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ANÁLISE
As lágrimas de Lula, Serginho e Dudu
DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A cidade parou, o Rio ganhou,
a palavra emoção foi pronunciada à exaustão, e são várias as
pessoas que se acham as responsáveis pela nossa vitória para sediar a Olimpíada de 2016.
Afinal, quem foi o brasileiro
que deu sorte à cidade?
Lula acha que foi ele, claro,
mas não é o único. Temos também Serginho, o governador, e
Dudu, o prefeito, todos achando que foi a emoção -olha ela
aí de novo-, o coração e a garra
dos brasileiros (depois das deles, claro) que contribuíram para o resultado em Copenhague.
E por falar nisso, será que o prefeito e o governador não poderiam ter comprado duas passagens para não fazer o vexame
de pedir o avião de um empresário emprestado? Em Brasília,
se uma autoridade pega uma
carona num jatinho, já dá CPI.
A comemoração pode e vai
durar todo o fim de semana,
claro; mas, a partir de segunda-
-feira, nossos governantes têm
que pensar em outra coisa além
da Olimpíada. Não é porque ganhamos que vamos nos esquecer dos problemas que continuam atormentando os cariocas, como bem disseram os espanhóis, apesar de não deverem. E não são os sorrisos de felicidade dos comentaristas de
televisão que vão nos fazer esquecer de nossas mazelas.
Pensem bem: a que vão se dedicar nosso governador e nosso
prefeito quando chegarem ao
Rio, além da Olimpíada? À reeleição, é claro, para estarem nos
lugares de honra em 2016 e serem admirados pelo mundo.
Mas é um perigo o excesso de
ufanismo, o excesso de nacionalismo; nenhum país foi mais
nacionalista do que a Alemanha, nos anos 30.
Vamos amar nosso país, se
possível até aprender a letra inteira do Hino Nacional, mas
convenhamos: dizer, ao saber
do resultado em Copenhague,
que poderia morrer naquela
hora, de tanta felicidade, foi um
certo exagero. Um enorme exagero, eu diria.
E, como logo que nossas autoridades voltarem começarão
os preparativos para 2016 -serão vários bilhões de investimento- e o Rio vai virar um
canteiro de obras, uma séria e
permanente fiscalização será
fundamental para que não se
repita o que aconteceu com as
obras do Pan e da Cidade da
Música, isto é: o orçamento triplicar. O prefeito Eduardo
Paes, que é cria de Cesar Maia,
deve se lembrar disso.
O Rio ganhou, estamos todos
felizes, tendo um novo Carnaval em outubro, ano que vem
tem Copa do Mundo, eleições, o
país não poderia estar mais animado; mas chega de tanta emoção -está aí a emoção de novo- e de tantas lágrimas. É
muito bom ganhar, mas é bom
lembrar que se trata apenas de
uma Olimpíada.
E lembrar que, depois da
Olimpíada, a vida continua.
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