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NAS RUAS, VENDE-SE DESORDEM, COMPRA-SE PROGRESSO
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Rua 25 de Março com ladeira Porto Geral |
PROBLEMAS da região são gerados pela capacidade que ela tem de concentrar num espaço reduzido milhões de pessoas
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HENRI CARRIÈRES E
THIAGO MELAMED DE MENEZES
DA EQUIPE DE TRAINEES
Dois dos principais problemas
da região central -o excesso de
camelôs e o alto número absoluto
de roubos- são decorrência de
uma de suas principais virtudes: a
movimentação econômica que
atrai diariamente para uma área
relativamente restrita (4,4 km2)
cerca de 2,2 milhões de pessoas.
O índice de delinquências deve,
porém, ser relativizado. O "efeito
ímã", que durante o dia multiplica por 30 a população residente
na área, faz com que o centro seja,
em termos proporcionais, uma
região pouco insegura.
Segundo números do governo
estadual, o 1º DP (Sé) apresenta,
em termos comparativos, resultados melhores que, por exemplo, o
14º DP (Pinheiros).
Em outubro foram registrados
241 roubos no 1º DP, contra 187
no 14º DP. Se considerada a população total estimada (fixa mais flutuante) nas áreas de cada DP
-2,27 milhões e 390 mil pessoas,
respectivamente-, chega-se a
uma média favorável ao centro.
"Eu circulo com muito mais
tranquilidade aqui do que em outros bairros", diz Ana Maria Pellegrini, que há 28 anos é proprietária de uma banca de jornais na
praça da República e há dois se
mudou para o centro. Segundo
ela, a praça está mais segura do
que antes, apesar dos frequentes
roubos de telefones celulares.
Médico e monstro
"O centro é a parte civilizada de
São Paulo", diz o coronel Luiz
Carlos da Costa, que comanda o
policiamento nos distritos centrais. Mas a civilidade da região
tem suas ambiguidades. José Maria Angeli, 42 anos de centro, dirige o hotel Itamarati, na av. Dr.
Vieira de Carvalho. Ele conta que,
de dia, a avenida é um "lugar sossegado", mas, à noite, torna-se irreconhecível, de tão inóspita. "É
como na história do médico e do
monstro", compara.
Angeli se queixa de que o público frequentador das casas noturnas locais -homossexuais e travestis- assedia os passantes e faz
cair o movimento. Ele diz que a
suposta degradação da avenida
contribuiu para que estabelecimentos, como os tradicionais restaurantes Carlino e Almanara, fechassem as portas.
Outro problema que desafia o
bem-estar do centro é a concentração maciça de vendedores ambulantes existente nos distritos Sé
e República, que, por serem os
mais populosos, propiciam todo
tipo de comércio.
Alcides Oliveira, vice-presidente do Sindicato dos Permissionários (ambulantes regularizados,
hoje em número de 1.244 nos distritos centrais), diz que aconselha
os recém-chegados a procurar
outra parte da cidade. A resposta,
porém, vem logo: "Ah, mas eu
quero no centro!". Ele estima que
o número de ambulantes em situação irregular seja oito vezes superior ao de cadastrados.
"É inegável que os ambulantes
respondem a uma demanda por
consumo no centro", diz Kazuo
Nakano, pesquisador do Instituto
Pólis, uma ONG que atua na área
de planejamento urbano. Para ele,
não se pode ignorar a "potência
econômica que representa a economia informal no centro".
Outros, porém, como Marco
Antonio Ramos de Almeida, diretor-executivo da Associação Viva
o Centro, temem que os ambulantes impeçam a região de realizar
sua vocação como pólo cultural,
turístico e de lazer. "O centro da
cidade é um local em que deveria
ser interditada a atividade dos camelôs. Aliás, ela é. Só que a lei não
é cumprida."
A prefeitura promete mudar essa realidade, mas reconhece as dificuldades. Nadia Somekh, vice-presidente da Emurb (Empresa
Municipal de Urbanização) e presidente do ProCentro (Programa
de Valorização do Centro), referindo-se à remoção dos ambulantes, diz não haver "um exército
para travar essa guerra".
Já para o secretário municipal
de Segurança Urbana, Benedito
Mariano -a quem competiria dirigir os esforços de "guerra"-, o
problema tem origem social antiga, e só agora governo e sociedade
decidem enfrentá-lo.
Além do trabalho da Guarda Civil, de garantir que apenas os ambulantes regularizados trabalhem
no centro, Mariano considera
fundamental a atuação de uma
força-tarefa, criada em junho e
composta por órgãos municipais,
estaduais e federais. De caráter
permanente, ela tem como objetivo coibir a venda de produtos
contrabandeados, pirateados ou
roubados, atuando diretamente
nas fontes de distribuição.
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