São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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NO CÉU E NA TERRA

Barulho de aviões e carros atormenta moradores

Reclamações de excesso de ruído na zona sul superam média de SP; aeroporto, vias carregadas e música alta estão entre as causas

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O excesso de barulho é a principal queixa de 10% dos moradores da região sul. Em Moema, onde está o aeroporto de Congonhas, o índice (15%) é mais que o dobro da média da cidade (7%). E o ruído não vem só do ar: carros, bares e a vizinhança agravam o problema.
Com um escritório vizinho à avenida Jornalista Roberto Marinho, no Campo Belo, o representante de material médico Wilson de Almeida Filho, 62, tem dificuldades até para escutar no telefone, por causa do ruído dos carros. "É muito difícil, até com o ouvido grudado."
No Sacomã, segundo em reclamações sobre barulho, 12% acham a poluição sonora o pior de onde vivem. No distrito, está a favela de Heliópolis, a maior da cidade -a Subprefeitura do Ipiranga, da qual faz parte, é a nona mais barulhenta das 31 da cidade, segundo dados até julho do Psiu (Programa de Silêncio Urbano) da prefeitura.
O maior problema, diz o comerciante Anderson José Filho, 44, de Heliópolis, é nos fins de semana e feriados, quando "muita gente abre o carro e liga o som". O comerciante Antonio Carlos da Silva, 46, concorda. "Parece que se esquecem de que há pessoas precisando dormir em casas muito próximas umas das outras."
Na Vila Mariana, onde 10% consideram o barulho o principal problema, o publicitário Sérgio Teixeira, 32 sofre com bares vizinhos. "Dá para ouvir bastante o barulho das conversas." Depois que se mudou para um apartamento de fundos no mesmo prédio, ele diz que o incômodo melhorou.

Congonhas
"Às vezes, estamos assistindo ao jornal, tem uma notícia que interessa e o avião passa bem na hora. Temos que aumentar o volume correndo", conta a advogada Roberta Lurbe Fonseca, 30, que mora em uma cobertura em Moema.
A pedido da Folha, o professor João Baring, especialista em acústica e controle de ruídos da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP mediu o nível de barulho produzido pelos aviões no apartamento da advogada. A média foi de 80 dB(A) -decibéis na escala "A", que ajusta as respostas do medidor para que ele se comporte quase como um ouvido humano artificial. O recomendado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é de até 45 dB(A).
"O ambiente ruidoso é estressante para o organismo", afirma o médico otorrinolaringologista Ektor Onishi, coordenador da Campanha Nacional de Saúde Auditiva da Sociedade Brasileira de Otologia. Ele próprio sente os incômodos do aeroporto: morador de Moema, vê Congonhas de seu apartamento. Quando seu filho nasceu, há sete anos, decidiu que não queria para o bebê os efeitos estressantes do barulho. Instalou janelas anti-ruído.
Em Congonhas, a cada hora são autorizados a pousar e decolar um avião a cada dois minutos, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
(TALITA BEDINELLI, JOÃO PEQUENO E RICARDO WESTIN)

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