São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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PERFIL DO MORADOR

Dona de bufê valoriza a vida prática da zona sul

Empresária vai a pé de casa ao trabalho e às compras; moradora de Moema, ela elogia sofisticação e agito do bairro

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Como nos últimos seis anos, o aniversário dos gêmeos Leonardo e Carolina, 6, divide com cores "de menino e menina" o salão do bufê Splash Blue. Mas a festa para centenas de pessoas "acaba mesmo sendo para a mãe" -que vem a ser a dona de uma das maiores entre as mais de 40 casas para aniversários de crianças em Moema.
"Pensou em bufê infantil, pensou logo em Moema, onde as pessoas acham que é chique", diz Eliete de Araújo Rocha Negri, 49, em seu escritório de paredes pastéis.
Um deles liga exigindo a presença expressa da mãe, acostumados que estão em acordar e ir dormir com ela -depois de rezar o pai-nosso, pulando uma ou outra palavra. E ela estará lá em minutos, já que mora a uma quadra do trabalho, na mesma rua Canário; ao lado da loja onde compra sapatos e em frente à butique preferida -e a alguns minutos a pé da manicure e do cabeleireiro. "Moema é um bairro de conveniência, de gente bonita andando na rua com seus cachorros."
Gente que paga de R$ 4.000 a até R$ 50 mil por uma festinha para o filho, em um bufê com minimontanha-russa, balões na casa dos milhares, cavalinhos puxando carruagens e até jogadores profissionais do São Paulo Futebol Clube. Cerca de 90% dos clientes, segundo Eliete, moram em Moema -a maioria mulheres que "não querem mais pôr, literalmente, a mão na massa do brigadeiro".
No bairro parece que ninguém tem muito tempo a perder. Nem Eliete, que começa o dia, quando pode, caminhando no parque Ibirapuera, antes de levar os filhos de carro até uma escola bilíngüe. Trabalha então quase dez horas, não sem passar em casa para ver como estão as crianças ou buscar algo. "Aqui no trabalho sempre posso dizer: "Estou indo ali em casa e já volto'", brinca.

Nota nove
Não que essa ilha de praticidade seja um bairro ideal. "Eu daria uma nota nove." O trânsito e o barulho afastam a nota dez. "Às vezes estou com uma cliente ao telefone e tenho que esperar dez segundos até passar o avião, mas isso é normal", diz a morena de cabelos lisos, pele bronzeada e maquiagem leve, que circula com salto alto e blusa de babados verdes pelos salões do bufê, mostrando os detalhes que fazem o salão conquistar os clientes do bairro.
Além dos brinquedos de parque de diversão e do chão transparente com bonecos se mexendo sob os pés de quem entra para a festa, o grande atrativo parece ser mesmo a proximidade de casa. Ninguém quer ficar horas no trânsito, com crianças pulando no banco de trás. "Tenho até cliente que sai no meio da festa para comprar sapato na loja ao lado."
Quando essa goiana de Tocantinópolis (na época o Tocantins não existia e ela nasceu em Goiás) veio para São Paulo, aos 18, morar com um dos irmãos no Alto da Boa Vista, zona sul, nem sonhava o que era Moema. Estudou letras, virou secretária executiva em um banco, casou-se e foi morar no Brooklin com o marido, um ex-piloto da Varig.
Aí decidiu montar um bufê, em 1995. "Na época, Moema já vivia o boom dos bufês infantis", diz e ela acabou levando seu salão para lá, em 2000. Grávida dos gêmeos, ela e o marido foram juntos. Hoje Eliete vê nas ruas com nome de índios e pássaros de Moema um resquício da infância goiana.
"Como sou de lá, me sinto em casa aqui, onde ainda tem ruas com cara de interior." Ela não pensa em sair nunca mais da rua Canário onde, diz, cansa de ver passarinho voando na sacada do apartamento.
É esse bairro plano com ruas arborizadas, barulhento, mas acolhedor, que essa são-paulina (o filho obriga) não trocaria por nenhum outro. "Moema tem tudo, é segura, mas ainda tem vida."

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