São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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HISTÓRIA

2ª Guerra destrói país, não o povo

Destroçada pelo conflito, Alemanha deve reconstrução à ajuda norte-americana e à população, que foi capaz de alçar nação ao topo do mundo

VAMIREH CHACON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A 2ª Guerra Mundial destruiu a Alemanha, porém não destruiu os alemães: os equipamentos estavam arrasados, mas intacta a tecnologia na cabeça dos engenheiros e operários especializados, em meio à população alfabetizada e com curso secundário e técnico. Os EUA criaram o Plano Marshall, com bilhões de dólares, para financiamento e reconstrução, muito menos difícil de desenvolver, como se viu nos países sem tecnologia importante.
A União Soviética, então sob Stálin, recusou a proposta americana, argumentando tratar-se de vinculação ao sistema capitalista ocidental, apesar dos juros baixos do Plano Marshall e até sua dispensa em certos casos. A Europa ocidental aceitou-o e recomeçou o seu desenvolvimento.
A Alemanha Ocidental, cuja parte Leste fora ocupada militarmente pelos soviéticos, foi principal beneficiária do Plano Marshall. Em 1949, com a ajuda, a Alemanha Ocidental convocou a Assembléia Nacional Constituinte e proclamou-se República Federal da Alemanha. A do Leste não sobreviveria à queda da Cortina de Ferro, da qual o muro de Berlim era a parte mais visível.
Reconstruída, a Alemanha Ocidental aceitou a mão da França no Plano Schuman (1952), propondo a fusão das minas francesas de ferro com as alemães de hulha numa siderurgia de empresas européias. Em 1957, foram assinados os Tratados de Roma, instituidores da Comunidade Econômica Européia, depois União Européia, na qual a Alemanha se tornou diretamente a maior força econômica e indiretamente o maior fator político. O país perdera a guerra, mas ganhara a paz. Na virada do século 20 ao 21, a Alemanha exporta anualmente cerca de US$ 1 trilhão, valor três vezes superior ao negociado pela China.
Situada no centro da Europa, a Alemanha é um dos países do mundo com maior números de vizinhos nas suas fronteiras imediatas, e o que foi grande desvantagem militar tornou-se grande vantagem comercial. Historicamente, os alemães não costumam aceitar a divisão da Europa ocidental e oriental, preferem acrescentar uma terceira, a Europa central, Mitteleuropa, como a denominam, composta pela Alemanha e países próximos.
Desde fins do século 19 que indústrias e bancos alemães se estendem com sucursais e filiais principalmente à outrora Tchecoslováquia, Áustria e Polônia, mesmo à Croácia e à Eslovênia, da então Iugoslávia, e à Hungria.
Transbordando da Europa, os produtos e investimentos da Alemanha vieram à América Latina, numa proporção a ponto de tornar São Paulo (e arredores) a segunda maior cidade industrial alemã, após Berlim.
A redescoberta econômica do Brasil pela Alemanha intensificou-se na década de 1950, com a presidência Vargas, atraindo a Mannesmann a Belo Horizonte, e na de Kubitschek com a indústria automobilística em São Paulo. Esse fenômeno vai até fins de 1970, durante o chamado milagre econômico. Daí em diante, os investimentos estrangeiros, e não só alemães, se situam principalmente em reposição e ampliação.
Em seguida aos EUA, a Alemanha ainda é o segundo parceiro comercial e de investimentos no Brasil. O torneiro-mecânico Luiz Inácio Lula da Silva começou a vida profissional na fábrica da Volkswagen, em São Bernardo.


Vamireh Chacon é professor emérito da Universidade de Brasília e autor de "A Questão Alemã", entre outros livros


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