|
Texto Anterior | Índice
FICÇÃO
Em busca da luz
VOLTAIRE DE SOUZA
colunista da Folha
Quem não tem saudade dos
entes queridos? Daqueles que já
se foram? Dona Nalva sentia
muita falta do filho. O Clodoaldo. Aparência de anjo. Alma de
Satanás. Envolvera-se com drogas, assaltos e sequestros. Foi fuzilado acidentalmente pela PM
aos 18 anos.
Recomendaram para dona
Nalva um centro espiritual.
-Procure o Pai Futaba, Nalva.
Ele faz contato.
Pai Futaba tinha um terreiro
de muito prestígio. Misturava
fortes influências do candomblé
e do catolicismo com a tradicional eficiência japonesa.
Dona Nalva estava impressionada com a energia que fluía daquele lugar. Uma luz suave e arroxeada dominava o ambiente.
Pai Futaba começou a chamar
o espírito de Clodoaldo.
-Curodoárudo. Dona Náruva te procura.
Imediatamente começou-se a
ouvir um som de rock pesado.
-Nossa. É a música que ele
ouvia.
Uma voz se manifestou atrás
das cortinas.
-Mãe... sou eu... crééc.
Dona Nalva sentiu forte emoção. Mas de repente, tudo parou.
Era o blecaute. A luz arroxeada
apagou-se. Sumiram a voz e o
som de rock. O ventiladorzinho
que espalhava a fumaça de incenso ficou imóvel.
Pai Futaba ia dizer que as forças do Mal estavam impedindo o
diálogo. Mas não teve tempo para explicações. Entrava na sala a
quadrilha do Bolacha. Que já tinha assaltado um bistrozinho
francês e agora se aproveitava do
blecaute.
Bolacha começou ameaçando.
Mas dona Nalva abraçou-o com
amor.
-É igualzinho ao Clodoaldo.
Meu filho de volta. Obrigado,
Pai Futaba.
Bolacha já está morando com
dona Nalva e pensa em abandonar o crime. Neste país tão complexo e superpovoado, quedas
de energia podem acontecer.
Mas o combate entre a Luz e as
Trevas depende, sobretudo, das
usinas do coração.
Texto Anterior: Gerador falha em 3 hospitais Índice
|