São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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ERIKA FOUREAUX

Desenho da inclusão

Arquiteta desenvolve produtos que socializam a criança dependente de cadeira de rodas

DÉBORA FANTINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BELO HORIZONTE

Aos 20 anos, a arquiteta Erika Foureaux, 36, já era representante no Brasil de um grupo francês de mobiliário infantil. Mas, quando a maternidade pôs em xeque sua atuação profissional, a mãe de Júlia, 16, Sofia, 14, e Nina, 10, não titubeou.
Incomodada porque os móveis que vendia não serviam para a filha do meio, que nasceu com deficiência física, Erika se desvinculou da multinacional e projetou uma ONG para desenvolver produtos inclusivos.
Ir direto à fábrica poderia parecer mais simples, mas ela justifica a opção pelo terceiro setor: "Um produto fabricado na França não chegaria ao meu povo nunca. E também é uma forma de mostrar ao governo brasileiro que é preciso haver política pública de inclusão".
Assim ganhava vida em 2003 o Instituto Noisinho da Silva, com nome e sobrenome que reafirmam a origem mineira de Erika, criada na França. Filha de comunistas exilados, ela emigrou aos dois anos e só retornou ao Brasil aos 16 anos.
"Lá em casa, sempre se falou em justiça social", conta Erika, que, na adolescência, foi punk e aderiu ao movimento antirracismo "touche pas à mon pote" (não encoste no meu amigo).

Novo design
À frente do Noisinho, passou de ativista a empreendedora social. Projetou itens como a Carteira Escolar Inclusiva e a cadeira Ciranda, que logo serão lançados no mercado, sem deixar confundir-se com um escritório de design convencional.
O instituto também promove um evento com atividades culturais e uma oficina na qual famílias pobres constroem uma versão em madeira da Ciranda -acessório para retificar a postura de crianças de um a seis anos e permitir que elas desçam da cadeira de rodas e do berço para brincar no chão.
A estratégia de usar a família na montagem da Ciranda é para que ela não acabe encostada. E a experiência é um estímulo para os pais mudarem de atitude, sentindo-se capazes de buscar soluções para os filhos.
"Achei que não fosse dar conta porque nunca havia trabalhado com madeira", conta a dona de casa Cilene Vicente Ferreira, 41, mãe de Juan, 5. "Mas fiz a Ciranda do meu filho com minhas próprias mãos."
Na Oficina da Ciranda, Erika também coloca a mão na massa, assim como no dia a dia à frente do Noisinho da Silva. Prolífica, sempre inventa novos produtos. Um dos mais recentes é a animação "Os Eficientes", em fase de produção.
Para incrementar suas ideias, ela diz não abrir mão de pessoas que pensem diferente. "O "do contra" fundamentado que me desafie a criar um produto mais bacana", atiça.
No auge de um projeto, a equipe chega a 30 profissionais, que incorporam o onipresente senhor Noisinho. "Esse nome tem a conotação de que "euzinha" não faria nada sozinha. Agora, "noisinho" faz."


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