São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Com Jogos, Rio voltará a ser objeto de desejo

CARLOS LESSA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Rio de Janeiro foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Creio que o Brasil festeja essa escolha e que, no Rio, surja um sentimento de euforia.
Não quero jogar água fria na festa, mas pretendo sublinhar as repercussões que emanam da escolha que foi feita.
A ideia da decadência histórica do Rio de Janeiro vem sedimentando corações; o carioca tem vergonha da prevalência da violência urbana nas manchetes da mídia.
Jamais se praticou no Brasil -e muito menos na capital fluminense- a prática europeia de um silêncio tácito sobre violências e latrocínios. Como turista, fui roubado algumas vezes na Itália; duas vezes fui roubado em Paris e uma vez na Espanha, mas até hoje não fui roubado no Rio de Janeiro, onde nasci e vivo há mais de 70 anos.
A escolha do Rio como sede da Olimpíada neutralizará, em parte, a nova imagem -quase cronificada- de cidade violenta e ajudará a elevar a autoestima carioca.
O Rio de Janeiro é a cidade do convívio maravilhoso, e nossa multidão é pacífica e alegre por natureza. O mundo irá redescobrir isso, e o Rio voltará a ser objeto de desejo.
Não creio que venha a acontecer uma explosão e a consolidação do Rio como destino de turismo internacional. Duas razões militam contra: primeiro, a viagem para o Brasil é cara; segundo, nosso país não tem uma rede de oportunidades turísticas articulada.
Tenho maior esperança na reativação do turismo interno brasileiro com destino ao Rio.
O dom definitivo da Olimpíada para o Rio será a prioridade indispensável de reformulação do transporte coletivo urbano.
Será indispensável reduzir o peso da modalidade ônibus e haverá a instalação do metrô de superfície nos ramais das antigas Central do Brasil e Leopoldina, o que beneficiará diretamente mais de 60% da população metropolitana, reduzindo o tempo de deslocamento residência-trabalho-residência. É impossível realizar uma Olimpíada e manter o Canal do Cunha como "cartão de visita" da cidade.
Se Brasília tivesse dado ao Rio a atenção que a ex-capital merece, diversos prédios federais teriam sido transferidos para um bom uso urbano. É um crime impedir que a Biblioteca Nacional cresça e manter imóveis próprios federais desocupados nas imediações. O Museu Histórico da Cidade está escondido no parque da Gávea.
Há uma óbvia subutilização do hospital São Francisco, apodrecido em mãos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e do prédio do antigo Ministério da Fazenda, que deveria ser um espaço museológico ou cultural. Na praça Quinze, o antigo prédio do Instituto do Açúcar e do Álcool é subutilizado, e assim por diante.
Como o Brasil não pode "dar vexame" para o olhar mundial em nossa Olimpíada, está na hora de nossos políticos conseguirem concessões do governo federal.
Creio que não haverá ciúme nas demais cidades brasileiras.


CARLOS LESSA , 73, é doutor em economia, professor emérito e ex-reitor da UFRJ e ex-presidente do BNDES


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