São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eu estava lá

"Ganhei uma medalha e dormia no chão"
Acelino "Popó" Freitas

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para Popó, o Pan de Mar del Plata-95 foi sua Olimpíada, o patamar mais alto que conseguiu atingir como pugilista amador. De família modesta, logo depois, para levar dinheiro para casa, tornou-se profissional.
Fora o lado financeiro, pouca coisa mudou na realidade do brasileiro. Nem sua mentalidade ao fazer a transição.
"Sempre subi ao ringue com o objetivo de vencer todas as lutas. Nisso [o preparo psicológico], nada mudou", explica o pugilista baiano, 31.
O ex-campeão mundial profissional de boxe nas categorias superpena e leve conta que, apesar de ter gostado da experiência de ir ao Pan, decepcionou-se ao retornar ao país.
""Ao sair do Brasil, eu dormia embaixo de arquibancadas [em São Paulo]. Não tinha agasalho para correr. Achei que alguma coisa ia mudar se conseguisse algo no Pan-Americano. Ganhei só US$ 100 pela medalha, não apareceu patrocínio, não consegui mais nada", diz.
""Estava sem patrocínio e passando dificuldades. Ganhei uma medalha e ainda assim dormia no chão", afirma, ao lembrar da época em que vivia com a família em um casebre, construído sobre um morro. Popó decidiu não esperar até os Jogos Olímpicos de Atlanta.
Em 14 de julho de 1995, pulverizou José Adriano Soares no primeiro assalto por nocaute. Foi o primeiro de uma seqüência de 29 nocautes.
""Cheguei à final [no Pan], e o resultado quando perdi foi contestado. Lá, eles já usavam a maquininha. Meu estilo sempre foi mais parecido com o profissional", diz Popó, sobre a diferença na maneira de lutar entre amadores e profissionais.
No amadorismo, os atletas tentam tocar o oponente e acumular pontos. Já o profissionalismo beneficia quem busca definir as lutas por nocaute.
A teoria de Popó ficou clara logo em seu combate inicial no Pan da Argentina, quando passou por um porto-riquenho, obrigando o árbitro a abrir três contagens por conta de sua pegada. Na final, encarou o cubano Julio Gonzalez, que viria a ser campeão mundial amador e foi superado por pontos.
Na Vila Pan-Americana, Popó aproveitou para renovar o guarda-roupa. Trocou um uniforme da delegação nacional, que ganhara, por um calçado.
""Nunca tive um tênis bonito até aquela época", lembra ele, que nas horas vagas na Vila conversava com atletas como Zequinha Barbosa (atletismo) e Mário Tranquilini (judô).
Uma característica constante na carreira do brasileiro se manifestou no pódio ao receber a prata. O pugilista chorou.
""É incontestável. Foi uma emoção grande", diz Popó, que lamenta não ter participado do desfile da delegação na cerimônia de abertura do Pan, devido ao calendário de competição.
Agora, quer matar uma vontade que já dura 12 anos durante a abertura dos Jogos do Rio.
""Olha, quero desfilar. E como vou fazer parte oficialmente da comissão técnica, com credencial e tudo...", explica o boxeador, que na capital fluminense atuará como uma espécie de motivador da delegação brasileira de boxe.
""Tudo melhorou da minha época para agora. Ajuda de custo, nutricionista, fisiologista, torneios no exterior. Agora, vou falar como era na minha época, da oportunidade que tive. Para mim, participar do Pan foi um sonho, uma satisfação pessoal", define o brasileiro.


Texto Anterior: Nota de corte
Próximo Texto: O ABC dos esportes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.