São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Com derrota, Obama é cada vez menos "o cara"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Barack Obama já não era mais "o cara" domesticamente. Com a "derrota olímpica" da Dinamarca, termo de sentido duplo pelo qual o dia de ontem vem sendo chamado nos meios políticos dos EUA, ele caminha para deixar de ser "o cara" também no palco internacional.
O democrata assumiu em janeiro com a agenda da mudança, mas acreditou que só a agenda seria suficiente para que o país mudasse, assim como pensou que só dar as caras ontem em Copenhague seria suficiente para derreter os corações e os votos. Não é e não foi.
O caso de Copenhague é simbólico de uma jovem gestão que se esforça em fazer tudo ao mesmo tempo agora.
Se se dedicasse só às duas guerras em andamento e à maior crise econômica das últimas décadas, Obama teria o suficiente para todo o mandato. Incluiu no pacote as mudanças do sistema de saúde pública e da matriz energética do país, entre outras reformas.
Os índices de popularidade caíram, o capital político se esvai, as reformas estão empacadas num Congresso em que ele tem maioria em ambas as Casas e os temas primordiais, como o Afeganistão, seguem de certa forma descuidados.
A derrota num palco internacional deu novo alento à oposição republicana, que na Fox News, nos "talk shows" conservadores das rádios e em parte do Congresso comemoravam mais do que os cariocas. Esse era o fogo esperado. O problema é que o revés trouxe também fogo amigo, e isso é grave.
Em Washington, em frente à Casa Branca, ativistas de meio ambiente protestavam vestidos de verde e com cartazes com o trocadilho: "Obama, mudança climática não é um jogo". O setor foi uma das bases de apoio à eleição do democrata, mas está cada vez mais frustrado com as concessões feitas para que a reforma ande.
Políticos progressistas passam a questionar também a capacidade do grupo que cerca o presidente, apontando como evidência a derrota fragorosa de Chicago, a primeira a cair. O argumento é que nenhum líder com o prestígio e a posição de Obama deveria sair de casa e se expor se não tivesse dados confiáveis o suficiente demonstrando que a vitória era certa -e ele foi o primeiro presidente dos EUA a fazer isso.
Aí está o segundo problema: Obama não poderia deixar de ir, justamente por conta desse grupo, formado por políticos de Chicago que ajudaram a colocar o então jovem líder comunitário no mapa. É um grupo do qual faz parte o prefeito Richard M. Daley, que em dezembro de 2010 entrará para a história como o político que mais tempo ocupou o cargo na cidade: 21 anos e nove meses.
O segundo colocado? Seu pai, Richard J. Daley, com 21 anos e oito meses, que morreu em 1976, na ativa. Sem Daley filho, a carreira política de Obama poderia até ter decolado, mas as portas fechadas seriam maiores e em maior número.
Da turma fazem parte também o chefe de gabinete (função similar a ministro-chefe da Casa Civil) Rahm Emanuel e dois dos três assessores sêniores de Obama, Valerie Jarrett e David Axelrod. Os três trabalharam em algum momento com Daley. "Vamos garantir bons ingressos também aos nossos críticos", cutucara Emanuel, cantando vitória.
Não será mais necessário.


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