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ANÁLISE
Com derrota, Obama é cada vez menos "o cara"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Barack Obama já não era
mais "o cara" domesticamente.
Com a "derrota olímpica" da
Dinamarca, termo de sentido
duplo pelo qual o dia de ontem
vem sendo chamado nos meios
políticos dos EUA, ele caminha
para deixar de ser "o cara" também no palco internacional.
O democrata assumiu em janeiro com a agenda da mudança, mas acreditou que só a agenda seria suficiente para que o
país mudasse, assim como pensou que só dar as caras ontem
em Copenhague seria suficiente para derreter os corações e
os votos. Não é e não foi.
O caso de Copenhague é simbólico de uma jovem gestão que
se esforça em fazer tudo ao
mesmo tempo agora.
Se se dedicasse só às duas
guerras em andamento e à
maior crise econômica das últimas décadas, Obama teria o suficiente para todo o mandato.
Incluiu no pacote as mudanças
do sistema de saúde pública e
da matriz energética do país,
entre outras reformas.
Os índices de popularidade
caíram, o capital político se esvai, as reformas estão empacadas num Congresso em que ele
tem maioria em ambas as Casas
e os temas primordiais, como o
Afeganistão, seguem de certa
forma descuidados.
A derrota num palco internacional deu novo alento à oposição republicana, que na Fox
News, nos "talk shows" conservadores das rádios e em parte
do Congresso comemoravam
mais do que os cariocas. Esse
era o fogo esperado. O problema é que o revés trouxe também fogo amigo, e isso é grave.
Em Washington, em frente à
Casa Branca, ativistas de meio
ambiente protestavam vestidos
de verde e com cartazes com o
trocadilho: "Obama, mudança
climática não é um jogo". O setor foi uma das bases de apoio à
eleição do democrata, mas está
cada vez mais frustrado com as
concessões feitas para que a reforma ande.
Políticos progressistas passam a questionar também a capacidade do grupo que cerca o
presidente, apontando como
evidência a derrota fragorosa
de Chicago, a primeira a cair. O
argumento é que nenhum líder
com o prestígio e a posição de
Obama deveria sair de casa e se
expor se não tivesse dados confiáveis o suficiente demonstrando que a vitória era certa
-e ele foi o primeiro presidente dos EUA a fazer isso.
Aí está o segundo problema:
Obama não poderia deixar de
ir, justamente por conta desse
grupo, formado por políticos de
Chicago que ajudaram a colocar o então jovem líder comunitário no mapa. É um grupo do
qual faz parte o prefeito Richard M. Daley, que em dezembro de 2010 entrará para a história como o político que mais
tempo ocupou o cargo na cidade: 21 anos e nove meses.
O segundo colocado? Seu pai,
Richard J. Daley, com 21 anos e
oito meses, que morreu em
1976, na ativa. Sem Daley filho,
a carreira política de Obama
poderia até ter decolado, mas
as portas fechadas seriam
maiores e em maior número.
Da turma fazem parte também o chefe de gabinete (função similar a ministro-chefe da
Casa Civil) Rahm Emanuel e
dois dos três assessores sêniores de Obama, Valerie Jarrett e
David Axelrod. Os três trabalharam em algum momento
com Daley. "Vamos garantir
bons ingressos também aos
nossos críticos", cutucara Emanuel, cantando vitória.
Não será mais necessário.
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