São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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TÉCNICA


Talento enfrenta marcação cerrada, táticas defensivas e violência, mas qualidade do jogo melhora em todos os continentes com intercâmbio de técnicos e jogadores


Craques apanham para luzir

A partir do meio dos anos 80 os gênios começaram a rarear, mas isso ocorreu em especial pela falta de condições que esses passaram a encontrar para mostrar talento.
O último semideus do futebol mundial teve que vencer marcação individual, dezenas de faltas de velozes sul-coreanos, paredão defensivo da Itália, meio time da Inglaterra, quase meio time da Bélgica e até árbitro e bandeirinha para viver seu auge em 1986.
Maradona já tinha experimentado, com uma fratura, a dureza de ser habilidoso e praticar um futebol refinado no final do século.
Para jogar a Copa de 86, Zico, o segundo melhor camisa 10 da seleção brasileira, recebeu tratamento especial após sofrer séria lesão no joelho. Cirurgias de joelho, aliás, passaram a ser algo banal no futebol _a do clássico Falcão serviu até de exemplo na TV.
Em campo, a forte marcação, os sistemas táticos mais cautelosos e o desenvolvimento da preparação física contribuíram para a diminuição dos espaços para os grandes jogadores. Maradona, por exemplo, teve que produzir lances geniais para levar a Argentina às finais das Copas de 1986 e 1990.
Houve uma gradativa substituição de jogadores técnicos por atletas voluntariosos. Mesmo na gestão do técnico Telê Santana na seleção brasileira, a dupla de volantes formada por Falcão e Cerezo deu lugar a Alemão e Elzo.
A partir de 1986, uma seleção teria que passar por quatro matamatas até o título. Disputas de pênaltis ficaram frequentes e passaram a exigir uma especialização de batedores e goleiros.
Em 1990, o argentino Goycoechea se destacou na Copa apenas por ser exímio pegador de pênaltis. Taffarel também brilharia nos Mundiais seguintes com boa performance nesse tipo de lance.
Os goleiros, de uma forma geral, desenvolveram-se bastante. O italiano Zenga ficou 517 minuto sem levar em gol em 1990. O colombiano Higuita inovou ao sair com frequência da área _depois, goleiros bateram faltas e pênaltis.
Em contrapartida, os craques da linha tiveram que se desdobrar. Os holandeses Gullit e Van Basten, por exemplo, venceram, mas sofreram no duro Campeonato Italiano _o primeiro passou por cinco cirurgias só em um joelho e acabou jogando de líbero; o segundo deixou o futebol precocemente com lesão no tornozelo.
Romário fez o possível para jogar a Copa de 1990 após sofrer fratura no tornozelo, mas atuou no sacrifício apenas contra a Escócia. Quatro anos mais tarde, são, desequilibraria a favor do Brasil com arrancadas e finalizações precisas.
A técnica de Romário foi contraponto durante a década de 90 ao reinado dos volantes no futebol brasileiro, tido como o mais técnico do planeta. Desde a ‘‘Era Dunga’’, os marcadores passaram a ser tão valorizados pelos técnicos quanto os atacantes estilosos.
O craque alemão Matthaus brilhou muito pelo que fez na frente e também atrás _veterano, terminou atuando como líbero e batendo recorde de jogos em Copas.
Os jogadores, mais profissionais, passaram a atuar com idade bem avançada. O camaronês Roger Milla, um dos mais técnicos jogadores africanos, marcou em Copas aos 38 e aos 42 anos.
Ele é um dos exemplos de como a técnica de jogar futebol alcançou todos os continentes. Após grande intercâmbio de técnicos pelo mundo, quase todos os países desenvolveram seu futebol e geraram talentosos praticantes.
A técnica não acabou. Muito ao contrário, foi disseminada. E vive, apesar de todas as dificuldades.



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