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ANÁLISE
Com Jogos, Rio voltará a ser objeto de desejo
CARLOS LESSA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Rio de Janeiro foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.
Creio que o Brasil festeja essa
escolha e que, no Rio, surja um
sentimento de euforia.
Não quero jogar água fria na
festa, mas pretendo sublinhar
as repercussões que emanam
da escolha que foi feita.
A ideia da decadência histórica do Rio de Janeiro vem sedimentando corações; o carioca
tem vergonha da prevalência
da violência urbana nas manchetes da mídia.
Jamais se praticou no Brasil
-e muito menos na capital fluminense- a prática europeia
de um silêncio tácito sobre violências e latrocínios.
Como turista, fui roubado algumas vezes na Itália; duas vezes fui roubado em Paris e
uma vez na Espanha, mas até
hoje não fui roubado no Rio de
Janeiro, onde nasci e vivo há
mais de 70 anos.
A escolha do Rio como sede
da Olimpíada neutralizará, em
parte, a nova imagem -quase
cronificada- de cidade violenta e ajudará a elevar a autoestima carioca.
O Rio de Janeiro é a cidade
do convívio maravilhoso, e nossa multidão é pacífica e alegre
por natureza. O mundo irá redescobrir isso, e o Rio voltará a
ser objeto de desejo.
Não creio que venha a acontecer uma explosão e a consolidação do Rio como destino de
turismo internacional.
Duas razões militam contra:
primeiro, a viagem para o Brasil
é cara; segundo, nosso país não
tem uma rede de oportunidades turísticas articulada.
Tenho maior esperança na
reativação do turismo interno
brasileiro com destino ao Rio.
O dom definitivo da Olimpíada para o Rio será a prioridade
indispensável de reformulação
do transporte coletivo urbano.
Será indispensável reduzir o
peso da modalidade ônibus e
haverá a instalação do metrô de
superfície nos ramais das antigas Central do Brasil e Leopoldina, o que beneficiará diretamente mais de 60% da população metropolitana, reduzindo o
tempo de deslocamento residência-trabalho-residência.
É impossível realizar uma
Olimpíada e manter o Canal do
Cunha como "cartão de visita"
da cidade.
Se Brasília tivesse dado ao
Rio a atenção que a ex-capital
merece, diversos prédios federais teriam sido transferidos
para um bom uso urbano.
É um crime impedir que a Biblioteca Nacional cresça e
manter imóveis próprios federais desocupados nas imediações. O Museu Histórico da Cidade está escondido no parque
da Gávea.
Há uma óbvia subutilização
do hospital São Francisco, apodrecido em mãos da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro), e do prédio do antigo Ministério da Fazenda, que
deveria ser um espaço museológico ou cultural.
Na praça Quinze, o antigo
prédio do Instituto do Açúcar e
do Álcool é subutilizado, e assim por diante.
Como o Brasil não pode
"dar vexame" para o olhar
mundial em nossa Olimpíada,
está na hora de nossos políticos
conseguirem concessões do
governo federal.
Creio que não haverá ciúme
nas demais cidades brasileiras.
CARLOS LESSA , 73, é doutor em economia,
professor emérito e ex-reitor da UFRJ e
ex-presidente do BNDES
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