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Um conto de três emissores
Apesar de ter obrigações menores de corte
de CO2, o Brasil tem habitantes que emitem
muito (a média nacional é alta em função do
desmatamento: 11,5 toneladas ao ano). Não se
considera a desigualdade interna, porém, nos
planos de redução de emissões. Veja três brasileiros diferentes e saiba por que pobres não
deveriam ter a mesma meta de corte dos ricos.
EDGAR RODRIGUES:
EMISSÕES QUASE NULAS
Edgar, 41, mora em uma estrada de chão no bairro paulistano de Marsilac, 60 km ao sul
do centro. Sua casa é cercada
pela mata atlântica. Mas não
diga que veio "lá de São Paulo".
"Aqui também é São Paulo!"
Só fez até a quinta série e não
está muito preocupado com climatologistas. Mas emite menos CO2 do que um nigeriano
típico (uma tonelada ao ano).
Para ir trabalhar (há 20 anos
presta serviços na Subprefeitura de Parelheiros, bairro ao lado), anda 15 minutos até o asfalto para pegar um ônibus. A
esposa Rosa fica cuidando da
casa. Criam porcos e galinhas.
Aos poucos, foram comprando os parcos eletrodomésticos
que têm e criando os cinco filhos. A gurizada cresceu brincando na terra, acostumada
com os bichos que aparecem.
Edgar gosta de mostrar uma
foto em que está segurando
uma cobra-coral. Questionado
sobre sua coragem, se faz de
modesto. "É que eu tinha bebido umas pinguinhas, né?"
(RM)
HENRIQUE TOMMASINI:
4 TONELADAS DE CO2 AO ANO
Henrique, 25, estudou em escola pública. Seu primeiro emprego foi carregando caixas como repositor em supermercado, mas só por uma semana.
"Era horrível, vi que era melhor
estudar. Mas se tivesse ficado
estaria fortão, não?", brinca.
Hoje, trabalha "preenchendo
guias" em uma agência da Caixa no centro. Passou no concurso (nível médio) em 2006 e
deu entrada em um carro popular -acha o transporte público cheio demais. Com ele,
vieram 72 parcelas de R$ 300.
Mora na Saúde (zona sul).
Após anos no cursinho, agora é
aluno da USP (no Butantã). Tudo é longe, então dirige cerca de
50 km por dia -abastece o veículo com gasolina várias vezes
por mês. É assim que emite
mais CO2 -está se aproximando da média de um país desenvolvido como a França (6 toneladas de CO2 por ano).
Mesmo porque já tirou passaporte e fará, em breve, sua
primeira viagem internacional
-até o Peru, de avião.
(RM)
PEDRO:
200 TONELADAS DE CO2 AO ANO
"Sou superfã do Al Gore. Ter
visto "A Verdade Inconveniente" foi um marco na minha vida", brinca Pedro (nome fictício), 35, gerente de marketing
de uma multinacional.
Ele mora no Rio de Janeiro,
mas a mulher e o filho ficam em
São Paulo. Os fins-de-semana
são dedicados a eles -entre
idas e voltas, pelo menos oito
voos por mês, portanto.
Mas esse valor pode chegar a
20. Muitas das viagens são para
o exterior, até a Europa, onde
fica a sede da multinacional.
Aviões emitem muito CO2.
Pedro, então, gera grande impacto -seria um enorme emissor mesmo se morasse nos
EUA (com emissão per capita
de 20 toneladas de CO2 ao ano).
Emite também por causa do
calor do Rio, que significa ar
condicionado sempre ligado.
"Sempre", no caso, é muito.
Salário de executivo é alto, mas
ele trabalha mais de 14 horas
ao dia. Com o tempo escasso,
mora perto do trabalho -não
emite muito CO2 dirigindo.
(RM)
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