São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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RODRIGO CASTRO

Nova caatinga

Biólogo luta por visão diferente do semiárido, com integração dos sertanejos e criação de reservas

DO ENVIADO ESPECIAL AO CEARÁ

Aos gritos de "vamos conseguir!" e "muito bem, equipe!", o biólogo Rodrigo Castro incentiva o inexperiente motorista a vencer uma ladeira escorregadia e cheia de buracos.
Mais que uma situação prosaica de um dia qualquer, a cena desvela traços marcantes da natureza desse catingueiro suíço com coração de brasileiro. Entre eles, o de líder motivador, apaixonado pelo que faz e pertinaz como muito poucos.
"Acredito que a minha energia atrai ou repudia. E, se atrai, conecta; se conecta, conduz; se conduz, flui. E flui bem", prega.
Imbuído dessa força invisível, Rodrigo ganhou o mundo por 12 anos. Escolheu a biologia inspirado por dois professores e, com uma bolsa, partiu para Zurique (Suíça), sua terra natal.
Ao graduar-se, fixou-se no Brasil pelo curto tempo em que trabalhou no projeto Tamar, em Sergipe. Lá, vivenciou pela primeira vez a conservação integrada à população local.
Era o oxigênio de que precisava para optar por aprofundar-se em desenvolvimento humano, tema de seu mestrado, realizado na Irlanda, e raiz do convite para coordenar um projeto social em Moçambique, onde viveu por quatro anos.
Indeciso entre permanecer na África ou retornar ao Brasil, atendeu ao chamado de um amigo e fez as malas rumo ao Ceará, sem saber que descobriria, ali, a sua grande paixão.
"Quando subi na chapada [do Apodi], me apaixonei pela energia e pela força daquele lugar. Com aquele visual, decidi recomeçar pela caatinga."
Recomeço que já dura dez anos, em que Rodrigo vem irrigando uma necessária transformação nesse esquecido bioma genuinamente brasileiro.
Como líder da Associação Caatinga, da Asa Branca e da Aliança da Caatinga, trabalha para construir conceitos diferenciados de preservação em nove Estados nordestinos e no norte de Minas Gerais.
Juntas, beneficiaram mais de 50 mil sertanejos por meio de educação ambiental, geração de trabalho, pesquisas científicas e incentivo ao ecoturismo.

Virada de 180º
Na luta para "inverter a referência de quem sempre vê o mar à sua frente", Rodrigo hoje peleja pela criação de RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Nacional). "É preciso deixar de dar as costas para a caatinga, num movimento de 180º para enxergar o mundo que existe atrás do litoral."
O maior desafio dessa quebra de paradigmas é apagar o estigma de "êxodo, miséria, caveira de gado e açude rachado". É mostrar a beleza, a criatividade, a força do homem que vive ali.
"Um novo olhar para a caatinga é o desafio permanente", ressalta Rodrigo, que se inspira na carnaúba, a "tamareira da caatinga", de que tudo se aproveita, ao descrever o bioma em que semeou sua missão de vida.
"Carnaúba significa árvore da vida. Ela tem o valor de ser útil, sustentável, perene, cheia de vida. E é bonita", metaforiza.
(CÁSSIO AOQUI)


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