São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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ANÁLISE CLIMA

Ainda falta definir o tamanho da mudança

É essencial adotar uma medida que avalie o quanto uma ação contribui para a busca da sustentabilidade

LUIZ GYLVAN MEIRA FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A preocupação com o equilíbrio ecológico, com o ambiente em geral, em algum momento resulta na pergunta: o que devo fazer para que as próximas gerações tenham pelo menos as mesmas condições encontradas pela geração atual para buscar uma melhor qualidade de vida?
É essa condição que, por vezes, vem sendo definida como sustentabilidade.
Seja qual for a ótica empregada, é essencial que adotemos uma medida para poder avaliar o quanto uma ação contribui para o objetivo da sustentabilidade.
As decisões que nos encaminharam em direção a uma trajetória claramente insustentável, no caso da mudança do clima, não foram grandes decisões tomadas com aquele objetivo.
Foram, e continuam sendo, uma miríade de pequenas e grandes decisões que, em seu conjunto, nos levaram à situação atual.

NADA TRIVIAL
A trajetória que estamos seguindo é insustentável. Em que pese a decisão adotada em Copenhague, de limitar a mudança do clima a um aumento máximo de 2ºC no final do século, ainda não está claro como isso será obtido. Sabemos que, para estabilizar o aumento de temperatura será necessário também estabilizar a concentração de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases de efeito-estufa na atmosfera -como aliás está previsto na meta da Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o tema.
A concentração de dióxido de carbono na atmosfera somente deixará de aumentar se as emissões globais forem reduzidas em aproximadamente 70%, em relação aos seus níveis de 1990. Tarefa nem um pouco trivial, mas é preciso enfrentá-la.
Algo que precisa ser realizado rapidamente é introduzir uma medida do efeito de nossas decisões sobre a mudança climática.
Algumas delas são de caráter individual -usar transporte individual ou coletivo, comprar um carro com maior ou menor consumo, usar gasolina ou etanol. Outras decisões competem a distintas esferas de governo -municipal, estadual ou federal.
Por último, há aindas as decisões que competem às empresas. Como indivíduos, podemos influenciar essas esferas de decisão.
Seja dando preferência a bens e serviços cuja produção resulta em menor mudança do clima. Seja insistindo que as distintas esferas de governo levem em conta, em suas decisões, os seus efeitos sobre o clima a longo prazo, e não somente os efeitos a curto prazo, por mais atraentes que sejam sob o ponto de vista social e econômico.
É responsabilidade de todas as esferas de governo pensar também no bem-estar das futuras gerações.

PEGADAS E PEGADAS
No caso da mudança do clima, o conceito da pegada ecológica tem cedido lugar ao conceito da pegada de carbono, o que é um passo importante no desenvolvimento de uma medida apropriada do efeito das decisões sobre a mudança do clima.
Melhor ainda será quando pudermos usar o conceito da pegada da mudança do clima, ou seja uma medida direta do efeito das decisões sobre a mudança do clima, ou sobre o aumento da temperatura média global.
Parece ser a mesma coisa, mas não é. Os resultados em muitos casos são distintos, especialmente quando estão envolvidos diferentes gases de efeito-estufa, com tempo de residência atmosférica que possuem variação.
Além disso, se tivermos facilmente uma medida da pegada de mudança do clima, poderemos como consumidores exercer nosso critério favorecendo produtos com menor pegada.
Nos setores em que as decisões competem aos governos, em todas as suas esferas, podemos exigir que os mesmos explicitem a pegada de mudança do clima associada aos projetos previstos.


LUIZ GYLVAN MEIRA FILHO astrofísico, foi presidente dos Grupos de Negociação dos Artigos 3 (sobre metas de redução de emissões dos países industrializados) e 12 (sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) do Protocolo de Kyoto


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