São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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Campanha de imunização será lançada na Feicorte

SP deve vacinar 1,3 mi de bezerros contra brucelose

DA REPORTAGEM LOCAL

Dono de um rebanho estimado em 13 milhões de cabeças, finalmente o Estado de São Paulo está colocando em campo a maior campanha já realizada contra a brucelose, a partir do próximo dia 7, quando ocorre seu lançamento durante a Feicorte. A estimativa do governo é vacinar 1,3 milhão de bezerras de 3 a 8 meses.
Conhecida há mais de cem anos, a brucelose é uma doença que provoca em todo o país prejuízos estimados em US$ 100 milhões ao ano, no mínimo, por afetar cerca de 10% do rebanho bovino brasileiro, estimado este ano em 166,8 milhões de cabeças.
O Ministério da Agricultura não tem um levantamento atual sobre sua incidência, mas acredita que a brucelose deve afetar no máximo 5% do gado brasileiro.
Além de causar o aborto em vacas a partir do quinto mês de gravidez, a doença deixa sequelas irreversíveis, que geram subfertilidade, bezerros fracos e queda de até 25% na produção de leite.
A Secretaria da Agricultura de São Paulo já cadastrou 1.200 veterinários para a vacinação. Somente eles são autorizados a comprar e aplicar a vacina no Estado.
O pecuarista recebe atestado de vacinação e registro da Defesa Agropecuária. "Somente os vacinados terão o GTA (Guia de Trânsito Animal)", alerta o secretário da Agricultura paulista, João Carlos Meirelles, 67.
Chamada de febre do Mediterrâneo, a brucelose foi descoberta, no final do século 19, na Ilha de Malta, pelo médico inglês David Bruce. A febre atingiu soldados ingleses que lá estavam.
"Até que enfim estamos seguindo os rumos de uma sociedade organizada. Para uma indústria tão poderosa como a pecuária, já estava mais do que na hora do governo tomar uma atitude como essa", afirma Roberto Jank Júnior, 37, diretor da Agrindus S/A, de Descalvado (SP).
Para o pecuarista, o que favorece a proliferação da doença no país é o rebanho clandestino de leite e carne, sobre o qual não atua o agente fiscalizador.
A empresa de Jank Júnior mantém um rebanho de 2.300 cabeças de gado leiteiro e 5.000 de corte. Todos os animais são vacinados.
A cada seis meses, a Agrindus apresenta ao Ministério da Agricultura atestado negativo de brucelose. Na fazenda, a doença foi erradicada na década de 60.
Apesar de o país ter uma legislação de combate à brucelose desde 1976, somente no ano passado a vacinação tornou-se obrigatória. Minas Gerais e Rio Grande do Sul já a adotavam antes.
"A ênfase tem que ser dada à vacinação. Os Estados devem exigir o atestado de vacina e não os testes sorológicos", alerta o professor José Soares Ferreira Neto, 41, chefe do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da USP.
Para o Ministério da Agricultura, a doença ocorre em maior grau justo na região Sudeste devido ao trânsito intenso de animais.
Outros Estados estão começando a implantar, a exemplo de São Paulo, programas de vacinação. Até o início de 2003, o Ministério da Agricultura acredita que Paraná, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de Goiás e Tocantins, já estarão com o novo programa implementado, além de fiscalizar a guia de trânsito dos animais, indispensável para conter a proliferação da doença.
Vitor Salvador Gonçalves, 38, coordenador do programa nacional de brucelose do Ministério da Agricultura, tem uma meta ambiciosa: reduzir para índices aceitáveis de menos de 1% de casos da doença no país em dez anos.
No caso da brucelose, o Brasil ainda está atrasado. A Austrália levou cerca de 20 anos para quase zerar a incidência; os EUA brigam com a brucelose há quase cem anos, mas mesmo com um controle rígido, a doença ainda pode ser encontrada em áreas restritas.
Para o professor Ferreira Neto, a campanha nacional contra a brucelose, a maior no mundo, mostra que o Brasil está um pouco tardiamente amadurecendo no desenvolvimento de saúde animal. (ROBERTO DE OLIVEIRA)



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