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Itaipu trabalha com sobrecarga desde 97
JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Ivaiporã
Desde o início do ano passado, a
Binacional de Itaipu tem trabalhado com sobrecarga de geração. A
situação se agravou nos meses de
janeiro e fevereiro deste ano, em
que a produção oscilou em 2% e
3% a mais que no mesmo período
de 1997, quando foram batidos recordes de produção de energia.
Técnicos de Itaipu e Furnas Centrais Elétricas trabalharam todo o
dia de ontem com a hipótese de
que a causa do blecaute teria ligação direta com uma possível sobrecarga na geração de energia pela Hidrelétrica de Itaipu.
Os responsáveis por Itaipu e Furnas só teriam sido informados de
que a causa do blecaute foi a ocorrência de um raio numa subestação da Cesp em Bauru.
Segundo técnicos de Itaipu, a hipótese de sobrecarga foi levada em
conta porque existe pressão para
um aumento na geração de energia
por parte de Itaipu em consequência do baixo nível de água dos reservatórios do sistema Chesf
(Companhia Hidrelétrica do Vale
do São Francisco) por causa da seca na região Nordeste.
Essa pressão sobre a produção,
segundo os técnicos, tem ocorrido
para evitar colapso no atendimento do sistema Norte-Nordeste.
Com o projeto Norte-Sul em
operação a partir do início deste
ano, que permite a interligação de
energia entre os dois grandes complexos (Sul, Sudeste e Centro-Oeste e Norte-Nordeste), o problema
de sobrecarga teria se agravado.
Esse maior consumo de energia
por parte da região Nordeste poderia ter causado problemas em alguma estação nos Estados de Minas Gerais ou Bahia, provocado
um efeito cascata de sucessivas
quedas de energia até Itaipu e daí o
blecaute.
Mal-estar
A nota oficial do Ministério de
Minas e Energia, divulgada na manhã de ontem atribuindo o blecaute a falhas no sistema de transmissão entre Ivaiporã e Foz do Iguaçu,
no Estado do Paraná, provocou
mal-estar principalmente na direção paranaense de Furnas Centrais
Elétricas.
O diretor de produção de Furnas,
José Maurício Zaroni, 51, afirmou
que podia garantir, com 99,9% de
chances de "não errar" que o problema não teria ocorrido "nem na
geração por Itaipu, nem na transmissão por Furnas". Já na madrugada de anteontem, Zaroni descartava qualquer falha nos circuitos
de corrente alternada (de Foz, passando pela subestação de Ivaiporã
até Tijuco Preto, em São Paulo) ou
de corrente contínua (de Foz a
Ibiúna, também em São Paulo).
Ainda de acordo com o diretor
de Furnas (PR), a afirmação se baseava no fato de as cidades de Foz
do Iguaçu e Ivaiporã (onde estão
instaladas as subestações) não terem sofrido com o blecaute, já que
houve oscilações de energia nessas
cidades. O restabelecimento mais
rápido do fornecimento no Sul do
país e na transmissão para as subestações de Tijuco Preto (correntes alternadas) e Ibiúna seria outra
demonstração de que o problema
ocorreu fora desses circuitos, contrariando a nota distribuída pelo
ministro Rodolpho Tourinho (Minas e Energia).
O diretor técnico-executivo de
Itaipu, Altino Ventura Filho, 56,
também foi taxativo. Segundo ele,
o blecaute não foi, em hipótese alguma, gerado por problemas na
usina. O presidente de Itaipu,
Euclydes Scalco, também passou
todo o dia de ontem negando que a
origem do blecaute tenha sido na
Binacional.
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