São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Um conto de três emissores

Apesar de ter obrigações menores de corte de CO2, o Brasil tem habitantes que emitem muito (a média nacional é alta em função do desmatamento: 11,5 toneladas ao ano). Não se considera a desigualdade interna, porém, nos planos de redução de emissões. Veja três brasileiros diferentes e saiba por que pobres não deveriam ter a mesma meta de corte dos ricos.

EDGAR RODRIGUES:
EMISSÕES QUASE NULAS

Edgar, 41, mora em uma estrada de chão no bairro paulistano de Marsilac, 60 km ao sul do centro. Sua casa é cercada pela mata atlântica. Mas não diga que veio "lá de São Paulo". "Aqui também é São Paulo!"
Só fez até a quinta série e não está muito preocupado com climatologistas. Mas emite menos CO2 do que um nigeriano típico (uma tonelada ao ano).
Para ir trabalhar (há 20 anos presta serviços na Subprefeitura de Parelheiros, bairro ao lado), anda 15 minutos até o asfalto para pegar um ônibus. A esposa Rosa fica cuidando da casa. Criam porcos e galinhas.
Aos poucos, foram comprando os parcos eletrodomésticos que têm e criando os cinco filhos. A gurizada cresceu brincando na terra, acostumada com os bichos que aparecem.
Edgar gosta de mostrar uma foto em que está segurando uma cobra-coral. Questionado sobre sua coragem, se faz de modesto. "É que eu tinha bebido umas pinguinhas, né?" (RM)

HENRIQUE TOMMASINI:
4 TONELADAS DE CO2 AO ANO

Henrique, 25, estudou em escola pública. Seu primeiro emprego foi carregando caixas como repositor em supermercado, mas só por uma semana. "Era horrível, vi que era melhor estudar. Mas se tivesse ficado estaria fortão, não?", brinca.
Hoje, trabalha "preenchendo guias" em uma agência da Caixa no centro. Passou no concurso (nível médio) em 2006 e deu entrada em um carro popular -acha o transporte público cheio demais. Com ele, vieram 72 parcelas de R$ 300.
Mora na Saúde (zona sul). Após anos no cursinho, agora é aluno da USP (no Butantã). Tudo é longe, então dirige cerca de 50 km por dia -abastece o veículo com gasolina várias vezes por mês. É assim que emite mais CO2 -está se aproximando da média de um país desenvolvido como a França (6 toneladas de CO2 por ano).
Mesmo porque já tirou passaporte e fará, em breve, sua primeira viagem internacional -até o Peru, de avião. (RM)

PEDRO:
200 TONELADAS DE CO2 AO ANO

"Sou superfã do Al Gore. Ter visto "A Verdade Inconveniente" foi um marco na minha vida", brinca Pedro (nome fictício), 35, gerente de marketing de uma multinacional.
Ele mora no Rio de Janeiro, mas a mulher e o filho ficam em São Paulo. Os fins-de-semana são dedicados a eles -entre idas e voltas, pelo menos oito voos por mês, portanto.
Mas esse valor pode chegar a 20. Muitas das viagens são para o exterior, até a Europa, onde fica a sede da multinacional.
Aviões emitem muito CO2. Pedro, então, gera grande impacto -seria um enorme emissor mesmo se morasse nos EUA (com emissão per capita de 20 toneladas de CO2 ao ano).
Emite também por causa do calor do Rio, que significa ar condicionado sempre ligado.
"Sempre", no caso, é muito. Salário de executivo é alto, mas ele trabalha mais de 14 horas ao dia. Com o tempo escasso, mora perto do trabalho -não emite muito CO2 dirigindo. (RM)


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