São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2011

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Henrique Saraiva, Luana e Phelipe Nobre

ADAPTSURF
www.adaptsurf.org.br


Onda inclusiva

Trio de amigos vencedor do Folha Empreendedor Social de Futuro embarca numa "trip" em busca de surfe adaptado e acessibilidade nas praias do país

JAIRO MARQUES

ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ao mesmo tempo em que Henrique Saraiva observa os movimentos de um aluno tetraplégico sobre a prancha de surfe para atribuir-lhe nota, Luana Nobre prepara a próxima competidora, uma jovem com paralisia cerebral, para entrar na água.
No mar, em busca da "onda perfeita" para um aluno cego e corrigindo sua postura, está Phelipe Nobre.
O trio, campeão do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2011, compõe a ONG Adaptsurf, que proporciona o prazer de ir à praia com condições de acessibilidade, aliado à prática de surfe, para pessoas com deficiência física, sensorial e/ou intelectual.
Incomum no terceiro setor, a formação em trio, com papéis bem definidos de cada um, é o diferencial da ONG.
"O Henrique é a inspiração para nós e para os alunos.
Como tem uma deficiência, mostra que qualquer um pode surfar", diz Luana, professora de educação física.
Em um roubo de bicicleta, no Dia da Pessoa com Deficiência (3 de dezembro), Henrique, então com 18 anos, levou um tiro na barriga que atingiu a coluna vertebral.
O ato o deixou por seis meses em uma cadeira de rodas.
Passou maus bocados até se firmar diante de uma realidade com deficiência, mas manobrou pela vida como um surfista "casca grossa".Tomou coragem e largou uma rotina de trabalho tradicional em multinacionais para se dedicar integralmente à ONG.
Hoje anda com o apoio de muletas e pega ondas de joelhos com desenvoltura de "pro", dizem os parceiros.

SEM MAROLAS
Se Henrique é a inspiração -e o gestor principal-, Luana é a energia que dá a liga entre a areia e o mar.
"A Luana é a nossa parte emoção. Ela une os voluntários, incentiva os alunos e controla o desempenho de todos", devolve Henrique.
Curitibana, Luana mudou-se para o Rio por amor -é casada com Phelipe.
A sorridente professora de educação física se desdobra para dar aulas em escola particular e em academia. Agora, quer se especializar em atividades adaptadas para pessoas com deficiência.
Com seus conhecimentos de esportes, desenvolveu, junto com o marido, os métodos para o surfe adaptado.
"Usamos os preceitos das aulas tradicionais de surfe, adequando-os à realidade de cada deficiente", diz Phelipe, força-motriz que completa a expertise do grupo com seus conhecimentos em saúde.
Fisioterapeuta, faz atendimentos particulares a pacientes de segunda a sexta, mas não vê a hora de chegar o fim de semana para... trabalhar.
Passa, nas aulas de surfe, até quatro horas ininterruptas no mar para que, em algum momento, cada aluno possa pegar sua prancha e aproveitar o mar da forma mais independente possível.
Inseparáveis em maré alta ou baixa, os três olham para o horizonte e sonham juntos com a mesma "trip": a de ver pessoas com deficiência surfando em praias acessíveis no Brasil todo -e no mundo.


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