São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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NAS RUAS, VENDE-SE DESORDEM, COMPRA-SE PROGRESSO


Rua 25 de Março com ladeira Porto Geral



PROBLEMAS da região são gerados pela capacidade que ela tem de concentrar num espaço reduzido milhões de pessoas


HENRI CARRIÈRES E
THIAGO MELAMED DE MENEZES
DA EQUIPE DE TRAINEES

Dois dos principais problemas da região central -o excesso de camelôs e o alto número absoluto de roubos- são decorrência de uma de suas principais virtudes: a movimentação econômica que atrai diariamente para uma área relativamente restrita (4,4 km2) cerca de 2,2 milhões de pessoas.
O índice de delinquências deve, porém, ser relativizado. O "efeito ímã", que durante o dia multiplica por 30 a população residente na área, faz com que o centro seja, em termos proporcionais, uma região pouco insegura.
Segundo números do governo estadual, o 1º DP (Sé) apresenta, em termos comparativos, resultados melhores que, por exemplo, o 14º DP (Pinheiros).
Em outubro foram registrados 241 roubos no 1º DP, contra 187 no 14º DP. Se considerada a população total estimada (fixa mais flutuante) nas áreas de cada DP -2,27 milhões e 390 mil pessoas, respectivamente-, chega-se a uma média favorável ao centro.
"Eu circulo com muito mais tranquilidade aqui do que em outros bairros", diz Ana Maria Pellegrini, que há 28 anos é proprietária de uma banca de jornais na praça da República e há dois se mudou para o centro. Segundo ela, a praça está mais segura do que antes, apesar dos frequentes roubos de telefones celulares.

Médico e monstro
"O centro é a parte civilizada de São Paulo", diz o coronel Luiz Carlos da Costa, que comanda o policiamento nos distritos centrais. Mas a civilidade da região tem suas ambiguidades. José Maria Angeli, 42 anos de centro, dirige o hotel Itamarati, na av. Dr. Vieira de Carvalho. Ele conta que, de dia, a avenida é um "lugar sossegado", mas, à noite, torna-se irreconhecível, de tão inóspita. "É como na história do médico e do monstro", compara.
Angeli se queixa de que o público frequentador das casas noturnas locais -homossexuais e travestis- assedia os passantes e faz cair o movimento. Ele diz que a suposta degradação da avenida contribuiu para que estabelecimentos, como os tradicionais restaurantes Carlino e Almanara, fechassem as portas.
Outro problema que desafia o bem-estar do centro é a concentração maciça de vendedores ambulantes existente nos distritos Sé e República, que, por serem os mais populosos, propiciam todo tipo de comércio.
Alcides Oliveira, vice-presidente do Sindicato dos Permissionários (ambulantes regularizados, hoje em número de 1.244 nos distritos centrais), diz que aconselha os recém-chegados a procurar outra parte da cidade. A resposta, porém, vem logo: "Ah, mas eu quero no centro!". Ele estima que o número de ambulantes em situação irregular seja oito vezes superior ao de cadastrados.
"É inegável que os ambulantes respondem a uma demanda por consumo no centro", diz Kazuo Nakano, pesquisador do Instituto Pólis, uma ONG que atua na área de planejamento urbano. Para ele, não se pode ignorar a "potência econômica que representa a economia informal no centro".
Outros, porém, como Marco Antonio Ramos de Almeida, diretor-executivo da Associação Viva o Centro, temem que os ambulantes impeçam a região de realizar sua vocação como pólo cultural, turístico e de lazer. "O centro da cidade é um local em que deveria ser interditada a atividade dos camelôs. Aliás, ela é. Só que a lei não é cumprida."
A prefeitura promete mudar essa realidade, mas reconhece as dificuldades. Nadia Somekh, vice-presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) e presidente do ProCentro (Programa de Valorização do Centro), referindo-se à remoção dos ambulantes, diz não haver "um exército para travar essa guerra".
Já para o secretário municipal de Segurança Urbana, Benedito Mariano -a quem competiria dirigir os esforços de "guerra"-, o problema tem origem social antiga, e só agora governo e sociedade decidem enfrentá-lo.
Além do trabalho da Guarda Civil, de garantir que apenas os ambulantes regularizados trabalhem no centro, Mariano considera fundamental a atuação de uma força-tarefa, criada em junho e composta por órgãos municipais, estaduais e federais. De caráter permanente, ela tem como objetivo coibir a venda de produtos contrabandeados, pirateados ou roubados, atuando diretamente nas fontes de distribuição.


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