São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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UM DIA APÓS OUTRO DIA

Pobre e violenta, região diz que vida melhorou

Para 63% dos moradores do extremo sul, conhecido como "Triângulo da Morte", a situação está melhor do que há cinco anos

Fernando Donasci/Folha Imagem
Buraco deixado por bala em vidro em Socorro, próximo à represa do Guarapiranga; extremo sul tem média de um homicídio por dia

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Do personagem das histórias em quadrinhos, Djalma Oliveira Rios, 35, tem só o apelido pelo qual o tratam no extremo sul da capital: Cascão. No mais, ele é um sobrevivente e um dos porta-vozes dos moradores da região mais violenta de São Paulo, que é também onde está a maior parcela de pessoas que ganham até dois salários mínimos (37%), seguida pelo noroeste (32,3%) e pelo extremo leste da cidade (31,8%).
"A zona sul de São Paulo mudou muito, ainda lembro dos tempos em que os corpos eram recolhidos na minha rua por uma carroça. Hoje tem banco e shopping center no Capão [Redondo]", diz Cascão, bacharel em direito, pai de três filhos e avô de um menino de um ano.
Quando jovem, ele deixou o trabalho de office-boy e a escola para ser ladrão de banco. Foi preso. Cumpriu sete anos. "Na tranca dura", como diz, escreveu cartas para trocar idéias com o vizinho rimador da área, Pedro Paulo Soares Pereira, 38, o Mano Brown do Racionais MC's, e "abandonou o crime para viver do rap."
Em comum, além de serem "sobreviventes do Capão Redondo", Cascão, do grupo de rap Trilha $onora (com o cifrão mesmo) do Gueto, e Brown denunciam há vários anos como é a vida na região mais violenta da cidade. No Trilha, Cascão canta sobre a violência da zona sul com seu filho Zequinha, 8.
E a população dos bairros que transformaram Cascão e Brown em dois dos mais reconhecidos rappers brasileiros tende a avalizar o que eles cantam. Segundo a pesquisa Datafolha, no extremo sul da capital, a segurança foi avaliada com média de 3,7. A média paulistana é de 4,3. Apesar de a região concentrar os crimes contra a vida cometidos na capital, para 63% dos moradores entrevistados pelo Datafolha, a vida melhorou nos últimos cinco anos.
Por causa das centenas de homicídios dolosos (intencionais) cometidos a cada ano nas ruas dos microbairros que, juntos, formam Jardim Ângela, Capão Redondo e Jardim São Luís, o extremo sul ainda é chamado de "Triângulo da Morte".
Talvez por concentrar 28% (177 assassinatos) dos homicídios dolosos da capital (que teve 630 casos nos primeiros seis meses de 2008), 10% dos moradores da região disseram ter tido um parente ou amigo assassinado no último ano.
Cascão teve um irmão, Clesson, 14, assassinado pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), espécie de tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, no Capão Redondo. Ele e outros dois jovens pichavam um muro e foram surpreendidos pelos policiais. "Quem liga? A gente é filho de nordestino. Ninguém está preocupado quando matam aqui."

Queda
No extremo sul, a 6ª Delegacia Seccional Sul (Santo Amaro) coordena 13 distritos policiais, onde os 177 assassinatos foram registrados. Graças ao policiamento e à alocação das forças de segurança nos pontos onde as estatísticas constatam mais ocorrências, o governo paulista conseguiu baixar os homicídios dolosos em todo o Estado, isso desde 1999, e no extremo sul não foi diferente.
Durante 2005, segundo a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), a 6ª Seccional Sul registrou 717 homicídios dolosos. À época, a cada dia, a média de pessoas mortas na região era de 1,96. Atualmente, o número é de um caso aproximadamente.


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