São Paulo, quarta-feira, 04 de dezembro de 2002

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COMO CIDADES TRANSFORMAM MÁCULAS EM JÓIAS

JAN KUMMER
DA EQUIPE DE TRAINEES

Planejamento, mobilização popular e ajuda do setor privado foram as armas das principais cidades do mundo para transformar seus centros, outrora degradados, em disputadas atrações turísticas.
Segundo Regina Meyer, urbanista da USP, dois foram os principais modelos: o europeu, que investiu na preservação de patrimônios históricos, e o americano, de renovação da vida urbana.
Um exemplo é Nova York. Em 1991 começou a revitalização da região de Times Square. Teatros e cinemas pornográficos foram desapropriados e transformados em palcos de musicais.
Comerciantes e moradores fundaram uma entidade para tornar a área mais segura e atrair empresas. Foram contratados, por exemplo, seguranças particulares e garis. Em seis anos, a criminalidade caiu 53%, também graças à política da "tolerância zero" do então prefeito Rudolph Giuliani.
Hoje, a região atrai 20 milhões de turistas por ano, e gigantes da mídia como MTV e Reuters mantêm suas sedes na região.

Mecenas
Um dos exemplos do modelo europeu é Paris, cujo centro está em preservação permanente. Em 1988 ocorreu o recuperação do Arco do Triunfo, que custou US$ 6 milhões. Foi convocada uma campanha mundial para arrecadar fundos privados. Na França, é comum que mecenas paguem até 50% dos custos para conservar patrimônios históricos.
Na maioria dos casos, a revitalização começa por iniciativa pública e recebe o apoio de empresas, como o projeto Porto Madero, em Buenos Aires, que transformou a velha área portuária num novo centro da capital.
Lá, de 1989 até hoje, foram investidos US$ 200 milhões de recursos públicos e US$ 1,8 bilhão do setor privado. Para coordenar o processo, foi fundada uma empresa cujos dois acionistas eram os governos nacional e municipal. Além disso, foi estabelecido um programa de obras.
"Revitalização é como uma estratégia militar", diz John Accordino, urbanista da Virginia Commonwealth University nos EUA. "As cidades precisam de um plano geral que mostre onde os recursos vão ser concentrados nos próximos anos. Isso traz segurança no planejamento e as construtoras se concentram no assunto."

Alternativas
Mesmo assim, a revitalização também ocorreu de formas alternativas, como no bairro nova-iorquino do SoHo. Foram artistas plásticos que, a partir dos anos 60, revitalizaram a região, transformando os antigos armazéns e fábricas em oficinas e galerias.
Muitas cidades descobriram a cultura como meio para acelerar a revitalização. Barcelona construiu, por exemplo, o Museu de Arte Contemporânea e ampliou o Museu Picasso com financiamento da União Européia.
John Accordino acredita, porém, que é preciso ter mais que lugares culturais: "Revitalização só vai funcionar se houver outras possibilidades naquele lugar". Trabalho, por exemplo.
Para atrair empresas, algumas cidades criaram incentivos. No Harlem, em Nova York, o governo federal deu crédito de até US$ 3 mil, a juros baixos, para cada novo emprego. Já na região de Times Square, escritórios tiveram desconto de até 40% no aluguel para se mudar para o local.
O problema em quase todos os casos de revitalização é que as áreas acabam se valorizando demais. Somente no SoHo, os aluguéis comerciais subiram 170% entre 2000 e 2001. Moradores de baixa renda foram obrigados a se mudar porque não houve programas sociais.

Recife
Atualmente, a capital pernambucana está tentando manter os moradores no bairro conhecido como Recife Antigo. Desde 1993, grande parte da área virou pólo turístico. Os investimentos estimados até o ano que vem são de R$ 109 milhões.
A prefeitura de Recife lançou um programa para a Comunidade Nossa Senhora do Pilar, onde 463 famílias vivem em cortiços. A partir de 2003, além da reforma de uma igreja, vão ser construídas casas, escola e mercado, com recursos do Estado e da prefeitura.


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