma guerra, como a que ocorre no Iraque, ameaça o destino da humanidade, é urgente que proclamemos, com uma voz forte e decidida, que somente a paz é o caminho a ser seguido para construir uma sociedade mais justa e mais unida. A violência e as armas nunca poderão resolver os problemas dos homens", afirmou o papa após o início da ofensiva inicial, que durou até 1º de maio de 2003.
A mais sólida instituição do Ocidente (o papado, nas palavras de Frei Betto) foi administrada nos últimos 20 séculos por seres humanos que influenciaram a história mundial por meio de decisões religiosas e políticas -às vezes por motivações pessoais.
(PAULO DANIEL FARAH)


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