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ANÁLISE CLIMA
Ainda falta definir o tamanho da mudança
É essencial adotar uma medida que avalie o quanto uma ação contribui para a busca da
sustentabilidade
LUIZ GYLVAN MEIRA FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A preocupação com o
equilíbrio ecológico, com o
ambiente em geral, em algum momento resulta na
pergunta: o que devo fazer
para que as próximas gerações tenham pelo menos as
mesmas condições encontradas pela geração atual para
buscar uma melhor qualidade de vida?
É essa condição que, por
vezes, vem sendo definida
como sustentabilidade.
Seja qual for a ótica empregada, é essencial que adotemos uma medida para poder
avaliar o quanto uma ação
contribui para o objetivo da
sustentabilidade.
As decisões que nos encaminharam em direção a uma
trajetória claramente insustentável, no caso da mudança do clima, não foram grandes decisões tomadas com
aquele objetivo.
Foram, e continuam sendo, uma miríade de pequenas e grandes decisões que,
em seu conjunto, nos levaram à situação atual.
NADA TRIVIAL
A trajetória que estamos
seguindo é insustentável. Em
que pese a decisão adotada
em Copenhague, de limitar a
mudança do clima a um aumento máximo de 2ºC no final do século, ainda não está
claro como isso será obtido.
Sabemos que, para estabilizar o aumento de temperatura será necessário também
estabilizar a concentração de
dióxido de carbono (CO2)
e de outros gases de efeito-estufa na atmosfera -como
aliás está previsto na meta
da Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas)
sobre o tema.
A concentração de dióxido
de carbono na atmosfera somente deixará de aumentar
se as emissões globais forem
reduzidas em aproximadamente 70%, em relação aos
seus níveis de 1990. Tarefa
nem um pouco trivial, mas é
preciso enfrentá-la.
Algo que precisa ser realizado rapidamente é introduzir uma medida do efeito
de nossas decisões sobre a
mudança climática.
Algumas delas são de caráter individual -usar transporte individual ou coletivo,
comprar um carro com maior
ou menor consumo, usar gasolina ou etanol. Outras decisões competem a distintas
esferas de governo -municipal, estadual ou federal.
Por último, há aindas as
decisões que competem às
empresas. Como indivíduos,
podemos influenciar essas
esferas de decisão.
Seja dando preferência a
bens e serviços cuja produção resulta em menor mudança do clima. Seja insistindo que as distintas esferas de
governo levem em conta, em
suas decisões, os seus efeitos
sobre o clima a longo prazo, e
não somente os efeitos a curto prazo, por mais atraentes
que sejam sob o ponto de vista social e econômico.
É responsabilidade de todas as esferas de governo
pensar também no bem-estar
das futuras gerações.
PEGADAS E PEGADAS
No caso da mudança do
clima, o conceito da pegada
ecológica tem cedido lugar
ao conceito da pegada de
carbono, o que é um passo
importante no desenvolvimento de uma medida apropriada do efeito das decisões
sobre a mudança do clima.
Melhor ainda será quando
pudermos usar o conceito da
pegada da mudança do clima, ou seja uma medida direta do efeito das decisões sobre a mudança do clima, ou
sobre o aumento da temperatura média global.
Parece ser a mesma coisa,
mas não é. Os resultados em
muitos casos são distintos,
especialmente quando estão
envolvidos diferentes gases
de efeito-estufa, com tempo
de residência atmosférica
que possuem variação.
Além disso, se tivermos facilmente uma medida da pegada de mudança do clima,
poderemos como consumidores exercer nosso critério
favorecendo produtos com
menor pegada.
Nos setores em que as decisões competem aos governos, em todas as suas esferas, podemos exigir que os
mesmos explicitem a pegada
de mudança do clima associada aos projetos previstos.
LUIZ GYLVAN MEIRA FILHO astrofísico, foi
presidente dos Grupos de Negociação dos
Artigos 3 (sobre metas de redução de
emissões dos países industrializados) e 12
(sobre o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo) do Protocolo de Kyoto
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