São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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NICOLAU PRIANTE FILHO

Renda solidária

Ex-professor universitário une pesquisador e cooperativa e desenvolve comunidades carentes

MARIANA IWAKURA
ENVIADA ESPECIAL A MATO GROSSO

Em um "sambão" na USP, em 1970, a estudante de filosofia Josita Correto da Rocha quis dançar com "o cara mais louco da festa". O eleito foi Nicolau Priante Filho, aluno de física. Casaram-se dez meses depois.
Sem dinheiro, moravam numa república e cozinhavam os restos da feira, mas continuavam com as festas, que reuniam dezenas. Para comprar uma casa, emprestaram de 40 amigos.
Nicolau, 59, é um agregador. A primeira união foi com Josita, depois vieram as reuniões com os camaradas. Em seguida, ajudou também na junção da física com a agronomia, da ciência com o social, do pesquisador acadêmico com a cooperativa.
Sua carreira universitária começou em 1977, dando aulas na Universidade Federal de Mato Grosso. As preocupações científica e social andaram juntas. "A academia tem áreas em que, se a pessoa se limita, fica dez anos para ter uma publicação que serve só para aquilo", diz.
Em 1996, o grupo de Nicolau tentava desenvolver um secador de frutas, mas o dispositivo gastava 40 kg de lenha para produzir 1 kg de banana-passa.
A solução para o "incêndio florestal" não foi muito científica: veio num sonho. Nicolau vislumbrou uma chaminé em zigue-zague, que usava a energia perdida para o ambiente para secar fruta. O protótipo foi feito no quintal de casa, e a lenha usada caiu para 4,5 kg.

Sem informação
Ao viajar para os EUA, Nicolau propôs à empregada da casa que abrisse uma firma de secar frutas. Meses depois, ela não achara o recibo do IPTU do imóvel, e tudo estava na mesma. "São pessoas sem acesso à informação. Como resolver isso? É produto competitivo, e não funciona?", indagou ele.
A conclusão foi criar uma organização que trouxesse renda, uma cooperativa, mas que tivesse um elo com a ciência. Nasceu então o conceito do pesquisador cooperado.
O projeto se concretizou com a Coorimbatá. Os cooperados secavam as frutas na casa de Nicolau, que fez parceria com uma rede de supermercados.
Hoje, a cooperativa atua com unidades produtivas de frutas, peixes e húmus de minhoca, e aposta na carne de jacaré.
Como uma das atribuições do pesquisador cooperado -função de Nicolau e de Josita- é cobrir prejuízos, a família investiu muito no novo "filho".
"Quando não tínhamos dinheiro, quem ajudou foram os amigos, que não eram abastados. Naquele tempo, eu era mais ajudado", afirma Nicolau. "Devo muito à maneira como nos constituímos como família. Fomos diferentes e pudemos inovar em outras áreas."
À noite, no chorinho, Nicolau toca cavaquinho, e Josita canta. E reúnem amigos. "Quando viemos para cá, perguntaram o motivo das nossas festas. É festar!", explica o professor. "Em um lugar onde todos estão bem, eu vou estar bem", ensina.


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