São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
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Itaipu trabalha com sobrecarga desde 97

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Ivaiporã

Desde o início do ano passado, a Binacional de Itaipu tem trabalhado com sobrecarga de geração. A situação se agravou nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, em que a produção oscilou em 2% e 3% a mais que no mesmo período de 1997, quando foram batidos recordes de produção de energia.
Técnicos de Itaipu e Furnas Centrais Elétricas trabalharam todo o dia de ontem com a hipótese de que a causa do blecaute teria ligação direta com uma possível sobrecarga na geração de energia pela Hidrelétrica de Itaipu.
Os responsáveis por Itaipu e Furnas só teriam sido informados de que a causa do blecaute foi a ocorrência de um raio numa subestação da Cesp em Bauru.
Segundo técnicos de Itaipu, a hipótese de sobrecarga foi levada em conta porque existe pressão para um aumento na geração de energia por parte de Itaipu em consequência do baixo nível de água dos reservatórios do sistema Chesf (Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco) por causa da seca na região Nordeste.
Essa pressão sobre a produção, segundo os técnicos, tem ocorrido para evitar colapso no atendimento do sistema Norte-Nordeste.
Com o projeto Norte-Sul em operação a partir do início deste ano, que permite a interligação de energia entre os dois grandes complexos (Sul, Sudeste e Centro-Oeste e Norte-Nordeste), o problema de sobrecarga teria se agravado.
Esse maior consumo de energia por parte da região Nordeste poderia ter causado problemas em alguma estação nos Estados de Minas Gerais ou Bahia, provocado um efeito cascata de sucessivas quedas de energia até Itaipu e daí o blecaute.

Mal-estar
A nota oficial do Ministério de Minas e Energia, divulgada na manhã de ontem atribuindo o blecaute a falhas no sistema de transmissão entre Ivaiporã e Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, provocou mal-estar principalmente na direção paranaense de Furnas Centrais Elétricas.
O diretor de produção de Furnas, José Maurício Zaroni, 51, afirmou que podia garantir, com 99,9% de chances de "não errar" que o problema não teria ocorrido "nem na geração por Itaipu, nem na transmissão por Furnas". Já na madrugada de anteontem, Zaroni descartava qualquer falha nos circuitos de corrente alternada (de Foz, passando pela subestação de Ivaiporã até Tijuco Preto, em São Paulo) ou de corrente contínua (de Foz a Ibiúna, também em São Paulo).
Ainda de acordo com o diretor de Furnas (PR), a afirmação se baseava no fato de as cidades de Foz do Iguaçu e Ivaiporã (onde estão instaladas as subestações) não terem sofrido com o blecaute, já que houve oscilações de energia nessas cidades. O restabelecimento mais rápido do fornecimento no Sul do país e na transmissão para as subestações de Tijuco Preto (correntes alternadas) e Ibiúna seria outra demonstração de que o problema ocorreu fora desses circuitos, contrariando a nota distribuída pelo ministro Rodolpho Tourinho (Minas e Energia).
O diretor técnico-executivo de Itaipu, Altino Ventura Filho, 56, também foi taxativo. Segundo ele, o blecaute não foi, em hipótese alguma, gerado por problemas na usina. O presidente de Itaipu, Euclydes Scalco, também passou todo o dia de ontem negando que a origem do blecaute tenha sido na Binacional.


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