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HISTÓRIA
2ª Guerra destrói país, não o povo
Destroçada pelo conflito, Alemanha deve reconstrução à ajuda norte-americana e à população, que foi capaz de alçar nação ao topo do mundo
VAMIREH CHACON
ESPECIAL PARA A FOLHA
A 2ª Guerra Mundial destruiu a Alemanha, porém não destruiu os alemães:
os equipamentos estavam arrasados, mas intacta a tecnologia na cabeça dos
engenheiros e operários especializados, em meio à população
alfabetizada e
com curso secundário e técnico. Os EUA criaram o Plano Marshall, com
bilhões
de dólares, para financiamento e reconstrução, muito menos difícil de
desenvolver, como se viu nos países sem tecnologia importante.
A União Soviética, então sob Stálin, recusou a proposta americana,
argumentando tratar-se de vinculação ao sistema capitalista ocidental,
apesar dos juros baixos do Plano Marshall e até sua dispensa em certos
casos. A Europa ocidental aceitou-o e recomeçou o seu desenvolvimento.
A Alemanha Ocidental, cuja parte Leste fora ocupada militarmente pelos
soviéticos, foi principal beneficiária do Plano Marshall. Em 1949, com
a
ajuda, a Alemanha Ocidental convocou a Assembléia Nacional Constituinte
e
proclamou-se República Federal da Alemanha. A do Leste não sobreviveria
à
queda da Cortina de Ferro, da qual o muro de Berlim era a parte mais
visível.
Reconstruída, a Alemanha Ocidental aceitou a mão da França no Plano
Schuman
(1952), propondo a fusão das minas francesas de ferro com as alemães de
hulha numa siderurgia de empresas européias. Em 1957, foram assinados
os
Tratados de Roma, instituidores da Comunidade Econômica Européia,
depois
União Européia, na qual a Alemanha se tornou diretamente a maior força
econômica e indiretamente o maior fator político. O país perdera a
guerra,
mas ganhara a paz. Na virada do século 20 ao 21, a Alemanha exporta
anualmente cerca de US$ 1 trilhão, valor três vezes superior ao
negociado
pela China.
Situada no centro da Europa, a Alemanha é um dos países do mundo com
maior
números de vizinhos nas suas fronteiras imediatas, e o que foi grande
desvantagem militar tornou-se grande vantagem comercial.
Historicamente, os
alemães não costumam aceitar a divisão da Europa ocidental e oriental,
preferem acrescentar uma terceira, a Europa central, Mitteleuropa, como
a
denominam, composta pela Alemanha e países próximos.
Desde fins do século 19 que indústrias e bancos alemães se estendem
com
sucursais e filiais principalmente à outrora Tchecoslováquia, Áustria e
Polônia, mesmo à Croácia e à Eslovênia, da então Iugoslávia, e à
Hungria.
Transbordando da Europa, os produtos e investimentos da Alemanha
vieram à
América Latina, numa proporção a ponto de tornar São Paulo (e
arredores) a
segunda maior cidade industrial alemã, após Berlim.
A redescoberta econômica do Brasil pela Alemanha intensificou-se na
década
de 1950, com a presidência Vargas, atraindo a Mannesmann a Belo
Horizonte, e
na de Kubitschek com a indústria automobilística em São Paulo. Esse
fenômeno
vai até fins de 1970, durante o chamado milagre econômico. Daí em
diante, os
investimentos estrangeiros, e não só alemães, se situam principalmente
em
reposição e ampliação.
Em seguida aos EUA, a Alemanha ainda é o segundo parceiro comercial e
de
investimentos no Brasil. O torneiro-mecânico Luiz Inácio Lula da Silva
começou a vida profissional na fábrica da Volkswagen, em São Bernardo.
Vamireh Chacon é professor emérito da Universidade de
Brasília e autor de "A Questão Alemã", entre outros livros
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