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RODRIGO CASTRO
Nova caatinga
Biólogo luta por visão diferente do semiárido, com integração dos sertanejos
e criação de reservas
DO ENVIADO ESPECIAL AO CEARÁ
Aos gritos de "vamos conseguir!" e "muito bem, equipe!",
o biólogo Rodrigo Castro incentiva o inexperiente motorista a vencer uma ladeira escorregadia e cheia de buracos.
Mais que uma situação prosaica de um dia qualquer, a cena desvela traços marcantes da
natureza desse catingueiro suíço com coração de brasileiro.
Entre eles, o de líder motivador, apaixonado pelo que faz e
pertinaz como muito poucos.
"Acredito que a minha energia atrai ou repudia. E, se atrai,
conecta; se conecta, conduz; se
conduz, flui. E flui bem", prega.
Imbuído dessa força invisível, Rodrigo ganhou o mundo
por 12 anos. Escolheu a biologia
inspirado por dois professores
e, com uma bolsa, partiu para
Zurique (Suíça), sua terra natal.
Ao graduar-se, fixou-se no
Brasil pelo curto tempo em que
trabalhou no projeto Tamar,
em Sergipe. Lá, vivenciou pela
primeira vez a conservação
integrada à população local.
Era o oxigênio de que precisava para optar por aprofundar-se em desenvolvimento
humano, tema de seu mestrado, realizado na Irlanda, e raiz
do convite para coordenar um
projeto social em Moçambique,
onde viveu por quatro anos.
Indeciso entre permanecer
na África ou retornar ao Brasil,
atendeu ao chamado de um
amigo e fez as malas rumo ao
Ceará, sem saber que descobriria, ali, a sua grande paixão.
"Quando subi na chapada [do
Apodi], me apaixonei pela
energia e pela força daquele
lugar. Com aquele visual, decidi
recomeçar pela caatinga."
Recomeço que já dura dez
anos, em que Rodrigo vem irrigando uma necessária transformação nesse esquecido bioma genuinamente brasileiro.
Como líder da Associação
Caatinga, da Asa Branca e da
Aliança da Caatinga, trabalha
para construir conceitos diferenciados de preservação em
nove Estados nordestinos e
no norte de Minas Gerais.
Juntas, beneficiaram mais de
50 mil sertanejos por meio de
educação ambiental, geração
de trabalho, pesquisas científicas e incentivo ao ecoturismo.
Virada de 180º
Na luta para "inverter a referência de quem sempre vê o
mar à sua frente", Rodrigo hoje
peleja pela criação de RPPNs
(Reserva Particular do Patrimônio Nacional). "É preciso
deixar de dar as costas para a
caatinga, num movimento de
180º para enxergar o mundo
que existe atrás do litoral."
O maior desafio dessa quebra
de paradigmas é apagar o estigma de "êxodo, miséria, caveira
de gado e açude rachado". É
mostrar a beleza, a criatividade,
a força do homem que vive ali.
"Um novo olhar para a caatinga é o desafio permanente",
ressalta Rodrigo, que se inspira
na carnaúba, a "tamareira da
caatinga", de que tudo se aproveita, ao descrever o bioma em
que semeou sua missão de vida.
"Carnaúba significa árvore
da vida. Ela tem o valor de ser
útil, sustentável, perene, cheia
de vida. E é bonita", metaforiza.
(CÁSSIO AOQUI)
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