São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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Festa tem protesto, suvenir estatal e até falta de chope

Show em Copacabana reúne cerca de 50 mil pessoas, que recebem cartazes da Petrobras para comemorar a vitória

Com atrações ofuscadas por anúncios em Copenhague, evento atrai de pagador de promessas a ex-servidores do Samu criticando governo

AUDREY FURLANETO
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

No colo da mãe, a pé ou em cadeira de rodas. O carioca foi como pôde para a praia de Copacabana (zona sul) torcer pela eleição do Rio como sede da Olimpíada de 2016.
Bandanas, bexigas e bandeiras com a frase "É a vez do Rio", distribuídas pela prefeitura, eram os adereços mais comuns. Mas imagem de são Jorge e até uma tocha olímpica apareceram para aguardar o resultado.
Cerca de 50 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, foram à praia de Copacabana para os shows de Lulu Santos, grupo Revelação e bateria da escola de samba Salgueiro.
Mas as "atrações" foram pouco notadas até o anúncio da cidade-sede. O ator Eri Johnson fez pouco sucesso como uma espécie de animador de auditório e, em vão, tentava puxar coros com a multidão.
Na areia, os carrinhos de chope próximos ao palco não deram conta da demanda e, vez ou outra, fechavam até conseguir repor a bebida. Os olhos do público se dividiam entre o copo e o telão em que era exibido o encontro em Copenhague.
A comemoração após a eliminação de Chicago e Tóquio pegou Lulu Santos de surpresa.
"O que vocês estão gritando? O Brasil já ganhou?", disse o cantor, no palco, de onde não conseguia observar o telão.
No calçadão, o "inventor" Luiz Pinto, 41, exibia imagem de são Jorge de 25 kg e 2,20 m com a qual percorreu os cerca de 40 km entre Nova Iguaçu e Copacabana. "Fiz o pedido para o Rio ganhar e fui atendido."
Já a aposentada Helena Medeiros, 94, decorou a cadeira de rodas com balões e foi à praia. "A Olimpíada trará movimento para a cidade, dinheiro. Já visitei o mundo todo, agora o mundo tem que visitar o Rio", disse.
Um bandeirão de 2.200 m2 e 800 kg com a inscrição "Rio loves you" (Rio ama você) foi aberto sobre a multidão. Cartazes com a frase "Eu já sabia" em português, espanhol, japonês e inglês -com o logo da Petrobras- foram distribuídos.
Em letras menores, traziam estampadas as frases: "Hoje a nossa energia fez a diferença. Mostre este cartaz para as câmeras do mundo todo".
O anúncio da vitória foi comemorado com o samba-enredo "Peguei um Ita no Norte" ("Explode coração, na maior felicidade"), do Salgueiro, campeã do Carnaval de 1993.
Para os moradores, porém, a expectativa de desenvolvimento da cidade chega aliada ao medo da corrupção envolvendo os bilhões previstos para a organização da Olimpíada.
Mas muitos aproveitaram a multidão para outros objetivos. O ainda inexistente Partido da Mulher Brasileira pedia assinaturas para sua fundação.
Ex-terceirizados que prestavam serviço ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) protestavam contra o governador Sérgio Cabral. Um deles, com a mortalha e a máscara do vilão do filme "Pânico", dançou com garotos-propagandas de empresa telefônica.


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