São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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Disco vira fetiche

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Localizar uma cópia do primeiro "Chega de Saudade" não é tarefa simples. Ao mesmo tempo pesado e frágil, o disco de 78 rotações se quebrava se não manuseado com cuidado. Para piorar, as vitrolas deixaram de oferecer a velocidade necessária para sua execução após a popularização dos discos de 45 e 33 rotações. Muita gente acabou doando ou jogando no lixo coleções inteiras.
Hoje, o registro que inaugurou a bossa nova é alvo de cobiça. Num site de leilões, um colecionador baiano conseguiu vender uma cópia trincada por R$ 260 em abril.
Sérgio Ximenes, pesquisador paulistano que emprestou sua cópia para ser fotografada pela Folha, conta que muitos estrangeiros rodam os sebos atrás do 78. "No ano passado, um alemão estava disposto a pagar até R$ 1.000." Ximenes pediu para não ser fotografado com sua cópia por temer o assédio, em especial de gente ligada a colecionadores japoneses. "Eles vêem que você tem um item do João e ficam importunando para saber se não tem outras coisas. Vira uma encheção."
A cópia que Ruy Castro tem enquadrada em sua residência pertenceu ao colecionador baiano Jorge Cravo, o Cravinho. Segundo o pesquisador Caetano Rodrigues, dono de uma das maiores coleções do gênero e co-autor do livro "Bossa Nova e Outras Bossas - A Arte e o Design das Capas dos LPs", o 78 quase foi seu. "O Cravinho chegou a me prometer, mas acabou deixando-o com o Ruy. Pelo menos está em boas mãos", conforma-se.
Em seu blog, Sergio Britto, dos Titãs, publicou um relato emocionado do espanhol Carlos Gonzáles Anglada, que tinha como objetivo de vida conseguir o 78 "que deu início a tudo". Teve sucesso e recebeu em Madri sua cópia. Mas ela chegou partida em dez pedaços. "Seu lado A ["Chega de Saudade'], em cruel ironia, olhava para mim fixamente, como que me pedindo perdão por ter chegado naquele lamentável estado físico", escreveu Anglada. O vinil despedaçado acabou num quadro com moldura de ouro. (JFJ)


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