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ANÁLISE
Em 2016, seremos todos meninos
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Talvez o cavalo não passe tão
bem encilhado para o Rio desde
que dom João acercou-se da
baía de Guanabara e desembarcou do navio Príncipe Real pouco mais de dois séculos atrás.
Na conquista épica para acolher os Jogos de 2016, confirma-se que nem todo lugar-comum é impróprio: abre-se hoje
uma "chance de ouro" para a cidade, às vésperas do cinquentenário do batismo da decadência
-a inauguração de Brasília,
com o fim da condição carioca
de capital da República.
Cavalo encilhado não se desperdiça. Da próxima, o bicho
periga aparecer com sela frouxa e derrubar o montador.
O Rio -é chato ser gostoso-
tem petróleo no pré-sal e sobre
ele; estádio para, sorry periferia, sediar mais uma decisão da
Copa; e encantos que, c'est la
vie, só Paris consegue encarar.
Sua coleção de infortúnios é
tamanha que a desgraça não
ofusca -mas ressalta o brilho-
a oportunidade luminosa que
emerge com o feito de ontem.
O aparato de segurança, o sistema de transportes e intervenções urbanas que a Olimpíada
exige aprimorar podem gerar
heranças de impacto histórico
para os cidadãos, especialmente para os mais pobres.
O verbo é este mesmo, "poder". Montréal afundou em
1976. Barcelona, contudo,
apoiou-se em 1992 para firmar
a vocação de centro cosmopolita que o futuro consagrou.
Por que condenar, como maldição atávica, o Rio ao insucesso canadense e não à inspiração
catalã? Se os desenganos do
Pan-2007 impedissem a Rio-
-2016 bem-sucedida, então seria melhor não pavimentar estradas e erguer escolas, já que
muito larápio se locupletou
com essas obras públicas.
A delinquência velha não deve descartar o desafio novo,
mas estimular que se afie o controle contra gatunos e arrivistas que hão de se multiplicar.
Se o Rio metaforiza o Brasil, a
vitória para 2016 desenha um
projeto de nação que se dá ao
direito de pensar grande.
Os Jogos constituem o impulso que faltava para, mais do
que se transformar em potência olímpica, o país vitaminar o
esporte como instrumento de
educação e inclusão social.
Revisitando a tirada rodriguiana que de tão repetida
exauriu-se, basta de "complexo
de vira-latas". O Brasil não nasceu para a segunda divisão.
Com todas as limitações e
contradições do consórcio de
políticos e cartolas que se associaram na missão Rio-2016, o
triunfo da candidatura patrocinada por Lula sobre a apadrinhada por Obama configura
uma façanha notável. Perto disso, qual a importância de um
investimento grande?
Os amigos se perguntam
quantos anos terão eles e os filhos em 2016. Dou de ombros:
seremos todos meninos.
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