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futuro - DANIEL CYWINSKI
Arte no canteiro
Administrador introduz ateliês para operários nas obras e ajuda a edificar novos pilares em suas vidas
EDSON VALENTE
EDITOR-ASSISTENTE DE IMÓVEIS
Desde o princípio, o grande
desafio de Daniel Manchado
Cywinski, 35, foi o de ligar dois
universos: o da projeção, da
arte, ao da realidade dura; o
abstrato ao concreto.
Quando estava se formando
em administração, virou educador ambiental em favelas de
Santo André (SP), no tempo em
que o conceito de sustentabilidade beirava o abstracionismo.
O trampolim para andaimes
mais altos, contudo, surgiu em
2001, ao visitar em uma obra o
amigo e arquiteto Arthur Zobaran Pugliese, 35. Foi quando tiveram a ideia: implantar ateliês
de arte dentro dos canteiros,
aproveitando restos de materiais para fazer as peças.
Para o acabamento do projeto, houve ainda um toque do
artista catalão Gaudí (1852-1926), após uma viagem realizada pela dupla a Barcelona.
"Voltamos de lá com a certeza
de ser possível fazer arte com
resíduos de obra", diz Daniel.
Força maior
O pilar central da empreitada: orientar o trabalhador a incorporar a subjetividade ao
manuseio daqueles materiais.
Tem, assim, a chance de inverter o padrão e ser dono da ideia,
do começo ao fim, sem mudar
as ferramentas de trabalho.
Mas, se o desenvolvimento
do conceito -o abstrato- não
enfrentou grandes barreiras,
sua operacionalização -o concreto- precisou e ainda precisa
implodir paradigmas.
"Foi dificílima", recorda Daniel. "Até hoje a construção civil é uma das mais atrasadas
em desenvolvimento humano."
Foram várias "portadas na
cara", risadas, chacotas. "Mas
havia uma força maior. Algo para acontecer que, de tão verdadeiro, mexia com as pessoas."
O espaço para concretizar a
proposta foi encontrado, diz,
nas frestas da construção civil.
Outro desafio foi derrubar a rigidez do próprio trabalhador.
"É preciso respeitar muito a sabedoria do operário, que mexe
no material como ninguém."
Essa relação tem sido edificada desde a primeira oficina, em
Mauá, proporcionada por uma
construtora de Santo André.
"Meia hora por semana com
três operários, perto de uma favela. Pensavam que desistiríamos na segunda semana. Fizemos por seis meses."
A repercussão foi parar em
uma página inteira do "Diário
do Grande ABC" e pavimentou
o caminho para um ano e meio
em um canteiro com 500 trabalhadores em Santo André.
As dificuldades, hoje, ainda
são muitas, e Daniel as analisa
com os pés firmes no chão.
"Se não fica claro para o marketing que dá para capitalizar em
cima, o projeto não acontece."
O Mestres da Obra, atualmente, consome quase todo o
seu tempo, mas financeiramente Daniel ainda não consegue viver só dele. Isso, porém,
não abala sua determinação.
"Estamos com três projetos
colocados que, se saírem, vão
significar algo que a gente nunca teve em volume de canteiros.
Estou muito animado."
O entusiasmo é uma boa medida do que está por vir. Afinal,
após tantos percalços, o visionário sabe bem onde pisa.
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