São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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ENSINO FUNDAMENTAL

Via-sacra da matrícula inclui atividades com pai e criança

Educadores criticam sondagem pedagógica com candidato antes da matrícula

ROBERTA BENCINI
FLÁVIA MARTIN
COLABORAÇÃO PARA FOLHA

Fila de espera, visitas, entrevistas com coordenadores, atividades de sondagem pedagógica -em alguns casos, com cobrança de taxa- e sorteio de vagas. Essas são as principais etapas enfrentadas na via-sacra que é matricular um filho nas primeiras colocadas no ranking do Enem na capital paulista.
Mesmo com a ansiedade das famílias, que chegam a procurar a escola com um ano de antecedência, a resposta final só costuma sair no fim do ano.
Elisabeth Braga, 37, espera desde maio por uma vaga para Natália, 5, no Albert Sabin, onde já está a sua filha Carolina, 9. "Facilitaria muito a minha vida levar as duas para a mesma escola, mas preciso de um "plano B" caso não consiga vaga."
Na maioria das escolas, o caminho começa com o agendamento de visita e continua com uma reunião sobre o projeto pedagógico. Antes da matrícula, vem uma etapa que suscita críticas: uma atividade com a criança, chamada de sondagem pedagógica ou vivência.
Em grupo ou individualmente, as crianças são observadas por professores e auxiliares em atividades que podem ser de pintura, desenho, escrita e brincadeiras ao ar livre. A atividade vai de duas horas a uma manhã ou tarde inteira.
Os colégios alegam que querem conhecer melhor o candidato. Mas Gisela Wajskop, ex-coordenadora de educação infantil do Ministério da Educação e diretora do Instituto Superior de Educação Singularidades, afirma que "há outros interesses em jogo".
"Se a demanda é grande, as escolas acabam por usar a sondagem para escolher os alunos que já estão alfabetizados para não ter muito problema e manter o lugar de destaque da escola quando o aluno chegar ao ensino médio", diz Gisela.
O Vértice é o único que assume o caráter classificatório da atividade. "A vivência é um critério levado em consideração para desempate. Observamos como a criança se porta junto aos colegas, se está incomodada e se tem facilidade para interagir com todos", diz o diretor Adilson Garcia.
"Quando temos mais candidatos do que vagas, fazemos uma vivência, colocamos um lápis na mão da criança e analisamos se ela já tem maturidade suficiente para ingressar no ensino fundamental", diz Sylvia Gouvêa, diretora do Lourenço Castanho, que nega que o processo seja classificatório.
Em 2003, após constatar a aplicação do vestibulinho para ingresso no fundamental, o Ministério Público Federal pediu uma posição do Ministério da Educação, que proibiu qualquer seleção nessa fase. A decisão teve como origem um parecer da própria Sylvia, que, na época, fazia parte do Conselho Nacional de Educação.
A orientação foi que as escolas fizessem suas escolhas baseadas, principalmente, em sorteio e ordem de inscrição, e que deixassem claro os outros critérios considerados em caso de excesso de procura.
Magda Soares, livre-docente da Universidade Federal de Minas Gerais e uma das principais pesquisadoras do país em alfabetização, diz que compreende a "posição das escolas quando há muita procura", mas discorda da solução encontrada pelos colégios. "Fazer a seleção pela maturidade é o pior critério que se pode ter. Se a criança tem a idade mínima exigida, está pronta para estudar. É a escola que precisa se adaptar aos alunos que estão em diferentes níveis da escrita, e não o contrário", diz Magda.
Nenhuma das escolas procuradas aplica a provinha atualmente. Mas elas privilegiam quem tem irmãos na escola, é filho de professor, mora perto e tem pais "interessados" na educação dos filhos, já que eles são "potenciais parceiros" na formação escolar do aluno -um critério pouco claro e objetivo. Na maioria dos casos, se houver empate, é feito um sorteio.


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