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ENSINO FUNDAMENTAL
Via-sacra da matrícula inclui atividades com pai e criança
Educadores criticam sondagem pedagógica com candidato antes da matrícula
ROBERTA BENCINI
FLÁVIA MARTIN
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
Fila de espera, visitas, entrevistas com coordenadores, atividades de sondagem pedagógica -em alguns casos, com cobrança de taxa- e sorteio de
vagas. Essas são as principais
etapas enfrentadas na via-sacra
que é matricular um filho nas
primeiras colocadas no ranking
do Enem na capital paulista.
Mesmo com a ansiedade das
famílias, que chegam a procurar a escola com um ano de antecedência, a resposta final só
costuma sair no fim do ano.
Elisabeth Braga, 37, espera
desde maio por uma vaga para
Natália, 5, no Albert Sabin, onde já está a sua filha Carolina, 9.
"Facilitaria muito a minha vida
levar as duas para a mesma escola, mas preciso de um "plano
B" caso não consiga vaga."
Na maioria das escolas, o caminho começa com o agendamento de visita e continua com
uma reunião sobre o projeto
pedagógico. Antes da matrícula, vem uma etapa que suscita
críticas: uma atividade com a
criança, chamada de sondagem
pedagógica ou vivência.
Em grupo ou individualmente, as crianças são observadas
por professores e auxiliares em
atividades que podem ser de
pintura, desenho, escrita e
brincadeiras ao ar livre. A atividade vai de duas horas a uma
manhã ou tarde inteira.
Os colégios alegam que querem conhecer melhor o candidato. Mas Gisela Wajskop, ex-coordenadora de educação infantil do Ministério da Educação e diretora do Instituto Superior de Educação Singularidades, afirma que "há outros
interesses em jogo".
"Se a demanda é grande, as
escolas acabam por usar a sondagem para escolher os alunos
que já estão alfabetizados para
não ter muito problema e manter o lugar de destaque da escola quando o aluno chegar ao ensino médio", diz Gisela.
O Vértice é o único que assume o caráter classificatório da
atividade. "A vivência é um critério levado em consideração
para desempate. Observamos
como a criança se porta junto
aos colegas, se está incomodada
e se tem facilidade para interagir com todos", diz o diretor
Adilson Garcia.
"Quando temos mais candidatos do que vagas, fazemos
uma vivência, colocamos um
lápis na mão da criança e analisamos se ela já tem maturidade
suficiente para ingressar no ensino fundamental", diz Sylvia
Gouvêa, diretora do Lourenço
Castanho, que nega que o processo seja classificatório.
Em 2003, após constatar a
aplicação do vestibulinho para
ingresso no fundamental, o Ministério Público Federal pediu
uma posição do Ministério da
Educação, que proibiu qualquer seleção nessa fase. A decisão teve como origem um parecer da própria Sylvia, que, na
época, fazia parte do Conselho
Nacional de Educação.
A orientação foi que as escolas fizessem suas escolhas baseadas, principalmente, em
sorteio e ordem de inscrição, e
que deixassem claro os outros
critérios considerados em caso
de excesso de procura.
Magda Soares, livre-docente
da Universidade Federal de Minas Gerais e uma das principais
pesquisadoras do país em alfabetização, diz que compreende
a "posição das escolas quando
há muita procura", mas discorda da solução encontrada pelos
colégios. "Fazer a seleção pela
maturidade é o pior critério
que se pode ter. Se a criança
tem a idade mínima exigida, está pronta para estudar. É a escola que precisa se adaptar aos
alunos que estão em diferentes
níveis da escrita, e não o contrário", diz Magda.
Nenhuma das escolas procuradas aplica a provinha atualmente. Mas elas privilegiam
quem tem irmãos na escola, é
filho de professor, mora perto e
tem pais "interessados" na educação dos filhos, já que eles são
"potenciais parceiros" na formação escolar do aluno -um
critério pouco claro e objetivo.
Na maioria dos casos, se houver
empate, é feito um sorteio.
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