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ERIKA FOUREAUX
Desenho da inclusão
Arquiteta desenvolve produtos que socializam a criança dependente de cadeira de rodas
DÉBORA FANTINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BELO
HORIZONTE
Aos 20 anos, a arquiteta Erika Foureaux, 36, já era representante no Brasil de um grupo
francês de mobiliário infantil.
Mas, quando a maternidade
pôs em xeque sua atuação profissional, a mãe de Júlia, 16, Sofia, 14, e Nina, 10, não titubeou.
Incomodada porque os móveis que vendia não serviam
para a filha do meio, que nasceu
com deficiência física, Erika se
desvinculou da multinacional e
projetou uma ONG para desenvolver produtos inclusivos.
Ir direto à fábrica poderia parecer mais simples, mas ela justifica a opção pelo terceiro setor: "Um produto fabricado na
França não chegaria ao meu
povo nunca. E também é uma
forma de mostrar ao governo
brasileiro que é preciso haver
política pública de inclusão".
Assim ganhava vida em 2003
o Instituto Noisinho da Silva,
com nome e sobrenome que
reafirmam a origem mineira de
Erika, criada na França. Filha
de comunistas exilados, ela
emigrou aos dois anos e só retornou ao Brasil aos 16 anos.
"Lá em casa, sempre se falou
em justiça social", conta Erika,
que, na adolescência, foi punk e
aderiu ao movimento antirracismo "touche pas à mon pote"
(não encoste no meu amigo).
Novo design
À frente do Noisinho, passou
de ativista a empreendedora
social. Projetou itens como a
Carteira Escolar Inclusiva e a
cadeira Ciranda, que logo serão
lançados no mercado, sem deixar confundir-se com um escritório de design convencional.
O instituto também promove
um evento com atividades culturais e uma oficina na qual famílias pobres constroem uma
versão em madeira da Ciranda
-acessório para retificar a postura de crianças de um a seis
anos e permitir que elas desçam da cadeira de rodas e do
berço para brincar no chão.
A estratégia de usar a família
na montagem da Ciranda é para que ela não acabe encostada.
E a experiência é um estímulo
para os pais mudarem de atitude, sentindo-se capazes de buscar soluções para os filhos.
"Achei que não fosse dar conta porque nunca havia trabalhado com madeira", conta a
dona de casa Cilene Vicente
Ferreira, 41, mãe de Juan, 5.
"Mas fiz a Ciranda do meu filho
com minhas próprias mãos."
Na Oficina da Ciranda, Erika
também coloca a mão na massa, assim como no dia a dia
à frente do Noisinho da Silva.
Prolífica, sempre inventa novos produtos. Um dos mais recentes é a animação "Os Eficientes", em fase de produção.
Para incrementar suas
ideias, ela diz não abrir mão de
pessoas que pensem diferente.
"O "do contra" fundamentado
que me desafie a criar um produto mais bacana", atiça.
No auge de um projeto, a
equipe chega a 30 profissionais,
que incorporam o onipresente
senhor Noisinho. "Esse nome
tem a conotação de que "euzinha" não faria nada sozinha.
Agora, "noisinho" faz."
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